Edição 286
Os melhores nos multimercados (em pdf)
O período analisado pelo ranking de melhores fundos para institucionais teve dois cenários bem diferentes. De julho a dezembro de 2015 a percepção do mercado estava bastante negativa, principalmente por fatores internos, com a crise política e econômica, mas também em função das incertezas decorrentes do front internacional. Com a virada do ano, conforme ocorreram as mudanças no âmbito doméstico, com a troca de governo, e com a redução das incertezas no cenário global, a visão dos gestores, em função da mudança relevante das perspectivas, se refletiu em estratégias diferentes nos fundos no primeiro semestre de 2016.
A J. Safra Asset ficou na primeira colocação na categoria de multimercados, com dez fundos considerados excelentes. Em segundo lugar no levantamento aparece a Bradesco Asset Management (Bram), com sete fundos, e em terceiro, com três fundos cada, ficaram empatados BB DTVM, Kondor, Opportunity e Santander.
“O período avaliado foi bastante complexo, para dizer o mínimo, porque tivemos um mercado bstante tenso no segundo semestre do ano passado, quando a percepção de risco cresceu bastante de forma geral, não só por problemas do Brasil mas também por eventos globais. E a partir de meados do primeiro semestre o mercado teve um outro tipo de comportamento”, afirma Fabiano Godói, responsável pela asset do J. Safra. “No momento certo conseguimos estar mais protegidos, e em momentos mais adequados com posições mais otimistas”.
Um dos fundos da gestora com classificação excelente foi o multimercado macro Galileo, bem conhecido no mercado. Também foi considerado no estudo o Galileo Special. A diferença entre eles, é apenas a taxa de administração.
Sobre a estratégia macro adotada pelos fundos no período analisado, o profissional da J. Safra Asset lembra que são produtos que podem transitar por vários mercados diferentes, como bolsa, renda fixa e moedas, tanto no Brasil como no exterior. O gestor ressalta que, seja para os dois fundos já citados, seja para os demais fundos incluídos no levantamento, a casa sempre parte de uma avaliação do cenário macroeconômico, tanto global quanto local, e as estratégias são construídas baseadas no que os gestores consideram como o mais provável de se concretizar.
Todas as composições de carteira de cada um dos fundos da asset, reforça Godói, obedecem o princípio de avaliar como podem se beneficiar do cenário macro mais provável projetado pela equipe do banco, e que ao mesmo tempo sejam robustos o suficiente, ou seja, vão ter salvaguardas suficientes para se proteger de momentos em que há mudanças rápidas das condições, e da volatilidade, sem que haja grande mudança de cenário.
Estratégias específicas – Entre os fundos de estratégias mais específicas com avaliação excelente pelo ranking, o gestor do J. Safra cita o Currency Hedge e o Kepler. O Kepler é um fundo que adota a estratégia long (posições compradas) e short (posições vendidas), e que concentra sua atuação no mercado brasileiro de ações. “Procuramos não ter uma exposição direcional à bolsa, de forma que se a bolsa subir ou cair não vai afetar a performance do fundo”.
Em relação ao Currency Hedge, como o próprio nome do veículo já deixa subentendido, trata-se de um fundo em que os gestores operam moedas, ao tentar refletir aquele mesmo cenário macro global e local que dá base para toda a filosofia de investimento da asset, mas através dessa classe de ativo especificamente. “Obviamente não estamos falando exclusivamente da relação dólar real, mas de várias outras moedas que entram na estratégia do produto, de mercados de países desenvolvidos e emergentes”.
A J Safra Asset teve ainda três fundos selecionados no levantamento que também seguem a mesma estratégia, que são o S&P, S&P Special e S&P Top.
Exterior – Na BB DTVM, os três fundos multimercados considerados excelentes pelo ranking são veículos que se posicionam em ações globais, sendo que em dois a gestão não é feita pela gestora do Banco do Brasil; o BB Multimercado Nordea e Blackrock, nos quais o banco brasileiro é o responsável apenas pela distribuição dos feeders no país. “No caso desses dois fundos tem menos mérito nosso, são fundos que replicam 100% das estratégias de nossos parceiros no exterior”, afirma Marcelo Pacheco, gerente executivo de fundos multimercados e offshore da BB DTVM.
O papel da asset do BB nesses fundos, ressalta Pacheco, foi ter feito um trabalho de due diligence e selecionado uma gama de gestores para montar no Brasil feeders que teriam apelo junto aos investidores locais.
Em relação ao outro fundo multimercado da BB DTVM selecionado no levantamento, o Multimercado Equity Allocation Investimento no Exterior, trata-se de um fundo de fundos no qual a asset do BB faz uma gestão ativa na escolha das assets que irão compôr o portfólio. Entre os possíveis gestores que podem ser selecionados para o fundo, estão as casas com as quais a BB DTVM tem os feeders, mas as opções não se limitam somente a elas. “Nosso universo de parceiros é bem maior do que a quantidade de feeders”, diz Pacheco. Hoje o fundo tem quatro gestores em seu portfólio.
Juros – Na Santander Asset, três fundos multimercados tiveram avaliação verde, sendo que um deles adota como estratégia o investimento no exterior, o Global Equities. Os outros dois, Performance Top e Performance Fix, que seguem a mesma gestão, apenas com diferenças sobre o perfil de investidores em cada um deles, a estratégia que rendeu mais de 80% dos resultados veio do mercado de juros. “A performance desses fundos no segundo semestre de 2015 ficou na média. A diferenciação aconteceu no primeiro semestre de 2016, pela antecipação de um cenário mais benigno”, afirma Eduardo Castro, chefe de investimentos da Santander Asset Management Brasil.
A partir de janeiro, a percepção da equipe de gestão de multimercados da gestora do Santander passou a avaliar que estavam sendo criadas condições para que houvesse um importante ajuste na curva de juros futuros da BM&F, seja pela melhora das expectativas no cenário internacional ou no local. Como referência, Castro lembra que no começo do ano o contrato DI para janeiro de 2021 estava em 16,5%, percentual que hoje roda na casa dos 11,5%. “Os gestores que perceberam logo no início do ano que o cenário seria positivo para os juros acabaram se diferenciando”.
Ainda que o cenário no começo do ano indicasse uma melhora do ambiente à frente, o grau de incerteza ainda elevado levou a Santander Asset a um posicionamento maior nas NTN-Bs no periodo. Conforme melhorou a visibilidade, com a percepção sobre uma queda da curva de juros ganhando força, a gestora passou a aumentar sua exposição aos títulos pré-fixados para tirar proveito do movimento dos juros futuros. Além disso, a duration do portfólio também foi remanejada conforme melhorou a percepção da asset sobre o desenrolar dos eventos locais e globais no radar. “Começamos o ano com uma duration mais curta, e com posições de risco medianos, e ao longo do ano aumentamos não só o prazo mas também o risco propriamente dito”.
Em relação ao fundo Global Equities, o veículo tem sua maior participação, em linha com o benchmark seguido, o MSCI Global, nos mercados desenvolvidos, com cerca de 80% de exposição em Estados Unidos, Europa e Japão.
Perspectivas – Em relação ao que deve nortear as estratégias dos fundos daqui em diante, Godói, da J. Safra avalia que estamos em um momento de decisões importantes. Em termos locais, ele recorda que há várias propostas de mudanças na Constituição que já foram ou serão enviadas ao Congresso. “A depender dos resultados dessas votações que tem para acontecer podemos ter situações mais ou menos favoráveis para a economia doméstica”.
Dessa mesma forma, no cenário internacional, pontua o especialista, também vamos viver algumas situações relevantes ao longo dos próximos meses, como por exemplo as eleições presidenciais nos Estados Unidos, e as decisões de política monetária de vários bancos centrais dos países desenvolvidos. “Teremos uma série de eventos que vão acontencer em poucos meses que possivelmente vão determinar qual caminho as economias tanto dos países desenvolvidos quanto a local tendem a seguir”, diz o executivo. “O momento é de avaliar os resultados dessas situações para tomar uma posição mais firme numa direção ou em outra”.