Cenário desafia gestores

Edição 195

Com a forte volatilidade que marcou tanto o mercado de renda fixa quanto a renda variável, ficou mais difícil atingir benchmarks e trazer retorno aos investidores institucionais

O conservadorismo voltou a dar o tom dos fundos de investimento no período de doze meses encerrado em junho deste ano. Os efeitos da já aniversariante crise do subprime, a disparada da inflação, a alta dos juros e o sobe-e-desce da Bolsa trouxeram forte volatilidade não só ao mercado de renda variável, mas também à renda fixa. Diante deste cenário, a estratégia foi aliar um profundo trabalho de pesquisa à diversificação de setores, no caso das ações, e à opção por papéis de crédito de curto prazo e à fuga dos pré-fixados, no caso da renda fixa. Por outro lado, a crise também surge, na avaliação dos gestores, como uma oportunidade para os investidores pelo menos estudarem alocações mais sofisticadas como, por exemplo, os multimercados. Isso sem contar que há ativos bastante descontados que podem gerar ganhos consideráveis no médio ou longo prazo.
Mesmo assim, o nervosismo do mercado é claramente sentido no desempenho das carteiras. Mais da metade dos 294 fundos voltados para institucionais analisados pela PPS ficou abaixo do padrão de aplicação no período de doze meses encerrado em junho, enquanto 51 foram classificados como adequados para aplicação e 94 receberam a chancela de excelentes (ver critérios na página 20). “É preciso lembrar que estamos avaliando uma janela bastante difícil, quando a aversão ao risco se instalou no mercado. Ficou complicado para o gestor bater os benchmarks”, pondera André Aloi, consultor da PPS Portfólio Performance. “Foi o período de maior número de situações de stress em dez anos. O que ameniza é que, antes, um pequeno chacoalhão no mercado internacional já balançava o Brasil e hoje, por mais que exista um efeito da crise, ele é menor”, completa Everaldo França, diretor da PPS.
Mantendo-se na liderança do ranking Melhores Fundos Institucionais, o Itaú apresentou 12 fundos considerados excelentes nesta edição do levantamento. Erico Rocha Capelo, superintendente de fundos abertos do banco, comenta que o período antecedente ao analisado na pesquisa era bastante positivo. “Vínhamos de uma Selic a 11,25% ao ano e uma expectativa de inflação abaixo de 4%, mas houve uma reversão de cenário”, constata o executivo. Ele comenta que a nova conjuntura prejudicou as alocações em títulos pré-fixados. Além disso, foi possível notar um aumento dos prêmios pagos em papéis de dívida privada e, com a tendência de abertura ainda maior dos spreads, os títulos de curto prazo vêm ganhando espaço nas carteiras. “Com a crise do subprime, a fonte internacional secou. Não existe mais oportunidade para captação externa como antes, mas a demanda interna continua forte”, comenta o executivo. Para Capelo, o mercado ainda passa por uma fase de ajustes, para cima, das taxas pagas nestes papéis, o que explica a preferência pela compra de títulos de prazo mais curto. Aloi, da PPS, comenta que com a abertura dos prêmios foi aberta uma oportunidade para a compra de títulos de crédito no primeiro semestre deste ano, principalmente após o mês de abril. “Quem ainda não havia consumido toda a parcela permitida para alocação em crédito recheou a carteira”, conta o consultor.
Mas ele pondera, no entanto, que a volatilidade atingiu em cheio as carteiras de renda fixa, e a maioria dos fundos desta categoria não conseguiu bater o CDI.

Renda variável – Na renda variável, o comportamento mais conservador também norteou o comportamento dos gestores. Walter Mendes de Oliveira Filho, superintende de operações de renda variável do Itaú, conta que no segundo semestre do ano passado foi possível ganhar com a alta das commodities mas, ao longo dos seis primeiros meses deste ano, a estratégia foi reduzir “paulatinamente” a exposição a estes papéis e ampliar posições em ações mais defensivas, de empresas relacionadas ao mercado interno, como energia elétrica, telecomunicações e consumo. “Até maio estavam mais concentrados nas commodities, mas fomos nos adaptando ao novo cenário. Com o aumento das incertezas, reduzimos o tamanho das nossas apostas em commodities, montamos uma carteira mais balanceada e ficamos menos expostos ao mercado internacional”, resume o executivo.
Aloi acrescenta que quem estava posicionado em Vale, Petrobras e siderurgia no segundo semestre do ano passado conseguiu bons resultados, mas agora já não é bem assim. “A Bolsa não está ajudando.
Dá para notar a dificuldade dos gestores em atingir os benchmarks. Não adianta, a Bolsa tem que decolar para o ano ainda ser positivo, e isso está parecendo cada vez mais difícil. Teria que acontecer uma valorização muito grande em três meses”, comenta o consultor.
Já no caso dos multimercados, o objetivo é obter ganhos mesmo que o mercado perca. “O bom multimercado consegue ter sucesso de maneira independente do rumo do mercado”, afirma França, da PPS. “Mas percebo que a grande maioria tem uma posição fixa comprada em Bolsa, e só ganha na alta”, completa. O executivo coloca ainda que, no caso dos fundos long and short, apenas a minoria é efetivamente não direcional. “Esta é a exceção da exceção e muitos fundos não estão agregando valor às carteiras”, comenta França. Ele acrescenta que neste momento a indústria de multimercados está sendo mais olhada pelos fundos de pensão e ganhando mais importância. Por isso, é preciso que as fundações tenham cuidado na hora de selecionar os fundos porque não faz sentido comprar ativos que andem todos para o mesmo lado. “Os gestores têm de aprender onde comprar beta e onde comprar alfa”, resume o diretor da PPS.

De olho nos 3% – No caso do Itaú, a estratégia na gestão dos multimercados foi bastante baseada em pesquisa e na antecipação dos movimentos do mercado. “Estávamos com uma perspectiva mais negativa em meados de 2007 e o cenário que traçamos se materializou. Pudemos fazer a escolha dos ativos. Tínhamos uma perspectiva negativa em relação a juros, graças ao nosso monitoramento da inflação que já enxergava uma tendência de alta no pipeline. Por conta disso, já estávamos com essa posição tomada”, conta Marcello Siniscalchi, superintendente de operações de derivativos do Itaú. Em relação aos fundos multimercados “não-institucionais”, enquadrados no limite de 3% dos recursos garantidores segundo a Resolução 3.456 do Conselho Monetário Nacional (CMN), Siniscalchi afirma que a alocação dos fundos de pensão na categoria ainda é baixa, mas as entidades vêm, aos poucos, demonstrando interesse pelo assunto. “Alguns fundos de pensão com perfil mais agressivo têm procurado a gente, mas este é um processo que está começando a caminhar. Vem num crescente. A volatilidade retrai, mas é um momento de oportunidade”, diz o executivo.
Que este momento de crise é a hora certa para olhar oportunidades, mas com cautela, ninguém discute. “Os investidores institucionais têm feito um forte trabalho de acompanhamento dos investimentos. E neste momento volátil está sendo possível perceber que existem boas oportunidades de ganho no médio prazo. As fundações começam a olhar essas oportunidades e fazer pequenos experimentos”, indica Adolfo Daniel Alviço Jr, superintendente executivo comercial da Bradesco Asset Management (BRAM). A BRAM passou do terceiro para o segundo lugar no ranking Melhores Fundos de Institucionais, com dez fundos considerados excelentes no levantamento referente aos últimos doze meses encerrados em junho de 2008. “Foi um período realmente de bastante turbulência, tanto nos ativos de renda fixa quanto nos de renda variável. E foi possível perceber uma grande preocupação dos investidores institucionais com as metas atuariais e, por conta disso, houve uma grande proximidade destes investidores, um forte acompanhamento dos ativos e das carteiras”, completa o executivo.
Ele ressalta que não ocorreram deslocamentos significativos entre as carteiras dos fundos de pensão, já que o momento de incertezas não convida a grandes migrações de ativos, mas que já é possível notar que as entidades estão estudando cautelosamente as alternativas disponíveis no mercado. Alviço cita como exemplo os multimercados enquadrados no limite de 3% da legislação. “Por mais que todo o limite não tenha sido consumido, uma parcela disso está sendo utilizada. Estão acontecendo discussões, avaliações e entendimentos. E é preciso que haja esse estudo, porque a migração para produtos de maior valor agregado vai fazer muita diferença no futuro”, sinaliza o executivo.

Para entender o Ranking – Os fundos são analisados e classificados pela PPS Portfólio de acordo com sua rentabilidade e volatilidade num período de 12 meses, findos em 30 de junho de 2008. Fundos com histórico inferior a 12 meses não foram analisados. A classificação leva em conta a categoria e o perfil de risco do fundo.
– O estudo analisa apenas os fundos abertos, voltados para investidores institucionais, adequados ou aderentes à Resolução 3456, inclusive aqueles que se enquadram no limite de 3% como Long and Short e Multimercados Outros Ativos. Foram analisados todos os fundos enviados pelos gestores, com exceção daqueles onde a PPS detectou evidente desacordo com a referida resolução ou com o público de institucionais.
– Os melhores fundos pelo critério de risco/retorno recebem o sinal verde, indicativo de Excelência em gestão. Os fundos que recebem o sinal amarelo são considerados Adequados para aplicação, enquanto os fundos que recebem o sinal vermelho são considerados Abaixo do Padrão de aplicação.
– Nos indicadores de performance os ganhos ou perdas são medidos em percentuais sobre o benchmark, com exceção dos fundos de renda variável cujos ganhos ou perdas em relação ao benchmark são medidos em pontos percentuais.
– O retorno acumulado mensurado nas tabelas está líquido de taxa de administração. Com isso, mede-se efetivamente a performance do gestor, sem a contaminação das taxas.
– As cotas, líquidas de taxa de administração, foram retiradas da base de dados da ANBID, com exceção de dois casos, que não possuíam histórico na ANBID: Infinity Institucional e Mercatto Diferencial Institucional. Para ambos, a fonte dos dados foi a CVM.
– As classificações no segmento de renda fixa foram feitas avaliando não só Sharpe como também o retorno acumulado, sobretudo nos períodos de 12 meses, 6 meses e 3 meses. Como o mercado tem sido marcado por forte turbulência nos negócios, se utilizássemos a premissa de Sharpe negativo = Excelente, a maioria dos fundos receberia esta classificação.
Portanto, resultados que circundaram o CDI (até 97% deste indicador) foram considerados como Adequados.
– As classificações no segmento de renda variável foram feitas utilizando o índice de Modigliani, uma medida de retorno ajustado por risco.
– Alguns fundos possuem um asterisco ao lado do nome. Fique atento para a observação relativa a ele, localizada no final da tabela.
– Devido ao número bastante pequeno de fundos com benchmark IMA-B (06 fundos), IMA-C(03 fundos) e IRF-M(02 fundos), assim como fundos Ibovespa com Alavancagem, não processamos a avaliação dos mesmos.
– O investidor deve ler o regulamento do fundo para ter ciência dos riscos inerentes ao investimento. Rentabilidade passada não é garantia de bons resultados no futuro.