Edição 262
Os gestores de recursos do mercado americano estão registrando aumento da procura por fundos e estratégias que seguem índices do tipo smart beta nos últimos dois anos. Especialistas do mercado de fundos de pensão defendem que os índices garantem retornos confiáveis com menores custos que as estratégias de valor.
O termo smart beta não é consenso no mercado. Ele serve para designar uma ampla gama de índices alternativos, também chamados de beta inteligente, beta avançado, exótico beta, beta estratégico ou investimento baseado em fatores. Em todo caso, o termo serve para nomear um conjunto de índices que não são ponderados pela capitalização dos ativos.
Lynn Blake, diretora de investimentos de soluções beta globais na State Street Global Advisors (SSgA), de Boston, disse que a asset registrou aumento de procura por estratégias smat beta em cerca de 25% durante os últimos três anos. Uma pesquisa recente da SSgA também mostra os investidores enxergam os índices alternativos como uma opção de substituição de estratégias ativas. Os clientes da asset estão três vezes mais propensos em substituir as estratégias ativas por smart betas do que a gestão de carteiras passivas.
O conselho do fundo de pensão dos servidores de Oregon, que tem patrimônio de US$ 67,1 bilhões, aprovou três alocações smart beta nos últimos 2 anos e meio, totalizando recursos da ordem de US$ 2 bilhões. “Nós gostamos de gestão ativa, mas esses índices de fatores oferecem uma alternativa de baixo custo confiável para muitos fundos de ativos, especialmente quando implementadas internamente”, disse Michael Viteri, diretor de investimento e membro do conselho do fundo de Oregon.
Enquanto no fundo de Oregon, a gestão das carteiras de smart beta é interna, nem todos os investidores têm essa capacidade. Por isso, os gestores de recursos estão preparados para essa oportunidade. Na BlackRock, “estamos vendo mais clientes fazendo perguntas sobre essa categoria”, disse Amy Schioldager, diretora sênior e chefe global de estratégias beta, do escritório de Nova York. Segundo ela, a asset administra cerca de US$ 45 bilhões em estratégias smart beta.
“Comecei a ver o interesse dos investidores em estratégias de baixa volatilidade em 2009, após a crise financeira. Os clientes foram em busca de proteção, por isso, a empresa lançou sua primeira estratégia aferido em índice de mínima de volatilidade em 2010”, diz. Agora, os clientes da asset estão usando esse beta estratégica para complementar suas estratégias de índices tradicionais.
Lynn Blake, da SsgA também reforça o aumento da demanda para índices de baixa volatilidade. Ela acrescenta que parte do apelo de tais estratégias é que “eles são muito baseado em regras e objetivos transparentes”, e que as taxas “são significativamente mais baixas”, o que contribui com a melhoria do desempenho.
Embora as taxas de estratégias smart beta sejam mais baixas do que para estratégias ativas, os custos ainda são maiores que os da gestão tradicional passiva. A SSgA administra US$ 72 bilhões em estratégias que seguem o smart beta.
Robert Deutsch, diretor administrativo e chefe de liquidez global do J.P. Morgan Asset Management (JPM), em Newark, Delaware., descreve o smart beta como “uma estratégia que foge dos critérios de capitalização de mercado por ponderação”. A asset entrou com pedido na Securities and Exchange Comissão (SEC) para registrar três fundos negociados em bolsa com base nesses tipos de estratégias, em fevereiro passado, marcando sua entrada no mercado de smart beta nos EUA. O J.P. Morgan Asset Management já administra cerca de US$ 2 bilhões em estratégias alternativas no Reino Unido.
“Há uma compreensão muito maior que os índices ponderados por capitalização não são a melhor maneira de investir em ações”, disse Eric Shirbini, especialista em smart beta do Instituto EDHEC-Risk, ERI Scientific Beta. O instituto lançou uma plataforma de índices smart beta inteligente em abril de 2013 e teve a adesão de um total de 27 mil usuários, 500 dos quais são regulares. Gestores de recursos pode personalizar benchmarks e escolher diferentes exposições ao risco através da manipulação de cerca de 3000 índices na plataforma.
Carteira de US$ 5 bi – O fundo de pensão da United Parcel Service (UPS) utiliza estratégias de smart beta para 40% da carteira de renda variável, que hoje está avaliada em US$ 12 bilhões. O volume de investimentos que seguem índices inteligentes é da ordem de US$ 5 bilhões. Com patrimônio total de US$ 28 bilhões, o fundo de pensão sediado em Atlanta vem adotando os índices alternativos para dez carteiras diferentes de smart beta. São carteiras de ações tanto de empresas americanas quanto de países emergentes ou de fronteira, disse Syed Haque, gestor global de renda variável do UPS. O processo de utilização dos índices alternativos começou em 2011.
Neste momento, o fundo de pensão está em fase de conclusão da contratação de gestores para as novas carteiras de smart beta. Alguns dos índices inteligentes que UPS está usando foram desenvolvidos internamente. Outros vieram de provedores como MSCI e FTSE. O fundo de pensão tem implementado todos eles em carteiras passivas com gestão externa. O UPS tem demonstrado preferência pelas estratégias smart beta devido ao baixo custo da gestão e a eficiência de captura de prêmios com baixo risco. “Cada ponto percentual de taxa é importante”, diz Haque. O fundo de pensão paga aos gestores de fundos de smart beta entre 3 e 15 basis points – mais do que as taxas cobradas para os fundos passivos, mas menores do que os custos de gestão ativas, diz Haque.
“O objetivo geral da carteira de smart beta é capturar diferentes prêmios de risco a longo prazo, suavizar o desempenho em diferentes condições de mercado e minimizar o risco de todas as estratégias baseadas na otimização”, diz o gestor do UPS.
Versão 2.0 – Noel Amenc, diretor do Instituto de Riscos EDHEC, sediado em Nice, França, que é consultor do UPS, também defende as estratégias que seguem os smart betas. Mas o especialista sugere a utilização de diversos índices ao invés da adoção de uma única estratégia. “Você não vai conseguir um boa gestão de risco relativo com apenas um índice. Você vai conseguir isso com a diversificação entre smart betas”, diz Amenc.
“O que eu chamo smart beta 1.0, é a primeira geração de índices beta. São estratégias que não pretendem controlar explicitamente a exposição a um fator e que não fornecem índices bem diversificadas”, diz Amenc. “Quando você usa índices inteligentes, eles não têm qualquer objetivo da diversificação e, além disso, não usa a correlação entre os estoques. Eles apenas tentam maximizar a sua exposição ao valor com uma seleção de critérios que produziram um bom desempenho no passado”, explica Amenc.
A solução, em geral, é “tentar diversificar o risco de seus smart betas”, recomenda Amenc, que defende uma nova geração de índices chamados “multibetas”, ou também apelidados pelo especialista de geração 2.0. O consultor explica que esta nova geração de índices smart betas combinam controle de riscos e a escolha de exposição a determinados fatores, afastando o risco específico que os investidores não querem.
“A solução é diversificar através de diversas estratégias. Nós não confiamos em gênios; não confiamos em alguém dizendo que tem a melhor estratégia do mundo”, diz. Ao invés disso, o consultor recomenda diversificar em diferentes exposições ao risco. “Você vai conseguir se beneficiar com o uso dos smart se investir em índices bem diversificados. Assim você estará exposto a diferentes betas, com uma limitação clara do tracking error”, diz Amenc.