Bradesco assume liderança | Desempenho positivo do Ibovespa e cre...

Andre Bernardino

Com um crescimento maior do que a média do setor, o Bradesco ultrapassou o Itaú-Unibanco em serviços de custódia e assumiu a liderança do segmento com uma participação relativa de 25,70%. Enquanto o setor como um todo cresceu 16,04% na comparação de dezembro de 2012  com dezembro de 2011, o Bradesco cresceu 22,28% no mesmo período para R$ 973 bilhões sob custódia contra um crescimento de 14,21% do Itaú-Unibanco, que fechou o ano passado com R$ 939 bilhões. “Nosso crescimento acima da média do mercado foi impulsionado pela recuperação da bolsa e pelo avanço na conquista de novos clientes institucionais de grande porte”, diz André Bernardino, diretor da área de ações e custódia do Bradesco. O executivo explica que a bolsa em 2012 teve desempenho bastante superior ao do ano anterior, quando o Ibovespa tinha despencado mais de 18% negativos.

Além da recuperação da bolsa, o crescimento do setor de custódia também foi impulsionado pelos negócios com fundos de investimentos imobiliários e pelo aumento das emissões de crédito privado, principalmente das debêntures. O setor fechou o ano passado com R$ 3,79 trilhões contra R$ 3,26 do ano anterior, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O crescimento de 16,04% registrado em 2012 poderia ter sido ainda maior, não fossem as dificuldades enfrentadas pelos FIDCs (fundos de investimentos em direitos creditórios) que, pela primeira vez, acabou encolhendo, devido principalmente às mudanças na regulamentação promovidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os ativos de custódia dos FIDCs caíram de R$ 79,21 bilhões no final de 2011 para R$ 61,83 bilhões em dezembro do ano passado.

Outra decepção foi o fraco crescimento dos FIPs (fundos de participações), que não tiveram um desempenho tão brilhante quanto previam muitos gestores e analistas baseados em resultados dos anos anteriores. O que salvou o segmento de investimentos estruturados foram mesmo os fundos imobiliários, cujas novas emissões atingiram R$ 13,7 bilhões em 2012, quase o dobro do ano anterior, quando alcançaram a marca de R$ 7,6 bilhões. 

Custodia ranking geral

Em parte, o forte crescimento do Bradesco deveu-se ao bom desempenho registrado no segmento de fundos estruturados, principalmente em produtos de base imobiliária. Segundo Bernardino, embora a demanda dos FIPs não tenha crescido tanto, ela também ajudou a alavancar a alta do Bradesco. “O principal destaque dos estruturados foram os fundos imobiliários, o mercado esteve bastante aquecido durante o ano todo e entrou 2013 da mesma forma, mas também registramos alguns negócios importantes na área de private equity, embora num volume menor do que na área de fundos imobiliário”, diz. 

O diretor do Bradesco admite que o segmento de FIDCs foi o mais prejudicado no ano passado. “Foi o que mais sofreu em 2012 devido às discussões sobre a nova regulamentação, que envolveram também aspectos da custódia”, explica Bernardino. Ele acredita que as dificuldades já foram resolvidas e que o segmento promete recuperação em 2013. Uma amostra disso, foi o lançamento de um FIDC da Gávea Investimentos, que captou recursos da ordem de R$ 1 bilhão, e que contratou a custódia do Bradesco. “Acredito que o mercado voltará a se aquecer neste ano, porém já com um novo perfil. Por exemplo, o tíquete médio dos FIDCs deve ser elevado, por conta do aumento dos custos operacionais”, diz Bernardino. 

Uma nova tendência que começou no ano passado, mas que promete movimentações mais intensas para os próximos anos, é a ampliação dos investimentos no exterior, segundo o diretor do Bradesco. “Os gestores e seus fundos estão começando um processo de maior diversificação que inclui ativos no exterior através de operações offshore”, diz Bernardino. Ele dá como exemplo o lançamento do primeiro fundo de BDRs (Brazilian Depositary Receipts) lançado pelo Bradesco no final do ano passado.

De acordo com Bernardino, o crescimento da custódia do Bradesco foi orgânico e não resultou do aumento da base de clientes entre as assets. Basicamente, a base continuou estável, porém alguns clientes lançaram novos fundos e escolheram o Bradesco como custodiante. Isso ocorreu, segundo Bernardino, devido ao fortalecimento e diversificação dos serviços de administração e controladoria oferecidos pela empresa assim como pela BEM DTVM, controlada pelo banco e que se dedica a fazer administração fiduciária para terceiros. “Fizemos um esforço para aperfeiçoar nossa grade de serviços, em que a custódia continua como o carro-chefe, mas é complementada pela administração e controladoria”, diz o diretor do Bradesco.

 

Clientes domésticos – No mercado doméstico, o Bradesco é o líder isolado na custódia de ativos para terceiros, com R$ 459,62 bilhões, próximo dos 50% do mercado – de um total de R$ 1,03 trilhão. No mercado interno, o custodiante se destacou com a prestação de serviços para fundações e assets independentes. Segundo Bernardino, o Bradesco conquistou novas contas de custódia centralizada para fundos de pensão que totalizaram R$ 23 bilhões em 2012.

Mercado domestico

A maior parte dos novos clientes institucionais vieram de um concorrente que está saindo do mercado de custódia doméstica para terceiros, o HSBC. O Bradesco conquistou a custódia de algumas fundações que estavam anteriormente com o HSBC.

Ao mesmo tempo que o Bradesco se beneficiou com a retirada do HSBC, terá que enfrentar a provável queda do volume de recursos custodiados nos próximos meses, em função da entrada de um novo concorrente. É que o BNY Mellon, que tem uma parceria com a custódia do Bradesco, está finalizando os preparativos para oferecer o serviço de custódia para terceiros. Segundos estimativas das empresas, algo em torno de R$ 90 bilhões a R$ 95 bilhões, devem sair do Bradesco em direção ao BNY ao longo de 2013 (sobre o BNY Mellon e o HSBC ler matéria de capa). Se os recursos saíssem de uma única vez, o Itaú reassumiria a liderança do ranking, pois a diferença entre ele e o Bradesco é de pouco mais de R$ 33 bilhões.

 

Vice-liderança – O Itaú-Unibanco caiu para a segunda posição do ranking em 2012, mas nem por isso, deixou de comemorar os resultados do ano. Foram captados 66 novos clientes, que geraram novos mandatos que representam juntos R$ 43 bilhões para a custódia do Itaú-Unibanco. No consolidado, fechou com R$ 939,71 bilhões, em dezembro de 2012. Também o serviço de administração fiduciária registrou a entrada de R$ 12 bilhões em novos recursos. “Continuamos apostando na excelência dos serviços e na qualificação de pessoal, que está em constante treinamento para atender a cada tipo de cliente e segmento”, diz Ricardo Soares, diretor de soluções para o mercado de capitais do Itaú-Unibanco. 

A área aposta na segmentação das equipes para atender aos grupos de clientes mais representativos ou para o tipo de fundos de investimentos de maior interesse. É o caso da equipe dedicada aos fundos de pensão e seguradoras (investidores institucionais). Outro exemplo, é a equipe do custodiante dedicada ao segmento de fundos estruturados (FIPs, FIIs e FIDCs). O diretor do Itaú-Unibanco confirma o aumento da demanda pelos fundos de investimentos imobiliários em 2012 como destaque do segmento. “Houve crescimento e diversificação dos fundos imobiliários, com o surgimento de operações mais complexas. É um mercado que continua bastante aquecido em 2013”, diz Soares. Ainda com os estruturados, os fundos de participações também apresentaram crescimento na demanda, ainda que menor que as previsões mais otimistas de anos anteriores.

Ricardo Soares

“Os FIPs ficaram em posição intermediária. Houve crescimento, bem melhor que os FIDCs por exemplo, mas abaixo dos produtos imobiliários”, comenta Soares. O executivo explica que o encolhimento do segmento de FIDCs foi gerado, além da mudança na regulamentação, também pela indefinição nas perspectivas dos patamares das taxas de juros da economia.

Outro segmento com forte expansão em 2012 foi o de crédito privado (dívida corporativa), com destaque para as debêntures. “Os ativos de crédito estiveram em alta em 2012, com forte demanda para a emissão de debêntures. Este segmento deve crescer ainda mais em 2013 com os papeis de infraestrutura que vão se multiplicar ao longo do ano”, diz o diretor do Itaú-Unibanco.

A área de custódia e administração do Itaú-Unibanco apostou também em 2012 no relacionamento com os clientes e na ampliação dos canais de comunicação. Para isso, incentivou a criação de fóruns de intercâmbio e discussão com a participação de clientes institucionais. Foram realizados três eventos deste tipo no ano passado, com a participação média de 12 clientes entre fundações e seguradoras.

No mercado doméstico, o Itaú-Unibanco contabilizava R$ 276,24 bilhões em dezembro de 2012, que representava um market share de 25,9%. A posição ficava bem abaixo do líder, mas ao mesmo tempo, mais que o dobro do terceiro colocado, o Citibank, que vinha com R$ 126,50 bilhões de ativos sob custódia no mercado interno.

No consolidado geral, o Citibank fechou o ano passado com R$ 542,49 bilhões (contra R$ 467,07 bilhões do final de 2011), logo atrás do Banco do Brasil (BB) que vinha com R$ 551,36 bilhões. Diferente do BB, que possui a maior parte do volume de recursos sob custódia provenientes do próprio grupo, o Citibank é um concorrente do mercado que se destaca pela obtenção de contas de terceiros, tanto no mercado doméstico quanto no externo.

FIDCS

“O ano passado foi muito bom para nossas áreas de custódia e controladoria. Ultrapassamos a marca de 1100 fundos para os quais prestamos serviços”, diz Márcio Veronese, diretor do Citibank responsável pela área de serviços ao mercado de capitais. Ele comenta que o custodiante continua mirando o segmento de fundos estruturados. “Continuamos investindo para aprimorar nossos serviços para o segmento de fundos estruturados. A ideia é acumular maior conhecimento e inteligência nas operações mais complexas”, diz Veronese.

O crescimento do Citibank no ano passado é explicado, segundo o diretor, pela recuperação dos ativos de renda variável e também pelo aprofundamento com a relação com alguns clientes antigos, que lançaram novos produtos com a custódia do banco. Veronese também ressalta o aumento da demanda de custódia para fundos imobiliários, que compensou a decepção com o segmento de FIDCs, que declinou em 2012. 

Outro nicho em que o Citibank se destaca é o de controladoria de fundos de investimentos para terceiros. A empresa ultrapassou a casa dos R$ 200 bilhões em controladoria, dos quais R$ 175 bilhões correspondem a recursos de terceiros. O banco está em terceiro lugar no ranking de controladoria, atrás apenas do líder Itaú-Unibanco e do segundo colocado o Bradesco, segundo dados da Anbima. Seu principal concorrente direto, o BNY Mellon, vem na quarta posição, com R$ 179 bilhões de recursos sob controladoria, dos quais R$ 161 bilhões são de terceiros. A concorrência irá se repetir também na custódia com a entrada do BNY Mellon neste segmento.