O ano dos multimercados | Segmento se beneficiou com maior entrad...

Edição 301

 

Performance dos Gestores (em pdf)

O segmento de multimercados foi destaque para o mercado de fundos de investimento em 2017. Segundo dados da Morningstar que não incluem fundos exclusivos, esse segmento recebeu um fluxo de capital novo de R$ 34 bilhões no ano passado, o que representa cerca de 30% de um patrimônio total de R$ 119,3 bilhões. O forte direcionamento de capital para esses fundos se deve principalmente à queda das taxas de juros, que fez com que os investidores buscassem outras alternativas à renda fixa, que por sua vez registrou resgates de R$ 7,3 bilhões em 2017. Já a renda variável obteve novos aportes de R$ 8,4 bilhões, o que representa 13% do patrimônio total do segmento.
De acordo a Morningstar Brasil, que fez o levantamento e o rankeamento dos Melhores Fundos de Institucionais (ver critérios na página seguinte), os gestores com produtos multimercados tiveram grandes fluxos positivos no ano passado. “Os investidores estão resgatando seus recursos do segmento de renda fixa para alocar em outras classes de fundo, sendo que a maioria está migrando para multimercados”, destaca o gerente de negócios da Morningstar no Brasil, Clark Ainsworth. Segundo ele, isso se explica pelo cenário macroeconômico e busca por rentabilidade por parte do investidor, além da musculatura comercial dos distribuidores. “Isso deu aos gestores independentes um grande crescimento. Casas como XP, Órama, Easynvest, Guide e Mirae impulsionaram o acesso a esses fundos de assets independentes”, explica.
As grandes gestoras também se beneficiaram da movimentação dos multimercados. Líder desta edição do ranking Melhores Fundos, com 38 fundos excelentes, a Bradesco Asset Management (Bram) contabilizou 7 fundos multimercados considerados excelentes.
No levantamento, os multimercados que se destacaram se beneficiaram principalmente da renda fixa, com posições em ativos pré-fixados que geraram bons retornos pelo fechamento da curva de juros, em linha com a redução na Selic promovida pelo Banco Central (BC). “O mercado de juros foi o que teve o movimento de maior amplitude e acabou sendo a principal contribuição para o retorno no período”, aponta o CEO da Garde Asset, Marcelo Giufrida.
A Bahia Asset também atribui 80% do retorno obtido em 2017 pelos seus multimercados à renda fixa, com os 20% restantes originados principalmente de posições compradas em bolsa. “Em função da expectativa gerada pela retomada da economia e pela queda dos juros, as posições direcionais compradas no setor de consumo discricionário foram as que se mostraram mais acertadas durante o ano passado”, conta o gestor de ações da Bahia Asset, Gustavo Daibert
Na SulAmérica, além das operações com títulos públicos, ativos de crédito privado também tiveram contribuição importante para os ganhos dos multimercados da casa. “Com a conjuntura econômica melhorando como um todo, o mercado se recuperou e tivemos um cenário mais positivo para os ativos de crédito”, recorda o vice-presidente da SulAmérica Investimentos, Marcelo Mello.

Renda fixa – Apesar dos resgates, os fundos de renda fixa continuam detendo a maior parte do patrimônio líquido da indústria, sendo que apenas os fundos de títulos públicos acumulavam R$ 680,7 bilhões em 2017, segundo a Morningstar. O diretor-executivo de gestão de ativos da BB DTVM, Carlos André, destaca que o principal marco do ano passado foi a queda da taxa básica de juros. “As casas que conseguiram fazer uma boa leitura do comportamento da curva de juros no ano passado tiveram um desempenho positivo tanto nos fundos com prerrogativa de assumir risco na sua estrutura, quanto nos fundos indexados. A renda fixa, de maneira geral, teve comportamento e risco controlado, com prazos mais curtos de vencimento”, destaca.
A Bradesco Asset Management destaca que a queda da Selic beneficiou os fundos com componente de risco, e esse ano o cenário deve se repetir com melhor retorno para os fundos com mais juro real e fundos pré-fixados. “Em 2018, o cenário parece mais tranquilo e, em se verificando um ambiente otimista, poderíamos ter espaço para ganhos de juros. Não devemos ter alta das taxas, então os fundos de renda fixa pré-fixados e juros reais devem ter mais ganhos”, aponta o diretor de investimentos da Bram, Ricardo Almeida.
Para a Itaú Asset Management, 2017 foi um ano bastante desafiador em termos de volatilidade, mas com oportunidades encontradas principalmente pela queda forte da inflação e pela consequente redução dos juros além do esperado pelo mercado. “A asset do Itaú acertou na expectativa da NTN-Bs em relação à queda da inflação, mas o ano terminou melhor do que esperávamos”, diz o especialista em portfólio da asset Rodrigo Noel.

Renda variável – Os fundos de renda variável foram os que obtiveram melhor retorno no ano passado, de acordo com a Morningstar. A rentabilidade dos fundos de ações mid caps e small caps foram destaque. Os multimercados com renda variável também alcançaram boa rentabilidade, entre 24,8% e 26,5%, ficando um pouco abaixo do índice da bolsa.
A retomada da economia observada em 2017, impulsionada por medidas como a liberação do FGTS, favoreceu os fundos de renda variável que investem no setor de consumo. Segundo o gerente nacional de fundos de renda variável da Caixa Econômica, Camilo Cavalcanti, já no início de 2017 os especialistas do banco já tinham uma visão de que no decorrer do ano haveria uma recuperação da economia puxada pelo ciclo de corte nos juros combinada com uma desinflação significativa. “Em função dessa leitura, entendemos que as empresas do setor de varejo estariam entre as grandes beneficiárias do ambiente econômico previsto e teriam peso relevante no portfólio e nos resultados dos dois fundos do banco selecionados pelo levantamento no ano passado, de consumo e small caps”, diz Camilo Cavalcanti.
O ambiente favorável também fez com que a carteira do fundo de small caps da asset do BNP Paribas tivesse, ao longo dos últimos meses do ano, peso relevante em ações de consumo e também em papéis do setor industrial. O gestor responsável, Marcos Kawakami, lembra que foi um período desafiador para que os gestores conseguissem superar o benchmark da bolsa. “No ano passado o índice de small caps da B3 subiu 49,3%, enquanto o fundo da gestora teve ganhos de 44,9%”.

Fundos offshore – Os fundos offshore tiveram grande crescimento durante 2017. A Morningstar aponta que 85 fundos locais – também chamados de feeder funds – investiram em veículos no exterior no ano passado, sendo que o patrimônio líquido desses feeders saiu de R$ 6,4 bilhões em janeiro para R$ 17,5 bilhões em dezembro. O grande boom do segmento ocorreu a partir de maio, quando denúncias de corrupção contra o presidente da República Michel Temer vieram à tona. “O investidor percebeu a volatilidade do mercado local”, explica Clark Ainsworth.
O interesse maior por esses fundos internacionais é a diversificação e a não correlação com o mercado local, além do acesso a gestores internacionais, complementa Ainsworth. “Fundos de pensão estão começando a se interessar mais por investir fora do país”, destaca o executivo.