Edição 195
Posição mais defensiva e balanceamento das carteiras de ações garantiram retornos dos fundos de renda variável
Em um período marcado por forte volatilidade na Bolsa, se deu melhor quem não se deixou levar pela euforia em torno das commodities, reduzindo sua exposição antes da queda dos preços, e aqueles que não foram com muita sede ao pote quando o mercado brasileiro ainda vivia uma enxurrada de IPOs.
Com seis fundos considerados excelentes no período de doze meses encerrado em 30 de junho deste ano, a Bradesco Asset Management (BRAM) manteve-se na liderança da categoria em relação ao ranking anterior. Para Herculano Aníbal Alves, superintendente executivo de renda variável da asset, o mercado passou por dois momentos no período analisado: um em que foi possível aproveitar a alta das commodities e outro de exposição maior em empresas ligadas ao mercado interno. “O mercado vinha de um período muito positivo, com a Bolsa em alta e muitos IPOs. Mesmo assim, já começamos a adotar uma postura mais seletiva em meados do ano passado e achamos, inclusive, que as ofertas iniciais de ações estavam saindo muito caras. E começamos a escolher mais ações de primeira linha, ligadas a commodities, que estavam com preços muito bons no mercado internacional porque a economia ainda vinha em crescimento. Nos concentramos em Petrobras, Vale e siderurgia, evitando os IPOs”, comenta.
Já ao longo dos seis primeiros meses de 2008, a estratégia mudou. A BRAM identificou que a crise internacional teria efeito sobre as commodities e reduziu suas posições nos papéis de Petrobras e do setor de siderurgia. “Parte desta posição foi alocada em empresas mais ligadas ao mercado interno, como de energia elétrica e telecomunicações, mais especificamente a telefonia fixa. Também vemos oportunidades no setor de concessionárias de rodovias, que têm seus preços reajustados pelo IGP- M”, resume.
O Itaú também não se deixou seduzir pela onda de IPOs no ano passado. “Nós estudamos os lançamentos de ações e não entramos em muitos deles”, conta Fabio Niel, administrador de carteiras sênior do banco. O aproveitamento da alta das commodities no primeiro momento e a redução da exposição a estes papéis com a migração para ações de empresas mais relacionadas ao mercado doméstico também marcaram a estratégia do Itaú. Leonardo Pereira Vasques, administrador de carteiras sênior do banco, conta que no segundo semestre de 2007 foi possível ganhar com Vale, Petrobras e siderurgia. Com a mudança de cenário, o Itaú foi reduzindo suas alocações nestes papéis durante os seis primeiros meses de 2008, principalmente a partir de maio, e migrando para papéis de empresas dos setores de energia elétrica, telecomunicações e consumo. Niel acrescenta que a estratégia foi diversificar a carteira, reduzindo a concentração. “Os setores estão rodando muito na Bolsa”, completa Vasques.
Um dos fundos do Itaú que receberam sinal verde, o Itaú Ace Dividendos Ações FI, passou há cerca de um ano e meio por uma reformulação. O banco criou um índice próprio para selecionar as ações de empresas que são realmente boas pagadoras de dividendos e o fazem com uma certa freqüência. “Não adianta nada uma empresa pagar um grande dividendo em um exercício e depois ficar muito tempo sem dar retorno nenhum ao acionista”, diz Marco Antonio Carregari, consultor de investimentos de ações do Itaú.
Segundo Pedro Villane, gestor de fundos de ações da ABN Amro Asset Management, o bom desempenho dos fundos da instituição se deu por conta do conservadorismo. Uma das estratégias da gestora foi dividir os investimentos em diversos setores. “Procuramos acompanhar a volatilidade do mercado, ou seja, sair dos papéis que subiam demais e entrar nos papéis que tinham caído muito especialmente nos últimos 90 dias”, afirma. A aposta foram ações de bancos, empresas de energia elétrica, telecomunicações, alimentos e bebidas. Evitar a concentração da carteira e manter um portfólio diversificado tem sido a tônica da gestão feita pela Unibanco Asset Management (UAM). Ronaldo Patah, diretor de renda variável e multimercados da asset, reforça que os fundos mais conservadores se destacaram nesse momento de forte volatilidade.
Na renda variável, recebeu selo verde o fundo Unibanco Private Dividendos FI Ações. “Ele investe em empresas maduras e boas pagadoras de dividendos”, conta. Segundo Patah, esse é um tipo de fundo que acaba fugindo da forte oscilação sofrida pelo mercado e, por isso, não aproveita tanto as altas da Bolsa, mas permite ganhos quando a Bolsa cai. Em tempos de tanta incerteza, isso não parece ser um mau negócio.