Edição 270
A presente edição do ranking de melhores fundos para institucionais mostra 136 fundos verdes, de um total de 644. É uma importante redução em relação à edição anterior, que teve 207 fundos com classificação verde, de um total de 602. Em parte, os cenários doméstico e externo afetados negativamente pela forte volatilidade do ano passado, pressionaram o desempenho dos fundos, sobretudo dos multimercados – com apenas 18 fundos excelentes. Por outro lado, houve a mudança na metodologia de classificação dos fundos, realizada pela Luz Soluções Financeiras, em parceria com a Investidor Institucional. Novas classes, estratégias e diferenciação da gestão ativa e passiva, trouxeram maior detalhamento para a elaboração do ranking. Ao mesmo tempo, que gerou maior rigor na análise, o que influenciou na determinação das notas dos fundos (ver box).
“A nova metodologia inclui a definição de uma nota de corte para cada classe de fundos. Algumas classes mais afetadas pelo mercado no ano passado, ficaram sem nenhum ou com poucos fundos verdes”, diz Maria Paula Cicogna. A renda fixa também ficou com menor número de fundos excelentes, apenas 37 contra 84 do levantamento anterior. Já a renda variável emplacou 81 fundos verdes, superando o último ranking, que teve 65. “O destaque deste levantamento ficou com a renda variável, com boa presença de gestores independentes e fundos com estratégias top down e total return, descorrelacionadas dos índices tradicionais”, indica Maria Paula.
A nova metodologia, porém, não tirou o brilho dos principais gestores, com a BB DTVM alcançando o maior número de fundos verdes desta edição do ranking, seguida pela Santander Asset Management. A asset do Banco do Brasil ficou com 19 fundos verdes, enquanto a do Santander marcou 14 com classificação excelente. Na sequência aparecem Bram (Bradesco Asset Management) com 12 fundos verdes, HSBC, com 7, e BTG Pactual com 6 fundos excelentes, fechando os cinco primeiros na colocação geral. Em seguida aparecem a BlackRock e o BNP Paribas, ambos com cinco fundos verdes cada; seguidos pela Geração Futuro (GF) e XP Investimentos, com quatro cada.
A liderança do ranking obtido pela BB DTVM é creditado como resultado da integração entre as áreas de análise e gestão ocorrida na asset há quatro anos. “Ganhamos maior agilidade e sinergia entre a gestão e a análise”, diz Jorge Ricca, chefe da equipe de renda variável da BB DTVM. Outro fator preponderante na evolução da asset foram os investimentos em capacitação da equipe. “Como não podíamos contratar pessoal do mercado, focamos nos investimentos em capacitação”, comenta o gestor.
Ricca comemora o número de fundos verdes de ações, 13 no total, que garantiu a primeira posição da asset na categoria. A asset do Banco do Brasil mantém 28 profissionais na renda variável, sendo 12 analistas, 14 gestores e dois gerentes. “Conseguimos avançar com produtos competitivos tanto de gestão passiva quanto ativa”, comenta. Ele ressalta a diversificação do portfólio, dando como exemplo, o lançamento do primeiro ETF da casa, um fundo indexado ao S&P dividendos.
A BB DTVM também se destacou na categoria de multimercados, na qual emplacou três fundos excelentes, todos eles com alocação de 100% dos ativos exterior. São três feeders lançados em parceria com assets globais que mantêm escritórios no Brasil e estão voltados para fundos de pensão. “Os fundos tiveram excelente desempenho no ano passado, que continua em 2015, por causa do câmbio e da rentabilidade das bolsas dos principais mercados internacionais. Foi uma somatória de fatores que alavancou nossos fundos no exterior”, diz Marcelo Marques Pacheco, gerente executivo de fundos multimercados e offshore.
O gestor diz que alguns fundos de pensão que não fizeram alocações nos fundos no ano passado, acabaram se arrependendo. “Chegamos a alertar que o câmbio iria andar e que era o momento certo para entrar. Alguns agora dizem que estão arrependidos”, conta o gerente da BB DTVM.
As opções de produtos com ativos no exterior da asset não se limita aos fundos em parceria com as gestoras globais. A BB DTVM também trabalha com um fundo, lançado no final de 2014, o BB Equity Alocation, em que a própria equipe da gestora realiza a seleção de fundos no exterior. “Elaboramos um modelo próprio de alocação para selecionar gestores e fundos no exterior”, diz Pacheco. O fundo aloca recursos em cinco a dez fundos de mercados internacionais.
Na vice-liderança geral do ranking ficou a Santander Asset Management, com 14 fundos considerados excelentes. O destaque ficou na modalidade de renda fixa, com seis fundos verdes, o que garantiu a liderança da asset do Santander (ver matéria renda fixa). A gestora também ficou bem posicionada na renda variável, com seis fundos excelentes.
Eduardo Castro, superintendente de fundos de investimentos da Santander Asset Management aponta que as fundações, sobretudo aquelas com maior apetite ao risco, optaram pelo aumento da alocação em fundos compostos por papeis de inflação com prazos mais curtos. Tem sido uma forma de capturar um ganho adicional com o aumento da pressão inflacionária, que impulsiona a rentabilidade desses ativos, que são indexados aos IPCA.
Mais exterior – O HSBC Gestão de Recursos foi outra asset que se destacou com a quantidade de fundos no exterior considerados excelentes. Do total de sete fundos com classificação verde da asset do HSBC, que garantiram a quarta colocação no ranking geral, cinco deles são produtos de renda variável com alocações no exterior. “O ano passado foi um período bastante desafiador para a economia doméstica. Em compensação, no âmbito externo, a economia dos Estados Unidos aumentou o ritmo de recuperação”, comenta Alcindo Canto, diretor executivo da asset do HSBC. O executivo explica que os fundos internacionais da asset foram beneficiados pelo valorização dos ativos da bolsa americana, ao mesmo tempo que contou com a ajuda do movimento de câmbio.
“Como nossos fundos não realizam hedge de câmbio, foi benéfico manter exposição ao dólar, que se valorizado ante outras moedas”, explia Canto. Para potencializar a gestão dos fundos, a equipe brasileira tem aproveitado a estrutura global do HSBC para oferecer uma série de produtos que seguem estratégias em diferentes mercados. É a família global que tem fundos que seguem tanto benchmarks de mercados desenvolvidos, como o MSCI World, quanto índices de emergentes e mercados de fronteira. A família é oferecida tanto para clientes private e varejo quanto para institucionais (fundos de pensão).
O carro-chefe da asset nessa família é o fundo Global Developed, que já conta com aplicações de 12 fundações. “Já percebemos o movimento de diversos fundos de pensão que estão incluindo o índice MSC World como benchmark de uma parte de sua carteira de investimentos”, diz o diretor da asset do HSBC. “A vantagem para a fundação que aloca no exterior é a complementariedade com a bolsa doméstica. Os fundos no exterior alocam em setores como financeiro, saúde e consumo discricionário cujas empresas não estão representadas na bolsa doméstica”, comenta Canto.
A Bram (Bradesco Asset Management) também teve a classificação de dois fundos no exterior, de um total de 12 produtos com classificação verde, o que garantiu a terceira da asset no ranking geral. Os dois fundos da Bram nesta categoria, o Europa e o Australásia, entraram na classe de multimercados. “Percebemos aumento da demanda dos fundos de pensão pelos investimentos no exterior. Começou com nosso fundo de BDRs e depois passou para outros produtos que investem no mercado europeu e asiático”, diz Luís Guedes, gestor sênior responsável por investidores institucionais da Bram.
Com exceção dos fundos no exterior, os fundos de pensão estão adotando políticas mais conservadoras em 2015, segundo conta o gestor da Bram. “As fundações já estavam reduzindo a alocação em renda variável no ano passado. Em 2015 o movimento foi reforçado, devido à pauta de ajustes da economia da nova equipe do governo”, aponta Guedes. O gestor identifica ainda um processo de maior diversificação na renda variável, com tendência de redução da exposição aos índices tradicionais, e migração para fundos de valor e dividendos.
Renda variável – Marcelo Flora, sócio e responsável pela área de distribuição da asset do BTG Pactual, confirma a preferência dos fundos de pensão por estratégias mais ativas na renda variável. “Temos percebido um amadurecimento cada vez maior do mercado de fundações na busca de maior exposição em fundos com gestão ativa”, diz o executivo. Ele ressalta o aumento da demanda, ou pelo menos, a manutenção das alocações em fundos da casa, como o Absoluto e o Dividendos (ver matéria renda variável).
Por outro lado, Flora reconhece que as fundações têm reduzido o apetite pelos fundos multimercados estruturados, também conhecidos como hedge funds, pelo menos no ano passado. “Em um cenário mais incerto, com a economia conturbada, não são numerosos os fundos do mercado que conseguem bom desempenho”, comenta Flora. Ele ainda aponta o baixo limite permitido pela regulamentação dos investimentos dos fundos de pensão para os multimercados estruturados como empecilho para a alocação nesta classe de produtos.
Novas classes para os fundos de investimentos
A presente edição do ranking Melhores Fundos para Institucionais marca a estreia da nova metodologia de análise utilizada pela Luz Soluções Financeiras. A nova classificação da consultoria coincide também com a mudança na metodologia utilizada pela Anbima para analisar os fundos da indústria (ver nota). A classificação da Luz, porém, é muito mais detalhada, com a presença de 63 classes de fundos no total. O novo sistema da consultoria começa com a separação dos fundos em 10 classes mais genéricas – renda variável, renda fixa, multimercados, fundo de fundos, imobiliários, exterior, direitos creditórios, distressed, moedas e participações.
Em um segundo nível de análise, os fundos são diferenciados pela gestão alfa (ativa) e beta (passiva). Neste quesito, os próprios gestores informam o tipo de gestão de cada fundo. Por fim, em um terceiro nível, são apontadas estratégias específicas de cada classe de fundos. Outra mudança na metodologia da Luz, é o período de análise de performance dos fundos, que subiu de 12 meses para 24 meses. Além dos fundos no exterior, outras novidades foram a entrada dos ETFs (Exchange Traded Funds) e os estruturados, que ficaram divididos nas grandes categorias de renda fixa, variável e multimercados. Com isso, aumentou o universo total de análise de fundos da indústria de gestão de recursos.
Apesar do aumento do número de fundos analisados, a quantidade de produtos com classificação excelente acabou sofrendo redução em comparação com os rankings anteriores. Além da mudança de metodologia, os consultores da Luz apontam a própria dificuldade dos mercados em 2014 como fator para redução da quantidade de fundos verdes. “Algumas classes de fundos tiveram poucos fundos verdes ou, em alguns casos, nenhum fundo excelente. Os mercados realmente derrubaram o desempenho dos fundos no ano passado”, diz Cecília Harumi, consultora da área de compliance da Luz Soluções Financeiras.
A especialista aponta dificuldades, por exemplo, com os fundos multimercados que sofreram com a falta de direção definida dos mercados de câmbio e juros em 2014. “Os multimercados tiveram uma redução sensível no número de fundos verdes. Faltou uma direção mais clara de cenários no ano passado, por isso, muitos fundos derraparam e tiveram forte movimento de resgate de recursos”, diz Cecília.
Em situação oposta, na renda variável houve maior quantidade de fundos considerados excelentes, apesar de um cenário da bolsa doméstica que não gerou ganhos ao Ibovespa. Porém, tiveram destaque justamente os gestores e fundos com gestão descorrelacionada dos principais índices do mercado de ações doméstico.
Por fim, na renda fixa, também não houve grande quantidade de fundos com nota verde, porém, algumas classes tiveram destaque devido ao baixo número de fundos vermelhos. É o caso dos fundos com estratégia de títulos indexados à inflação com gestão beta.