Edição 195
Alta dos prêmios pagos pelos bancos nos CDBs foi o grande destaque das carteiras, principalmente após o mês de abril
A sabedoria popular diz que cada adversidade traz consigo a semente de um benefício equivalente. A frase pode ser adaptada ao mercado de capitais quando observamos o desempenho dos fundos de renda fixa nos últimos 12 meses, que foram beneficiados tanto pelo aumento da taxa básica de juros, como pela crise externa. A rentabilidade dos multimercados caiu nos últimos meses, o que fez investidores buscarem a renda fixa como um porto-seguro em meio ao cenário de crescente volatilidade.
Segundo números da Associação Brasileira de Bancos de Investimento (Anbid), os fundos de renda fixa apresentaram até julho o maior retorno entre todas as categorias: de 7,14%, ou 109,7% do CDI. Não foi diferente entre os produtos analisados pela Investidor Institucional. Dos 75 fundos de renda fixa pesquisados, o HSBC Global Asset Management ficou em primeiro lugar, com três fundos considerados excelentes, tomando o posto anteriormente ocupado pelo Itaú, líder do ranking referente aos doze meses encerrados em 31 de dezembro de 2007.
Com forte posição em crédito privado, os fundos do HSBC refletiram o impacto positivo da alta das taxas do CDB. Com a turbulência externa, bancos brasileiros passaram a ter maior necessidade de captação no mercado doméstico, elevando os prêmios pagos aos investidores nestes papéis. A alta das taxas dos CDBs também impulsionou preços de outros ativos, como debêntures e FIDCs. Segundo Renato Ramos, diretor de renda fixa do HSBC, os produtos do banco que receberam sinal verde têm perfil de risco baixo e conseguiram boa rentabilidade por conta dos papéis de dívida privada.
No HSBC Referenciado DI Longo Prazo, 49% do patrimônio é aplicado em títulos de créditos privados, basicamente em CDBs de bancos de primeira linha. Já o HSBC Performance tem posição menos conservadora, com cerca de 70% do patrimônio exposto a crédito privado. “A carteira é composta por CDBs, debêntures, notas promissórias e FIDCs”, explica. Há também uma parcela de CDBs de bancos médios nacionais. O HSBC Multimercado Recebíveis foi beneficiado com as taxas dos FIDCs. “É um produto interessante quando se refere à equação risco e retorno”, defende Ramos.
O fundo compra cotas de mais de 20 FIDCs.
Com dois fundos de renda fixa classificados como excelentes pela pesquisa da PPS – o Bradesco FI Referenciado DI Premium e o BRAM FI Renda Fixa Target –, a Bradesco Asset Management (BRAM) também deu um salto em relação ao ranking anterior, quando não teve nenhum fundo verde. No último levantamento, a BRAM tinha um fundo de renda fixa com sinal amarelo e dois com a cor vermelha.
Mas o quadro mudou no último ranking. No caso do DI Premium, a estratégia foi priorizar as posições em ativos de liquidez diária e bom retorno, segundo Luis Roberto Zaratin Soares, superintendente executivo de renda fixa e multimercados da BRAM. Ele também destaca o aumento dos prêmios nos CDBs. “Conseguimos desempenho excelente porque mantivemos a carteira com foco no curto prazo, apesar de também carregarmos alguns títulos privados”, indica.
Em relação ao Target, Soares comenta que o fundo pode assumir algumas posições em títulos pré-fixados desde que haja “98% de certeza do retorno”, mas a principal característica é a utilização de termos de ações. “O termo de ações chega a responder por 30% ou 35% do patrimônio do fundo”, afirma. Ele diz que este tipo de operação traz prêmios interessantes, mesmo porque é possível fazer uma antecipação do vencimento. “Se o encerramento do contrato de termo acontece antecipadamente, conseguimos o retorno antes do esperado”, explica.
Em terceiro lugar no ranking de renda fixa, a estratégia da BNP Paribas Asset Management – com seus fundos BNP Paribas SPC DI FI REF e BNP Paribas Targus Referenciado – também foi adotar uma carteira diversificada em crédito. “Mais recentemente, a partir de abril, a abertura dos prêmios trouxe mais rentabilidade”, afirma Gilberto Kfouri, diretor de investimentos da BNP Asset Management.
Segundo ele, a migração dos fundos de pensão para os multimercados interrompeu-se por conta do mau desempenho dessa indústria. Para o resto do ano, o executivo prevê continuidade da trajetória de alta dos juros básicos para até 15% ao ano. “Os CDBs e as debêntures continuarão atrativos”, prevê.