Edição 236
O desempenho dos fundos do Itaú foi inversamente proporcional ao tamanho da crise financeira que assolou o mercado mundial, em especial a Europa, no segundo semestre do ano passado. Ou seja, quanto piores eram os sinais da crise, mais a asset do Itaú tirava proveito para melhorar a performance de seus fundos de investimentos. O principal destaque foi a renda variável. Neste segmento, o Itaú conseguiu a nota verde em seis fundos, ficando na primeira posição da categoria, seguido por Safra e Bradesco Asset Management – Bram, com cinco cada um.
No resultado geral, o Itaú continuou com a segunda posição, igual ao ranking anterior, com 14 fundos verdes. Porém, o resultado foi mais positivo, saltando de 12 para 14 fundos com classificação máxima, sendo seis na renda variável, quatro multimercados e quatro de renda fixa. “Acredito que acertamos na análise do cenário macroeconômico no segundo semestre de 2011, ao contrário da primeira metade do ano, quando o agravamento da crise pegou boa parte do mercado de surpresa”, diz Paulo Corchaki, diretor de investimentos do Itaú Asset Management.
O gestor explica que a asset começou o ano passado com uma visão otimista, mas que a situação de Europa foi se agravando rapidamente. “Não tínhamos uma percepção do tamanho da crise e não imaginávamos que os governos seriam tão inaptos para tomar as medidas necessárias para conter os problemas no primeiro semestre”, afirma Corchaki. Já no segundo semestre ocorreu o contrário, pois a análise do Itaú estava bem posicionada para prever o aprofundamento da crise europeia, com reflexos em todos os mercados mundiais.
“Antes de começar o segundo semestre já tínhamos nos adiantado ao agravamento da crise. Mandamos um representante da equipe econômica para realizar uma análise in loco na Europa e fizemos uma previsão mais exata do tamanho e dos reflexos dos problemas europeus”, conta o diretor da asset. O Itaú enviou um analista da equipe de economia para visitar países como Grécia e Portugal e para conversar com os players locais. “Fomos ver a situação de perto, conversar com os players. Fizemos um monitoramento detalhado que foi essencial para nosso posicionamento posterior”, acredita Corchaki.
Ações – Como resultado, o Itaú passou a adotar posições mais conservadoras na renda variável. Foram montadas posições defensivas em praticamente todos os fundos de investimentos. “Privilegiamos os setores e empresas com forte geração de fluxo de caixa, por exemplo, aquelas do setor de energia elétrica”, afirma. O gestor explica que, em momentos de piora da crise financeira, são as empresas com maior caixa que mostram capacidade de manter sua atividade e, além disso, têm condições de aproveitar boas oportunidades, por exemplo, de adquirir alguma companhia que esteja em dificuldades.
O Itaú também deu preferência para empresas mais maduras, que costumam adotar políticas de maior distribuição de dividendos. Muitas assets procuraram tais posições mais defensivas, porém, o gestor destaca que foi adotado um posicionamento extremamente conservador por parte do Itaú na renda variável, maior que a média da concorrência. O resultado é que o Itaú emplacou seis fundos de ações com nota verde, contra dois fundos com a mesma classificação no semestre anterior. “Nossa análise chegou a apontar para a possibilidade de colapso da Europa no ano passado, por isso, fomos para uma posição extremamente defensiva”, comenta o diretor do Itaú.
O gestor explica que foi um momento em que o cenário macro era predominante sobre a seleção de empresas. “O mais importante foi acertar na análise do cenário e correr para os setores certos. Não importou muito a análise bottom up em que a escolha de algumas empresas pode fazer a diferença”, diz Corchaki. Ele revela que as empresas em crescimento, que dependem de boas condições do mercado, ficaram de fora do portfólio dos fundos da asset no ano passado.
Renda fixa – A mesma linha de análise macro valeu para a renda fixa. O Itaú previu um cenário mais negativo para a economia doméstica no segundo semestre de 2011, com desaceleração mais forte da atividade. “Era previsível um movimento mais acentuado de corte nas taxas de juros, o que acabou se confirmando”, afirma o diretor do Itaú.
A asset procurou se beneficiar de movimentos táticos, de curto prazo, na oscilação dos índices de inflação. “Acredito que o principal acerto na renda fixa foi ter aproveitado os diversos movimentos de altas e baixas nos papéis de inflação durante o ano”, diz Corchaki. Ele ressalta também que as maiores captações de recursos, tanto de fundos para investidores institucionais quanto para os demais, foram em produtos indexados aos índices de preços. Para os fundos de pensão e regimes próprios de previdência, a entrada em tais fundos teve uma importante contribuição para o resultado do ano, para ajudar a bater as metas atuariais ou pelo menos para não ficar tão distante delas.
Outro destaque da renda fixa, que também afetou o bom desempenho dos multimercados, foi o aumento da exposição aos papéis de crédito privado. Os títulos privados ofereceram uma boa perspectiva de bater o CDI, mantendo um nível de risco bem controlado. O gestor do Itaú explica que diferente da crise de 2008, quando o mercado de dívida corporativa foi bastante prejudicado, na crise do ano passado, houve uma percepção de que os riscos do crédito privado estavam bem razoáveis. “Ocorreu o oposto de 2008, quando os gestores fugiram do risco das dívidas corporativas para se refugiar nas dívidas soberanas”, ilustra Corchaki.
No ano passado, os gestores fizeram o movimento oposto, saindo de títulos públicos, com o fechamento das taxas ao longo do ano, para entrar cada vez mais no mercado de crédito privado. Neste movimento, houve até dificuldade de alguns gestores em acessar os leilões primários de títulos privados, que ainda formam um mercado restrito no Brasil. Por isso, o Itaú procura realizar algumas operações diretas com tesourarias de bancos, para fechar operações inteiras. Isso ocorreu primeiramente com alguns leilões realizados em parceria com o Itaú BBA, nos quais a asset comprava todo o lote leiloado.
O movimento em direção ao crédito privado continua em 2012. “Isso vem aumentando nos últimos anos. A procura pelo crédito privado deve continuar aquecida”, prevê Corchaki. E as operações diretas do Itaú também vão ocorrendo de forma frequente com as tesourarias de bancos neste ano. A asset conseguiu emplacar a nota verde para quatro multimercados e a explicação é semelhante aos destaques na renda fixa e variável. Nos multimercados também predominou a análise macro, mais pessimista da segunda metade do ano, com a diferença que neste caso, também entraram operações com moedas.
“Conseguimos boa performance em todos os segmentos. Aproveitamos a vantagem de sermos uma grande asset, capaz de manter equipes dedicadas a diferentes estratégias, como se fossem diversas pequenas assets”, resume ele.