Edição 263
ETFs que monitoram novos índices focados fora das tradicionais alternativas de alta versus baixa capitalização e de value versus growth, estão se tornando os produtos que mais crescem no mercado. Seguindo diversas estratégias, desde ações de baixa volatilidade a “alta qualidade”, é fácil entender que alguns consultores possam estar um pouco atordoados. Brett Hammond, diretor-gerente e head de Index Applied Research da MSCI, fala sobre essa nova onda de índices baseados em fatores.
Pergunta – Qual é a grande novidade a respeito de investimento baseado em fatores? Do que se trata e por que os consultores deveriam se preocupar?
Brett Hammond – Tanto consultores quanto investidores institucionais têm uma longa tradição de investir de duas formas diferentes: investimento passivo e investimento ativo. Os índices de fatores representam uma terceira e nova opção. Os fatores são características comuns entre grupos de ações e explicam parte de seus retornos. Pesquisas acadêmicas têm mostrado – e a MSCI acredita nisso – que, historicamente, seis fatores têm apresentado períodos de desempenho superior: valor, qualidade, momento, baixa volatilidade, dividendos, e tamanho. Há décadas, investidores ativos têm utilizado fatores em suas tentativas de superar o mercado. Os Índices de Fatores da MSCI usam a abordagem de baixo custo associada à adesão a um índice, mas capturam alguns dos retornos adicionais que costumavam estar disponíveis apenas para investidores ativos. É uma boa combinação.
P – A indexação a fatores é sempre melhor do que a indexação tradicional, ponderada por capitalização de mercado?
BH – Não. Nós da MSCI acreditamos firmemente que isso é apenas uma terceira maneira de olhar para os investimentos. Lembre-se, fatores são cíclicos. Nada vem de graça. Os índices de fatores não devem ser vistos como substitutos dos índices ponderados por capitalização de mercado, que continuam a ser o ponto de referência para representar todo o conjunto de oportunidades disponíveis para os investidores.
Tradicionalmente, os investidores poderiam começar com uma carteira de ações nacionais de large caps e, em seguida, passar para exposição internacional ou talvez algum tipo de carteira de small caps. O que finalmente percebemos é que, em vez de acrescentar várias estratégias e correr o risco de ter lacunas e sobreposições na carteira, deve-se começar com o conjunto global completo de oportunidade de capitalização de mercado, que no nosso caso é ACWI [All Country World Index]. Esse é um ponto de partida extraordinariamente bom, que engloba todas as oportunidades disponíveis.
P – Como você utiliza um desses fatores, digamos qualidade ou baixa volatilidade, e o captura em um índice?
BH – A metodologia importa muito. Nem todos os índices de fatores nascem iguais. É preciso combinar as competências sofisticadas da análise de investimento e da análise de indexação para produzir índices de fatores confiáveis. Vamos considerar a ideia de “qualidade” como exemplo. Qualidade tem a ver com encontrar empresas com qualidade superior à empresa média em um índice. Assim, para construir um índice de qualidade, vamos começar com um índice ponderado pela capitalização de mercado que já exista, por exemplo o MSCI World ou o MSCI Brazil.
Em seguida, queremos enfatizar as ações de alta qualidade, ações com ganhos que não sobem e descem rapidamente, ações com baixos índices de endividamento. São essas as empresas que a maior parte dos analistas de ações analisaria e diria “esta é uma empresa de alta qualidade, bem administrada”. Vamos selecionar essas empresas no índice mãe, de modo que temos um índice mais concentrado. Vamos impor certas restrições para garantir que o índice de fatores mantenha as características do índice-mãe e não introduza vieses indesejáveis. Vamos revisar isso a cada seis meses, e reequilibrar o resultado para um portfólio da mais alta qualidade. Então, são necessários vários passos cautelosos, alta qualidade de dados e conhecimento de investimento para produzir índices de fatores.
P – Como o índice resultante se compara a um índice ponderado por capitalização de mercado?
BH – O índice de qualidade – e isso vale para alguns dos outros – provou ter retornos significativamente mais elevados durante longos períodos em comparação com o índice-mãe. A qualidade é realmente um dos fatores mais proeminentes, a partir de uma perspectiva de risco-retorno, no longo prazo. No entanto, essas estratégias não oferecem nenhuma garantia de melhor desempenho ou menor risco o tempo todo. Isso pode acontecer por longos períodos, mas haverá muitos períodos com duração de um, dois ou até três anos em que elas vão desempenhar abaixo do índice-mãe ponderado por capitalização de mercado. É muito importante que o investidor entenda essas duas características: o potencial de desempenho superior no longo prazo e a possibilidade de desempenho inferior no curto prazo.
P – Como os consultores devem usar os índices de fatores considerando os períodos de baixo desempenho?
BH – Consideramos muito importante entender o que esses índices de fatores fazem e como eles se comportam ao longo do tempo. Mas o que é ainda mais importante é que há benefícios potenciais na combinação de fatores. Se você observar os seis fatores que monitoramos, verá que as correlações entre eles são muito baixas. Qualidade, valor e volatilidade mínima apresentam desempenho diferente em momentos diferentes, de forma que, historicamente, seus períodos de baixo desempenho não têm coincidido. São afetados por diferentes condições econômicas e de mercado e, portanto, seus períodos de desempenho superior tampouco têm sofrido sobreposição.
É por isso que criamos os Índices MSCI Multi-Factor. Se tomarmos o Índice MSCI Quality Mix, que combina qualidade, valor e fatores de volatilidade mínima, temos um poderoso índice multi-fator que reduz os períodos de baixo desempenho, e ainda assim apresenta fortes períodos de desempenho superior.
P – O que é importante na avaliação de índices de fatores?
BH – Três coisas. Em primeiro lugar, é transparente? Posso entender o que o índice está fazendo? Em segundo lugar, é viável em termos de investimento? E em terceiro lugar, ele representa o que você está tentando investir?
O melhor lugar para procurar um índice que atenda a esses critérios é começar com um sólido índice-mãe ponderado por capitalização de mercado. O que você quer é um que já exista há algum tempo e incorpore todos os mais recentes avanços metodológicos: ajuste a flutuações, zonas de segurança e assim por diante. Um bom índice-mãe virá com soluções internas para problemas de investibilidade e abrangência. Ele já terá eliminado as ações que você não pode comprar ou vender.
Então, quando você aplica uma metodologia de fatores, como qualidade, você deve entender os fatores que estão sendo usados, de forma que não restem dúvidas. Os fatores fazem sentido e proporcionam a exposição que você está procurando?
P – O que explica alguns desses fatores? Por que, por exemplo, a baixa volatilidade levaria a retornos mais elevados no longo prazo?
BH – A evidência empírica é que um índice de volatilidade mínima fornece tanto um padrão de retornos de menor volatilidade quando comparado a um índice-mãe ponderado por capitalização de mercado, quanto gera retornos que estão, no mínimo, em pé de igualdade no longo prazo. Eles nem sempre vão apresentar desempenho superior à capitalização de mercado, mas vão proporcionar retornos semelhantes com menor volatilidade.
Por que isso? Por que o mercado não arbitraria daquela forma? A evidência acadêmica parece sugerir algumas coisas. Uma delas é que há alguns períodos em que há retornos mais baixos, e muitos investidores não querem se submeter a isso.
Número dois, há uma crença ou opinião de que os investidores parecem gostar de ações visíveis, ações atraentes. E o que são ações atraentes? São ações que sobem muito. Mas são ações que descem muito também. Portanto, tendem a ser mais voláteis. Portanto, os investidores subestimam ações que são mais estáveis, e esse é o tipo de ação com volatilidade mínima. Essa é a teoria por trás de tudo.
P – Vamos falar sobre os outros fatores. Como os investidores escolhem entre, por exemplo, qualidade e momento? Parece que todo mundo adora qualidade, certo?
BH – Não necessariamente. Lembre-se, os fatores não são bem correlacionados. Momento é o caso mais incomum de todos os seis, porque muda muito rapidamente. Mas momento em combinação com outro fator pode funcionar, ou uma carteira mais dinâmica que informa quando entrar e sair do momento pode funcionar. Os outros fatores são mais válidos como estratégia de longo prazo, mas todos têm finalidades diferentes. Volatilidade mínima é algo que você desejará usar se estiver tentando controlar a volatilidade de sua carteira. Muitos dos outros, como qualidade e valor, apresentarão desempenho superior em diferentes pontos do ciclo econômico. Mas a combinação é o mais valioso.
P – Qual seria a principal lição que os investidores devem levar consigo dessa entrevista sobre investimento baseado em fatores?
BH – Eu acho que é o fato de estarmos no meio de uma grande evolução. Hoje, os investidores podem ter acesso a retornos que costumavam ser acessíveis apenas através de uma gestão ativa. Hoje, graças aos Índices de Fatores da MSCI e os ETFs que os monitoram, esses retornos estão disponíveis a todos os investidores e seus consultores. A primeira revolução foi a indexação; agora, estamos permitindo que os clientes repliquem o desempenho de alguns gestores ativos, mas de uma forma passiva.