Destaque para gestão passiva | Santander se destaca com fundos pa...

Eduardo Castro, do SantanderEdição 264

 

A Bolsa brasileira foi claramente dividida por dois períodos bastante distintos no primeiro semestre de 2014. O principal índice da BM&FBovespa teve queda de 2,12% de janeiro a março. A partir do fim desse período, com o início da divulgação das pesquisas eleitorais, o mercado passou a subir sempre que a oposição ganhava espaço no pleito, o que fez o Ibovespa avançar 5,46% de abril a junho. Nesse cenário, até certo ponto inesperado, e marcado pela alta volatilidade e baixa previsibilidade, conseguiram auferir as melhores rentabilidades aqueles fundos mais próximos aos benchmarks. 

“Foi difícil bater os benchmarks, não tem sido um ano simples para bater o IBrX e o próprio Ibovespa. Os fundos que adotaram uma postura mais conservadora acabaram tendo um retorno melhor”, afirma Eduardo Castro, superintendente executivo de fundos de investimento do Santander. “Foi diferente do que aconteceu em anos anteriores, quando fundos mais agressivos foram bem melhor que seus respectivos benchmarks. A volatilidade do mercado fez com que fosse muito difícil acertar o ‘timing’ ao longo do ano”, pondera o especialista do Santander.
De fato, dos sete fundos de renda variável considerados excelentes pela metodologia da LUZ, que deram ao Santander a liderança com mais fundos verdes na categoria, o que apresentou a melhor rentabilidade foi o Santander FI Ibovespa Passivo, que subiu 12,62% nos 12 meses encerrados em 31 de junho. O fundo passivo ficou à frente de três fundos de valor da casa, um de small caps e um de dividendos.
“O beta foi priorizado em detrimento da valuation. O noticiário das eleições favoreceu ações que do ponto de vista do valuation não eram tão atrativas, mas tinham um peso grande nos benchmarks. Empresas que o mercado gostava menos passaram a ser consideradas no portfólio para reduzir o risco”, diz Castro.

Setor financeiro – Mas não foram apenas os fundos passivos que se destacaram no ranking. Algumas assets como a BB DTVM alcançaram a avaliação excelente em fundos voltados a setores específicos que são representados na Bolsa. A gestora foi a segunda no ranking das assets com mais fundos verdes para os institucionais na renda variável, com cinco, de oito analisados, sendo que nenhum deles tem como estratégia acompanhar de perto algum benchmark da Bolsa. “Em determinado momento o investidor pode não querer estar suscetível ao risco de um setor, e quando se aplica em um fundo amplo, não se tem muita noção se está comprado ou vendido naquele determinado setor. Nesses a proposta é mais transparente”, afirma Jorge Ricca, gerente executivo de fundos de ações da BB DTVM.
Dos cinco fundos selecionados, o BB Ações Setor Financeiro foi o mais rentável, com valorização de 24,09% nos 12 meses encerrados em junho, e de 16% apenas no primeiro semestre, já descontada a taxa de administração de 2%, contra 3,22% do Ibovespa. “Dos cinco fundos, entendo que o que tem o melhor fundamento hoje é o financeiro. Apesar de os papéis do setor não estarem tão baratos, já terem subido bastante, é nele que o investidor encontra os melhores fundamentos, os mais estáveis”, pontua Ricca. Além do fundo do setor financeiro, os outros quatro fundos considerados excelentes tem como escopo de atuação os setores de consumo, energia e tecnologia, além de um que compra apenas ações do próprio BB.
Além do crescimento dos spreads que já vinha ocorrendo desde o ano passado, em sintonia com a elevação da taxa Selic, os papéis dos bancos ganharam ainda mais impulso no mercado, recorda Ricca, após a divulgação de seus balanços trimestrais. “Os resultados dos bancos talvez tenham sido os que mais surpreenderam positivamente dentro dos setores que são acompanhados pela Bolsa”, nota o executivo. Outros ativos dentro do fundo que não são bancos, como Cielo e BB Seguridade, contribuem para sua estabilidade diante da volatilidade do cenário, fala o gerente. “São empresas com margens altas, que pagam bons dividendos, e que têm pouca variação no fluxo de caixa. Em um ambiente de maior volatilidade, é um produto bastante indicado”.

Cenários – No caso do Itaú, que também teve cinco fundos verdes na renda variável, mas dentro de uma amostra com um total de 14 fundos pesquisados, o cenário, ainda que não deixe de ser considerado, tem sua importância relativizada pelo gestor da casa, Eduardo Toledo. “O cenário não muda muito a nossa abordagem para esses cinco fundos, que é muito ‘bottom up’ (de baixo para cima). Não vou dizer que não olhamos para o cenário, mas o que vale são os fundamentos da própria empresa, o aspecto micro ante o macro”, diz o executivo.
“Às vezes o cenário está muito favorável para determinado setor, mas tem uma empresa que não agrada, até por já estar cara, bem precificada. E tem também o outro lado, pode ser que o setor não vá muito bem no ano, mas uma determinada empresa está com um trabalho muito bem feito, com cortes nos custos e aumento das margens”, diz o gestor. “Os cenários não são tão relevantes para alguns produtos”.
Dos cinco fundos do Itaú, são dois setoriais (consumo e bancos), um de governança corporativa, um de dividendos, e um de valor, que foi o que mais andou recentemente – o Itaú Ações Momento 30, que apreciou 20,50% nos 12 meses encerrados em junho.
Prova de que o ambiente econômico não é uma baliza central na modelagem das estratégias nos fundos do Itaú é o fato de o setor de consumo ter tido peso significativo dentro do fundo de valor da asset. “Algumas análises indicavam que esse ano, com a elevação da Selic e os juros mais altos, o varejo poderia ser pior, mas, na prática, conseguimos encontrar ativos dentro de um setor que não está sendo favorecido pelo cenário”. Um exemplo disso são as ações da Smiles, que subiram expressivos 44,5% de janeiro a junho, ou as da Kroton, que tiveram ganhos de 57,8% e ficaram entre as maiores valorizações do Ibovespa no período.

Concentração – A Geração Futuro foi a quarta asset com mais fundos verdes na renda variável, com quatro de quatro analisados, mas seus fundos apresentaram destaque na rentabilidade entre os primeiros colocados – o Geração FIA, por exemplo, avançou 38,03% nos 12 meses até junho, e o Geração Futuro Seleção FIA apreciou 35,52%.
Um dos segredos dos fundos da casa é a concentração em torno de alguns poucos papéis, que giram em torno de dez, entre os quais Kroton e BB Seguridade, que são apostas recorrentes e das mais bem-sucedidas do mercado no primeiro semestre, além de Cielo e Kepler Weber.
“Temos uma carteira de valor concentrada, até porque acho que nesses últimos 12 meses a Bolsa não teve muitas opções. Ainda estamos com uma visão muito negativa com a China, eles estão entrando em uma fase de crescimento mais baixo, e o preço do minério foi muito sacrificado esse ano por conta de uma oferta muito grande com a entrada da Austrália. Como grande parte da nossa Bolsa, em torno de 30%, são commodities, já fica um pouco restrita a vida”, fala Renan Vieira, gestor da Geração Futuro.
Sobre a volatilidade da Bolsa em função das eleições, e da indefinição sobre os nomes que formarão o time de quem vencer, Vieira mostra despreocupação por ter tido esse cuidado no momento da escolha dos papéis em carteira. “Existem alguns papéis na Bolsa que, seja quem for eleito, vão continuar performando. As pesquisas trazem ansiedade para os investidores, trazem volatilidade aos papéis, mas o gestor tem que fazer uma boa seleção independentemente de quem vai ganhar”, diz o gestor. “Não vejo nenhuma mudança política que venha a interferir nos nossos papéis, a política não vai mudar o fundamento da minha carteira”.