Edição 264
A imprevisibilidade do mercado em ano de eleições e a expectativa frente ao aumento dos juros norte-americanos têm gerado forte volatilidade nos ativos de renda fixa e variável, motivando os gestores a recorrer a estratégias mais conservadoras em seus portfólios. Tanto nos fundos de renda fixa quanto nos multimercados, papéis de menor duration se revelaram as apostas de maior sucesso para garantir retornos acima do CDI. Nesses segmentos, o crédito privado e os fundos DI desempenharam um papel de destaque nas carteiras, estratégias que levaram o HSBC à liderança do ranking Melhores Fundos para Institucionais, elaborado pela Luz Soluções Financeiras, em parceria com a revista Investidor Institucional.
A gestora do HSBC subiu quatro posições em relação à edição passada e apresentou 21 fundos considerados excelentes, ou seja, com a melhor relação entre risco e retorno em doze meses. Destes, 11 são de renda fixa, três de renda variável e sete são multimercados.
Nesta edição, que abrange o período entre o segundo semestre de 2013 e os primeiros seis anos de 2014, o HSBC desbancou a Santander Asset Management (SAM), campeã do ranking anterior e atual vice-líder. A disputa, entretanto, foi bastante acirrada, com uma diferença mínima entre as duas. A SAM apresentou 20 fundos considerados excelentes nesta edição, uma a menos que a campeã. Na terceira posição, aparece o Itaú Unibanco com 14 fundos verdes, seguido por Safra Asset Management e Bram (Bradesco Asset Management), ambos com 12 fundos excelentes cada.
“O crédito privado teve um desempenho muito bom no período, com movimento de fechamento de taxas e emissões de qualidade. O mercado, contudo, está mais caro e, os prêmios de novas emissões, mais apertados. Ficamos de fora de várias oportunidades, mas, por outro lado, nossos estoques foram muito beneficiados”, afirma Guilherme Abbud, diretor de investimentos da asset do HSBC. Outro segmento de destaque foram os fundos DI. “Mantivemos posições relevantes em curva de juros, apostando que as taxas no Brasil estavam exageradamente altas”, complementa.
A diversificação, segundo destaca Abbud, foi a palavra de ordem este ano. As concentrações em uma mesma emissão não passou de 2% em cada fundo. “O que mudamos bastante no primeiro semestre foi a exigência por taxas. Deixamos muitas emissões boas de lado porque os prêmios não compensavam, mas conseguimos adquirir esses papéis no mercado secundário com taxas melhores, com o aumento do custo de funding ao longo do período”, explica Abbud.
O destaque negativo da renda fixa nesta edição foram os fundos de índices. Embora as rentabilidades do primeiro semestre tenham superado o CDI (leia mais no box), nos últimos seis meses de 2013 o cenário foi bem diferente, devido à forte volatilidade da família IMA. No período de doze meses, portanto, essa categoria ficou aquém do CDI, decepcionando os investidores. “O ano de 2013, marcado pela mudança drástica na precificação dos fundos IMA-B, deixou muitas cicatrizes nos nossos clientes e ainda não foi bem digerido pelo mercado. Em setembro deste ano, as rentabilidades voltaram a ficar negativas, por conta da reviravolta nas pesquisas eleitorais. Ao que tudo indica, 2014 também não será um ano fácil para os investidores”, diz Abbud.
Apesar de tudo, somente a renda fixa conseguiu apresentar retornos superiores ao principal benchmark do mercado brasileiro. Os fundos multimercados ficaram praticamente empatados com o CDI, destacando-se apenas as estratégias que foram mais pautadas no crédito privado. Já os fundos de renda variável registraram o pior desempenho do ranking, principalmente nos seis primeiros meses do ano, quando o retorno do segmento não conseguiu chegar nem à metade do CDI.
“Na renda variável, os fundos que adotaram uma postura mais conservadora, de gestão passiva, acabaram tendo um retorno melhor. Os que ficaram mais agressivos em relação ao benckmark neste ano acabaram tendo resultados piores do que aqueles que tentaram se aproximar mais”, analisa Eduardo Castro, diretor executivo da asset do Santander.
O primeiro semestre foi bastante pautado pelo mercado internacional, com a expectativa de aumento dos juros americanos e o fortalecimento generalizado do dólar frente às mais variadas moedas internacionais. “Esse movimento do dólar é de longo prazo e está trazendo ainda mais volatilidade para todos os emergentes, inclusive o Brasil”, ressalta Reinaldo Le Grazie, diretor de investimentos da Bradesco Asset Management. “A curva de juros futuros chegou a bater 11% duas vezes e 12% três vezes, o que demonstra o nível de nervosismo do mercado”, complementa.
Multimercados – No meio do caminho entre a renda fixa e a variável, os fundos multimercados conseguiram gerar rentabilidades semelhantes ao CDI. Os destaques da categoria foram os fundos de estratégia específica e os de multiestratégia, que superaram o benchmark.
Na asset do HSBC, campeã também nesta categoria, com sete fundos considerados excelentes, as carteiras de maior destaque foram aquelas com exposição ao mercado internacional. “As políticas de juros baixos ao redor do mundo são um incentivo para alocações de maior risco. Compramos ativos tanto em bolsa de países emergentes quando em mercados desenvolvidos, todos tiveram um desempenho bom”, afirma Abbud.
As fundações de previdência complementar ainda são minoria entre os cotistas dos fundos com ativos no exterior, mas têm demonstrado interesse maior por esse tipo de produto. “Os fundos de pensão estão testando a temperatura da água, então começaram a aplicar pouco no exterior. Além disso, a regulamentação, que determina que as fundações não tenham mais que 25% do fundo, dificulta o ingresso dos institucionais, mas a demanda está crescendo, ainda mais porque os ativos lá fora estão gerando retornos muito interessantes se comparados aos ativos na bolsa brasileira”, destaca.
Na visão do diretor de investimentos da asset do HSBC, o mercado tem reagido de maneira exagerada frente às expectativas de aumento dos juros norte-americanos. Para ele, ainda haverá bastante espaço para os ativos de maior risco no mercado internacional, com destaque para os papéis dos emergentes. “Minha visão é um pouco mais otimista. Acredito que ainda vai levar um tempo para que o banco central dos Estados Unidos retome o ciclo de alta dos juros. Também não vejo aumento tão cedo na Europa ou no Japão. Só em meados do ano que vem, provavelmente. Não me parece razoável, portanto, reagir tanto à normalização dos juros agora”, afirma.
Enquanto os ativos no exterior conseguiram gerar alfa para os investidores, a forte volatilidade do mercado doméstico tem dificultado retornos acima do benchmark nos multimercados. “A indústria, de forma geral, não conseguiu performar muito bem. Os multimercados de melhor desempenho do BTG Pactual foram aqueles que mais se beneficiaram do fechamento da curva de juros no primeiro semestre e do spread de crédito nos títulos privados”, analisa Marcelo Flora, sócio do banco e diretor de distribuição da BTG Pactual Asset Management.
Já os fundos multimercados com predominância no mercado de ações locais, as melhores performances dependeram de análises fundamentalistas. “O desafio, em ano de bastante volatilidade, é encontrar distorção de valores relativos entre empresas, independentemente de índices”, complementa Gustavo Hungria, gestor associado do BTG Pactual.
Nova classificação para o ranking
O próximo ranking Melhores Fundos para Institucionais, publicado pela revista Investidor Institucional com base em análise da Luz Soluções Financeiras, será elaborado com base na Classe LUZ de Fundos de Investimento. Essa nova classificação busca diferenciar os fundos de acordo com a estratégia dos gestores.
A motivação para a criação dessa nova classificação é a busca pela segregação dos fundos de investimentos de acordo com a filosofia de gestão empregada na escolha dos ativos e direcionamento da estratégia na escolha dos papéis, como holding period, maturidade dos ativos, tipos de empresas ou títulos, principais fontes de risco, público alvo (diferenciando fundos 3792), dentre outros.
Em uma comparação com a Classificação ANBIMA, por exemplo, a Classe LUZ é mais específica no que concerne aos fundos definidos como “Ações Livres” por entender que os fundos que aí estão não possuem a mesma estratégia de gestão. Por outro lado, a confusão na classificação de Fundos Multimercado Macro e Multiestratégia, que muitas vezes coloca em classes segregadas fundos com estratégias muito semelhantes, fez com que a classe Multimercados fosse repensada para ser mais objetiva.
Dessa forma, solicitamos que os Gestores, entrem em contato com a área de Previdência da LUZ Soluções Financeiras pelo email previdencia@luz-ef.com, para enquadrar seu(s) fundo(s) na nova classificação. Atente-se para encontrar a classe mais adequada para seu Fundo e, com isso, ter uma avaliação de resultados mais comparável aos seus pares de mercado.
Apenas renda fixa supera o CDI
Os fantasmas do ano passado voltaram a assombrar os gestores de investimento em 2014. Embora a renda fixa tenha virado o jogo a partir de fevereiro, deixando a forte volatilidade para trás, o temor da alta dos juros norte-americanos e as incertezas quanto ao nível de atividades da economia doméstica deixaram suas marcas no fraco desempenho dos fundos no primeiro semestre. Nesse cenário, somente as carteiras de renda fixa conseguiram superar o CDI. De agosto de 2013 a julho de 2014, período analisado para a elaboração desta edição do ranking, a média de rentabilidade das carteiras de renda fixa foi de 9,08%, contra 8,02% do CDI. Somente no primeiro semestre de 2014, a alta foi de 5,7%, bem acima à do benchmark no período (4,35%).
“O mercado teve dificuldade em agregar valor para a rentabilidade dos fundos no período. Tem sido um ano muito difícil e não vejo nenhum instrumento financeiro de destaque nessa edição do ranking”, afirma Cecília Harumi, diretora da Luz Soluções Financeiras.
Dentro de renda fixa, as melhores performances partiram dos produtos mais tradicionais, os fundos de crédito livre e referenciados DI, cujas rentabilidades atingiram 10,46% e 9,48% em doze meses. “Os movimentos com ativos mais curtos, de maior liquidez, foram os que mais ocuparam a alocação desse tipo de instrumento”, destaca Harumi.
Nesta edição foram analisados 602 fundos, 7% a mais em relação ao ranking anterior. Entretanto, não houve aumento no número de fundos excelentes. Essa categoria representou 34% do total de fundos analisados, o mesmo percentual registrado na edição passada. “A estabilidade verificada no ranking é um sinal de que o desempenho dos fundos também ficou um pouco estagnado. A maioria dos gestores optou por um posicionamento conservador diante da volatilidade do mercado e o reflexo disso está na baixa rentabilidade da indústria”, analisa.
Já os multimercados de melhor performance foram aqueles que embarcaram no movimento da renda fixa. No geral, esse segmento empatou com o CDI, acumulando rentabilidade de 8,53% em doze meses e de 4,28% nos seis primeiros meses de 2014. Os fundos de estratégia específica, contudo, superaram o benchmark em doze meses (13,05%). Esta foi a melhor rentabilidade entre todas as categorias do ranking.
Por outro lado, a maior decepção da indústria foram os fundos de renda variável. No período de doze meses, o rendimento acumulado foi de 7,23%, muito aquém do CDI. Em seis meses, o resultado é ainda pior: 1,91%. “Embora seja um segmento de maior risco, o retorno não compensou”, diz Harumi. Na contramão da categoria, as estratégias de governança e sustentabilidade tiveram um desempenho superior até a alguns fundos de renda fixa no período analisado pelo ranking, Em doze meses, a rentabilidade dessas carteiras chegou a atingir 10,95%.
“O primeiro semestre continuou sendo muito difícil, assim como o ano passado. O que mais ouvimos dos gestores é que as incertezas em relação ao cenário internacional e doméstico prejudicaram muito o movimento das carteiras”, afirma. Harumi não arrisca nem fazer previsões para o fim do ano. “Há uma expectativa de melhora e de mais estabilidade nos mercados com o fim das eleições, mas a esta altura ainda não é possível imaginar o que vai acontecer”, complementa.