Risco com cautela | Necessidade de assumir mais risco nas carteir...

Edição 287

 

A alta do Ibovespa no acumulado de 2016, próxima aos 50%, faz com que as fundações adotassem uma postura mais cautelosa na avaliação de novos investimentos no segmento. No entanto, no ambiente previsto para 2017 a busca por maior risco na carteira será um caminho obrigatório para as fundações, diante do ciclo de queda dos juros iniciado em outubro pelo Banco Central (BC).
Com esse dilema entre ter de partir para ativos que trazem mais volatilidade à carteira, sendo uma das opções mais ‘óbvias’ às fundações o mercado doméstico de renda variável, que já precificou boa parte da melhora do cenário prevista para 2017, começa a ganhar espaço nas conversas entre fundos de pensão e gestores um instrumento financeiro ainda pouco utilizado por esse público: os fundos de capital protegido. No modelo de capital protegido, o investidor entra no fundo sabendo que, se a bolsa registrar uma nova alta como a deste ano, os ganhos não serão totalmente absorvidos; contudo, se a bolsa cair no período, o investidor recebe o principal ao final do período do fundo.
O presidente da Casfam – Caixa de Previdência da Fiemg, Guilherme Velloso, avalia que os fundos de capital protegido representam uma boa alternativa de investimento, à medida que oferecem uma exposição a um mercado mais volátil sem que o investidor tenha de assumir tanto risco. Ainda assim, Velloso entende que esse instrumento financeiro terá uma evolução bastante gradual na carteira das entidades. “Entendo que é um produto interessante, só que é muito específico para o que cada fundação está fazendo ou planejando fazer, principalmente em relação aos índices de ações para os quais elas queiram ter determinada proteção”, avalia Velloso.

Específico – O consultor da Aditus, Guilherme Benites, não acredita que o produto ganhe espaço como uma alocação estrutural dos fundos de pensão. Ainda que reconheça que há de fato alguma demanda no mercado por esse instrumento, o especialista entende que sua utilização deve ficar mais restrita a duas situações específicas. “Vejo os fundos de pensão alocando nesse tipo de produto caso queiram investir em um benchmark com o qual ainda não estão muito habituados, como algum investimento no exterior por exemplo, ou em um mercado em que eles entendam que já subiu muito”, pondera Benites.
Uma hipótese prevista pelo consultor de uma fundação que possa se interessar pelos fundos de capital protegido se refere à bolsa, que acumula valorização próxima de 50% no acumulado de 2016. “O fundo de pensão pode ter a sensação de que ainda tem mais ganhos por vir, mas também não está tão confiante assim porque a bolsa já subiu forte. Pode ser uma opção interessante, já que a entidade consegue aumentar sua exposição em bolsa sem aumentar tanto o risco”.
Pela conjuntura atual, Benites entende que o produto pode ter um pouco mais de apelo em 2017, justamente por conta de algumas fundações interessadas em aproveitar um ganho que a bolsa ainda possa oferecer à frente. “A conjuntura favorece um demanda um pouco maior, mas não acredito que teremos um movimento estrutural. Trata-se de um instrumento que depende muito dos níveis dos mercados”.
Para o consultor da Aditus, um público em potencial a utilizar os fundos de capital protegido são aquelas fundações que têm boa parte de suas carteiras indexadas aos benchmarks mais líquidos do mercado. “Para as entidades interessadas em ganhos na bolsa fora do Ibovespa, em estratégias de valor ou de small caps, não tem como ser por meio dos fundos de capital protegido, já que eles são muito restritos por precisarem das opções dos índices na bolsa”, pontua Benites, que ressalta que o mercado brasileiro de opções ainda é relativamente restrito.

Exterior – Guilherme Velloso, da Casfam, nota que uma das alternativas para os fundos de capital protegido entre institucionais são as estratégias de investimento no exterior. O câmbio, entretanto, pode ser um fator a desestimular as fundações a buscarem esse produto, ao menos no curto prazo. “Uma procura maior por esses instrumentos requer um cenário interno mais estável, sem tanta volatilidade da moeda”.
O fechamento da curva de juros prevista para 2017, contudo, deve forçar as fundações a buscarem estratégias diversificadas que assumam um nível de risco mais elevado, e os fundos de capital protegido podem ser uma boa alternativa, comenta o dirigente. “Essa pode ser uma operação interessante para a entidade buscar uma proteção, mantendo a maior parte do fundo em títulos públicos, assegurando essa proteção, e com uma estrutura de opções em renda variável ou com ativos no exterior para ter um ganho adicional”.

No forno – Atenta aos institucionais que se veem obrigados a partir para uma alocação com maior exposição ao risco a partir de 2017, mas que não tem tanto apetite para incorrer em fundos com muita volatilidade, a SulAmérica Investimentos deve lançar nos próximos meses fundos de renda variável na modalidade de capital protegido. “Estamos avaliando, e provavelmente essas estratégias vão se viabilizar. Estamos no meio de diversas discussões com algumas fundações sobre essas estruturas, que fazem sentido para esse investidor”, afirma Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos da asset. “Estamos em um ponto de inflexão, e depois de muito tempo sem nenhum apetite para sofisticação a gente vê esse ambiente mudando”.
Mello ressalta que as fundações em potencial que a SulAmérica Investimentos mira com esse novo produto são aquelas que estão com déficits atuariais, e que não podem ter novas rentabilidades negativas em suas carteiras. “Temos conversado com uma série de entidades e são grandes as chances de lançarmos essas estratégias com algumas fundações”. O executivo explica que as estruturas desses fundos tendem a ser customizados para a demanda de cada fundo de pensão. De qualquer maneira, como exemplo ele cita operações de capital protegido com estruturas mais simples, que devem ser entendidas com maior facilidade pelos investidores, ainda pouco acostumados a operar com esse tipo de instrumento no país. “Se a bolsa cair em qualquer nível, o investidor vai ter o principal daqui um ano. Se ela subir até 30%, o investidor vai acompanhar toda a variação da bolsa. E se subir mais de 30%, os ganhos ficam travados em 30%”. Esse é um exemplo de operação que pode ser feita, pondera Mello.

Inflação – Além dos fundos de capital protegido, há cerca de dois anos o mercado trabalha também com os Certificados de Operações Estruturadas (COEs), que são semelhantes em suas estruturas – ambos permitem ao investidor apostar em um determinado cenário previsto, com uma trava tanto para eventuais perdas como para possíveis ganhos expressivos. A diferença principal é que o COE é um instrumento mais individualizado, no qual o investidor pode montar um instrumento customizado para si próprio, enquanto nos fundos geralmente o interessado tem de comprar cotas de uma estrutura já montada por terceiros, explica Carlos Albuquerque, superintendente de produtos da Cetip.
Entre os principais indexadores que os investidores escolhem para montar seus COEs, 44% opta por índices de inflação, sendo que na maioria dos casos o IPCA é o selecionado. Outros 20% dos COEs em estoque na Cetip são referenciados na taxa de câmbio. “São COEs que atrelam o cenário do retorno ao cenário relacionado com o câmbio”, explica o superintendente. Outros 14% do estoque estão referenciados em índices domésticos de ações, e 6% em índices globais de renda variável. O especialista entende que os institucionais são um investidor em potencial para também fazer uso do COE, eventualmente até como um hedge. “O COE pode ser mais um diversificador de investimento dentro do portfólio dos institucionais, principalmente por permitir acesso a índices internacionais sem ter de mandar recursos para o exterior”.