Juros e bolsas ajudaram as assets | Levantamento da consultoria R...

Edição 143

Em 2003, as estrelas dos fundos de investimento foram a renda fixa e a bolsa. Quem soube aproveitar a maré de queda das taxas de juros, alongamento da dívida pública e arrematou os papéis sub-valorizados da então deprimida Bovespa, conseguiu ganhos bastante expressivos. Em 2004, porém, quem vai ter que brilhar será a gestão desses fundos, que diante da redução das margens de ganho terá que ser muito mais ativa e minuciosa para procurar atingir uma rentabilidade adequada às necessidades de seus clientes institucionais.
Essa é a conclusão de gestores e especialistas do mercado diante do ranking de fundos institucionais elaborado pela RiskOffice, que a Revista Investidor Institucional publica nesta edição. “Nós partimos de uma situação de ‘overshooting’ de pessimismo na segunda metade de 2002, que durou até o início de 2003, provocada pelas turbulências do processo eleitoral e as incertezas sobre o comprometimento do novo governo com o cumprimento das metas fiscais e com a austeridade da política monetária. Mas ao longo do ano passado, na medida em que se percebia a consistência do governo, o cenário econômico começou a se recuperar, com a queda das taxas de juros e diminuição do risco-país. Na renda variável, as perspectivas de maior crescimento do Brasil provocaram uma valorização dos papéis, que estavam muito baratos”, diz Carlos Antonio Rocca, sócio da RiskOffice. “O cenário externo também colaborou. A queda da taxa de juros nos Estados Unidos aumentou a liquidez internacional e o fluxo de recursos para investimentos em países emergentes, como o Brasil”, acrescenta Rocca.
Já para este ano, apesar das projeções otimistas da economia, há a consciência de que as margens potenciais de rentabilidade são menores do que as de 2003. “Será difícil alcançar taxas de retorno tão boas quanto as do ano passado”, avalia o sócio da RiskOffice. O coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas, William Eid, concorda. “O ano de 2003 foi o último ano da renda fixa. Desde o início do Plano Real, em meados de 1994, os ganhos com a renda fixa chegaram a 874%, contra 423% da Bovespa. Agora, o sujeito vai ter que ser muito mais ativo na gestão dos fundos. Quase que diariamente ele vai precisar rever a parcela mais arriscada dos investimentos. A seleção do gestor será fundamental para oferecer resultados apropriados a seus clientes”, afirma Eid.
O coordenador da FGV aconselha os investidores institucionais a darem mais atenção aos fundos multimercado, que no ano passado registraram crescimento de patrimônio de 45%, já excluindo dessa conta a rentabilidade. Também o professor de gestão de risco do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Alexandre Chaia, recomenda aos investidores diversificação nas aplicações. Segundo ele, uma alternativa pode ser a dos fundos imobiliários. Essa categoria projeta um crescimento de patrimônio de 22% para esse ano, devendo chegar ao total de 2,3 bilhões de reais. Atualmente, 59% dos recursos desses fundos são de investidores institucionais. “Fundos imobiliários de shoppings centers são boas alternativas. A rentabilidade do fundo do Shopping Pátio Higienópolis, por exemplo, foi de 15% no ano passado”, afirma Chaia.
As margens mais curtas de rentabilidade de que falam os especialistas e os conselhos de diversificação das carteiras não significam, porém, que as estrelas do ano passado devam ser deixadas de lado. “A pesquisa Focus do Banco Central com as projeções do mercado ainda aponta para a queda dos juros. Na Bolsa, também é preciso considerar que ela já se recuperou muito, mas ainda não está no auge. Será difícil bater os benchmarks do ano passado, mas ainda há ganhos nesses segmentos”, afirma Carlos Antonio Rocca.
Da mesma forma, os gestores devem considerar que o cenário positivo para 2004 pode se abalar ou modificar a qualquer momento diante de variáveis do cenário externo e interno. Não se sabe até quando, por exemplo, os Estados Unidos poderão manter baixas suas taxas de juros. “A Bolsa brasileira depende muito da entrada de capital estrangeiro, que está associada à liquidez internacional. Se o Federal Reserve subir a taxa, essa liquidez tende a diminuir e a bolsa ficará mais suscetível a quedas”, afirma William Eid.
A crise política pela qual passa o governo de Luís Inácio Lula da Silva atualmente pode ser apenas uma turbulência, mas já teve reflexos no preço do dólar e no risco-país. “O que se esquece também, às vezes, é que o crescimento do país depende de investimentos em infra-estrutura, que por sua vez dependem de recursos da iniciativa privada, já que o fôlego do governo para isso é muito limitado. Se não houver investimentos na área de energia, por exemplo, não haverá como atender à demanda que será gerada pelo crescimento”, diz Rocca.

O ranking – Além de ter sido um ano bom em termos de rentabilidade, 2003 também foi um período de crescimento de patrimônio. A carteira dos fundos institucionais engordou 27% em relação a 2003, passando de R$ 229,2 bilhões para R$ 292,2 bilhões. O segmento que mais cresceu foi o de previdência privada, com uma variação de 52,7%, contra 23,9% dos fundos de pensão e 20,5% das seguradoras, segundo levantamento da Risk-Office.
O ranking elaborado pela consultoria considerou o período de 12 meses terminados em 31 de janeiro deste ano. Entre os fundos de renda fixa, os passivos (aqueles cujo objetivo é reproduzir o benchmark, no caso, o CDI) apresentaram um rendimento médio entre 22% e 24% no período. No ranking, eles aparecem subdivididos entre EQM Baixo, Médio e Alto. EQM significa Erro Quadrático Médio, uma fórmula aplicada para identificar quais os fundos que mais se aproximam de seu objetivo, que é o CDI. Os fundos de renda fixa ativos (que buscam superar o CDI) tiveram um rendimento entre 22 e 26% e foram separados entre os de volatilidade baixa, média-baixa, média e média-alta.
Na renda variável foram registrados os maiores rendimentos. Os fundos que seguem o Ibovespa alcançaram 85% no período e os atrelados ao IBX, 77%. O ranking também avaliou os fundos de previdência aberta, os remunerados por índices de inflação, como o IGP-M, os fundos prefixados e de curto prazo (que também seguem o CDI), além dos fun-
dos Fiex.
Foram considerados excelentes e marcados com a cor verde os fundos que combinaram alto rendimento e baixa volatilidade. Com a cor amarela foram marcados os fundos considerados adequados. Os fundos de cor vermelha, considerados inadequados, não foram listados no ranking. Com dez fundos verdes, a Bradesco Asset Management (Bram) foi a instituição que ficou em primeiro lugar no ranking da RiskOffice. Para o diretor superintendente da Bram, Robert Van Dijk, o resultado é reflexo do investimento na área de research do banco, que prioriza a análise fundamentalista para tomar suas decisões.
Em segundo lugar ficou o ABN AMRO Asset Management, com 7 fundos considerados excelentes, todos no segmento de renda fixa. “No Brasil, os clientes institucionais mantêm cerca de 70% de seus investimentos na renda fixa e 30% na renda variável. Mas com a diminuição das margens de ganho na renda fixa neste ano, é possível que eles se arrisquem um pouco mais”, afirma o superintendente de renda fixa da instituição, Eduardo Castro.
Em terceiro lugar ficou a Caixa Econômica Federal, com 5 fundos classificados como excelentes (pintados de verde), enquanto a distribuidora de títulos e valores mobiliários do Banco do Brasil (BB DTVM) ficou com quatro fundos excelentes.
Ao contrário de muitos participantes do mercado, o presidente da BB DTVM, Nelson Rocha Augusto, acredita que ainda há espaço para bons rendimentos na renda fixa e também nos investimentos indexados pela bolsa. “Basta ver os balanços de grandes empresas que foram publicados recentemente e que mostram lucros extraordinários”, comenta ele. O diretor executivo de gestão de ativos de terceiros da Caixa, Marcelo Bonini, também espera bons resultados na renda variável este ano. “Setores como os de siderurgia e mineração, além das empresas exportadoras, deverão merecer destaque em 2004”, afirma.

CONSOLIDADO DO RANKING
Tipo de Fundo • Nº de Fundos
Fundos sinal verde • 70
Fundos sinal amarelo • 218
Fundos sinal vermelho • 97
Fundos neste ranking • 288
Total de fundos analisados • 375

Quem são os Melhores
Gestor – Nº de Fundos Excelentes
BRAM – Bradesco – 10
ABN AMRO Real – 7
Caixa Econ. Federal – 5
BB DTVM – 4
AGF – 3
BankBoston – 3
Itaú – 3
Pactual – 3
Safra – 3
Santos – 3
Unibanco – 3
Alfa – 2
BNP Paribas – 2
Citibank – 2
Fibra – 2
HSBC – 2
Santander – 2
ASM Adm. Recursos – 1
Banif Primus – 1
BMC – 1
BMG – 1
BRB – 1
CSFB – 1
Fator – 1
Nossa Caixa – 1
Rural – 1
Sudameris – 1
Tokyo Mitsubishi – 1