Edição 349
A gestão dos fundos multimercados da SPX Capital classificados como excelentes no ranking de Investidor Institucional conseguiu identificar, ainda em 2021, uma mudança no discurso dos bancos centrais e antecipar que o aperto monetário viria mais forte. “Os discursos foram mudando aos poucos porque no primeiro momento eles previam juro zero indefinidamente”, observa Bernardo Meres, sócio e portfolio manager. Em seguida, esse discurso passou a abordar a hipótese de manter o juro neutro para só mais tarde assumir que seria preciso atingir um patamar acima das expectativas. “A nossa alocação conseguiu prever essa mudança. Vimos isso em diversos países e fizemos posições naqueles que estavam mais próximos desse movimento, para depois ir migrando”, diz.
O maior ganho das carteiras veio, portanto, dos mercados de juros mas também das operações com moedas. “O crescimento dos EUA, com destaque frente a outros países desenvolvidos, fortaleceu o dólar e quando esse movimento elevou os preços das commodities, o portfólio estava comprado para esperar pela retomada. “Nossa visão de política monetária é muito centrada em dois pilares: pesquisa sobre economia para fugir dos discursos dos bancos centrais e podermos focar mais naquilo que projetamos. O segundo pilar é a busca de muita vantagem nos preços, só nos envolvemos quando acreditamos que o preço esteja muito deslocado porque as coisas mudam rápido”, afirma Meres. Essa vantagem aconteceu no caso da alta do juro porque o mercado apostou na ponta oposta, de taxas muito baixas.
Em 2022, a gestão dos fundos gerou muito retorno em posições tomadas em juro dos EUA mas em junho já estava zerando essas posições porque há diversas variáveis de atividade econômica a considerar. “Saímos do juro americano quando ele chegou a 3% porque já não víamos mais vantagem, mas hoje não há mais uma situação tão uniforme em relação às políticas monetárias porque vários bancos centrais já apertaram e há diversas fontes de aperto monetário encomendadas.
O ajuste fino já foi feito, mas há lugares que ainda estão atrasados, então estamos com posições mistas”, explica o gestor da SPX. A perspectiva agora não mostra uma direção única no cenário global mas uma série de situações diferentes combinadas. A energia na Europa vai gerar desaceleração forte, enquanto a China também tem problemas criados por sua política de Covid zero e novos lockdowns. “O mundo está fraco e a direção global é diferente do que vimos um ano atrás”, diz.
No mercado doméstico, a avaliação da gestora é de que o BC, que começou o aperto do juro antes do resto do mundo, foi muito agressivo nos últimos meses mas isso ainda não bateu na atividade econômica. “Já achávamos excessivo o aumento da Selic saindo de 2% para 13,75%, estava na hora de parar antes de ter chegado a isso e esperar para ver o efeito porque não é bom ser muito extremo”, afirma. O impacto do juro por aqui virá a partir do último trimestre deste ano, trazendo um cenário de contração para 2023, inflação em queda, commodities fracas, incertezas fiscais e dúvidas sobre o impacto dos estímulos concedidos agora pelo governo sobre a receita fiscal. “O cenário seria de forte corte do juro em 2023 se não houver deterioração das contas públicas, mas há muita incerteza”, conclui Meres.
O fundo multimercados de investimento no exterior Franklin Templeton QP8 FIM IE, customizado para a Quanta Previdência, integra uma unidade de negócios focada em investment solutions que a gestora global quer expandir no Brasil, voltada em sua maior parte para os fundos de pensão. Sob o comando de Daniel Popovich, ex-JGP, a unidade tem R$ 1,1 bilhão de gestão contratada, quatro clientes e outros mandatos em negociação.
Classificado como excelente no ranking de 12 meses, esse fundo evitou superexposição em classes de ativos com maior risco nesse período, diz Popovich, e teve menor peso em Europa, além de reduzir os papéis de growth nos EUA, uma decisão que aliás favoreceu todos os mandatos da casa. Gestão de risco e diversificação foram os principais fatores para o desempenho dos fundos nesse período difícil nas condições macro. “Em meados de 2021, já começamos a questionar as decisões de investimento nos mercados no pós-pandemia, antes que os bancos centrais assumissem posições mais hawkish”, conta.
No momento, a perspectiva é de que a inflação americana atinja um pico no último trimestre deste ano e, depois disso, estudos mostram que a bolsa nos EUA poderá ser positiva. Nosso posicionamento está menor, porém não muito pequeno em renda variável. Na renda fixa, olhamos muito os prêmios de risco que a classe oferece e alguns estão bem atrativos, desde que haja boa seleção”, diz Popovich.
A asset projeta 60% de chance de haver recessão nos EUA em 2023, o que levará a uma revisão para baixo no lucro esperado das empresas, mas avalia alguns setores que poderão ser beneficiados por estímulos fiscais. “Nos emergentes estamos neutros, hoje com viés positivo apenas para China porque o governo deverá afrouxar as condições monetárias e está mais estimulativo na área de negócios”, afirma o gestor. Mas há restrições a esse posicionamento porque a China passa por muitas dificuldades de crescimento e agora enfrenta também questões geopolíticas importantes com a situação de Taiwan e o posicionamento dos EUA no assunto.
A gestão dos multimercados da Ibiuna entendeu que a retirada dos estímulos monetários e a alta dos juros começariam antes nos países emergentes, porque eles não conseguiram empurrar a situação inflacionária por mais tempo, e seus fundos ficaram comprados em inflação. Foram as posições tomadas em juros e inflação, primeiro nos emergentes e depois nos países desenvolvidos, as responsáveis pelo desempenho. Apostamos em posições tomadas em juros do Chile e, no segundo semestre, passamos a fazer isso em relação à Polônia e República Checa até que, no final do ano, assumimos posições em Israel”, conta o sócio Caio Castro.
Os multimercados da asset que aparecem classificados como excelentes são feeders da mesma estratégia. Ele observa que 2022 tem sido o ano dos big buyers, a começar pelos EUA, e a aposta da casa é no juro curto daquele país. As posições tomadas em juro americano foram o principal fator de ganho no primeiro semestre.
Esses movimentos foram viabilizados pelo acompanhamento rigoroso das diversas políticas monetárias e monitoramento de trinta bancos centrais no mundo, explica o gestor. “Tivemos um período de captação consistente, diferente da indústria, que segue perdendo dinheiro em multimercados e bolsa. São 36 meses em que temos conseguido nos destacar em operação de ciclos de política monetária”, diz o gestor.
A casa segue tomada em juro nos EUA porque acredita que o Fed ainda não concluiu sua tarefa e precisará fazer a inflação ceder. ”Sofremos um pouco no mês de junho mas eles têm sido agressivos durante todo o semestre e seguiremos tomados nessa posição”, diz Castro. Já nos emergentes, que fizeram o aperto monetário antes, começam a surgir oportunidades de virar a mão nos próximos meses. “O Brasil seria um desses mercados mas preferimos continuar fora e quase zerados por conta da volatilidade gerada pela eleição”, explica.
Os movimentos feitos pelas carteiras em Brasil têm sido apenas táticos, capazes de garantir uma posição estrutural e esperar por sinais mais claros. A trajetória da Europa está um pouco na esteira dos EUA com algum delay, tem também a variável da guerra a ser considerada. “Estamos tomados em Europa porque achamos que eles vão fazer um aperto monetário, então juros europeus e americanos são as duas principais posições hoje”, diz.
A aceleração da inflação no mundo foi o grande driver dos 12 meses até junho, com o agravante das pressões trazidas pela guerra da Ucrânia, no primeiro trimestre de 2022. O conflito atrapalhou ainda mais as cadeias produtivas e deu outra feição à questão inflacionária, avalia Luiz Sedrani, CIO da BV Asset, gestora com três fundos multimercados e três de renda fixa como excelentes no ranking. No início deste ano, o Brasil já tinha seis meses de alta da Selic quando EUA e Europa reconheceram a necessidade de começar a puxar seus juros para cima. “Essa expectativa já estava em nosso radar mas a guerra acelerou o processo”, diz.
No mercado doméstico, há ainda o fator adicional do ambiente eleitoral, o que envolve a eleição em si mas também a preocupação com os gastos públicos, que acabaram sendo maiores do que o esperado. “Daqui para a frente o cenário deve seguir conturbado, mas o ciclo de alta do juro por aqui parece próximo de terminar, enquanto nos EUA, Europa e Canadá ele deve continuar”, diz. De quatro grandes zonas mundiais, Europa, EUA, China e Japão, as três primeiras têm problemas de inflação e o Japão não cresce. Diante desse ambiente, a volatilidade tende a ser elevada.
Em 12 meses a asset seguiu à risca o seu processo de investimentos, olhando para os cenários, e tratando de diversificar mais as carteiras. Em alguns fundos, aumentou a duration de crédito, com acompanhamento diário, até 2023. Fazer uma leitura correta do mercado e focar bem o dia a dia, acompanhando as cotas diariamente, é essencial porque o mundo passa por um período de ajuste muito forte e não sabemos quanto tempo vai demorar”, diz Sedrani. “A grande aposta é nos ativos de crédito privado mas dentro de dois a três meses vamos repensar o que será o Brasil e o que esperar em 2023 sob a ótica da economia americana, para saber se as variáveis irão se acomodar”.
As preocupações devem ceder nos EUA e, no mercado doméstico, acabará a volatilidade da eleição. Ele não vê chance de rupturas no próximo governo, uma probabilidade que não está sendo precificada pelo mercado hoje, mas o compasso é de espera e expectativa em relação à composição do próximo Congresso, que será essencial.
Melhores gestores em Multimercados (arquivo em pdf)