Poucas oportunidades | Apesar do fechamento da curva de juros nos...

Edição 299

 

Projeções de demanda por ativos ao final de 2018 (em pdf)

O ciclo de cortes promovido pelo Banco Central (BC) na Selic, que saiu de 14,25% para a mínima histórica de 7%, com a consequente queda nos prêmios ofertados no mercado de juros futuros, reduziu as oportunidades a serem capturadas pelos investidores na renda fixa. Ainda assim, diante das inúmeras incertezas que permeiam o cenário para 2018, com o quadro eleitoral e fiscal indefinidos, a curva de juros futuros segue com prêmios expressivos que podem gerar retornos atraentes aos investidores, segundo análise de especialistas do mercado.
Carlos André, diretor executivo da BB DTVM, é um dos que tem chamado a atenção dos clientes para os prêmios que ainda existem na curva de juros em função das incertezas no cenário previsto para 2018. “Quando analisamos o que o mercado está precificando em termos de comportamento das taxas de juros futuros, percebemos prêmios bastante elevados, desde os prazos mais curtos até os mais longos”, afirma Carlos André. Segundo ele, não é necessariamente uma verdade que as estratégias de renda fixa vão apresentar retornos pouco competitivos diante dos prêmios oferecidos atualmente. “Estratégias na renda fixa ao longo de 2018 vão ter muito a ver com a percepção dos investidores em relação ao prêmio de risco na curva, caso essa percepção comece a se tornar mais benigna”, prevê o especialista.
No entanto, justamente por conta dos riscos existentes no horizonte, a gestora do Banco do Brasil tem recomendado aos investidores que se posicionem no mercado de juros futuros nos prazos mais curtos, até 2021 no máximo, a fim de evitar a volatilidade que acomete de forma mais acentuada os contratos longos. “Acima desse prazo entendemos que o risco fica muito elevado, já que mesmo com os prêmios significativos o nível de incertezas é muito alto”, diz o diretor da BB DTVM.
Carlos André comenta também que estratégias na renda fixa indexadas à inflação por meio das NTN-Bs, ainda que possam não apresentar retornos tão positivos quanto os ativos pré-fixados, por outro lado oferecem proteção caso o cenário não caminhe de acordo com as expectativas dos investidores.
Ainda dentro da renda fixa, o diretor da BB DTVM também lembra de eventuais oportunidades a serem absorvidas no segmento de crédito privado. Ele nota que os investidores têm sido mais seletivos na aquisição de ativos dessa natureza, exigindo mais prêmio para aceitar determinado risco.

Inclinação – Eduardo Castro, superintendente executivo de investimentos da Santander Asset, também avalia que, apesar da queda da Selic (a gestora projeta a taxa básica de juros a 6,5% ao término do atual processo de flexibilização monetária), ainda existem oportunidades a serem aproveitadas nos vértices médios e longos da curva de juros real e nominal das NTN-Bs.
“A parte longa da curva (prazos longos) está extremamente premiada, tem praticamente 3% de inclinação na curva de juros”, pontua o superintendente, que acrescenta que hoje uma das principais discussões no mercado de renda fixa é buscar entender as razões para esse formato atual da curva de juros. “Não há uma única resposta para isso”, diz Castro, que cita entre as possíveis razões o final do ciclo de redução dos juros, quando as curvas normalmente ficam mais inclinadas, a indefinição do processo eleitoral e as incertezas sobre o ajuste fiscal. “Independentemente dessa discussão, o fato é que ainda tem bastante prêmio na ponta longa da curva”.
Como a Santander Asset trabalha com uma estimativa de Selic de 6,50% para o final de 2018, o superintendente acredita que ainda haverá um fechamento importante dos juros nos próximos meses diante do atual patamar da curva. “Existe um nível de prêmio extremamente alto, e é algo que os investidores devem prestar atenção”.

Previdência – Sergio Bini, superintendente nacional de ativos de terceiros da Caixa, reconhece que a renda fixa perdeu atratividade, mas, por outro lado, destaca também que ainda existem prêmios a serem capturados na curva de juros. “Existe uma inclinação acima da média histórica da curva, com a ponta longa com prêmios relevantes por conta das incertezas sobre as eleições e o quadro fiscal”, afirma Bini. Ele avalia que um fechamento adicional da curva, após todo movimento observado em 2017, poderia ocorrer caso a reforma da previdência seja aprovada antes das eleições, fato que o gestor não acredita que irá acontecer ao menos até 2019, ou se um candidato pró-reforma começar a despontar na frente nas pesquisas.
A correção na atual inclinação da curva também poderia ocorrer caso a parte mais curta tivesse uma elevação, fato que o superintendente da Caixa também considera improvável dada as expectativas ancoradas para a inflação no curto e médio prazo. “De qualquer forma, temos monitorado o mercado caso aumentem as probabilidades de uma correção da curva para que possamos nos posicionar para tirar proveito do movimento”, afirma Bini.

Redução – Na visão do diretor da Bradesco Asset Management (Bram), Ricardo Almeida, à medida que os investidores procurarem maior diversificação de suas carteiras para manter os retornos condizentes com seus passivos atuariais, o segmento de renda fixa provavelmente receberá menos aportes, ainda mais se compararmos com o observado no passado recente, e principalmente quando se tratam dos ativos atrelados ao CDI. “Temos que lembrar que os fundos de pensão ainda concentram um volume grande de renda fixa em suas carteiras, e esse volume deve cair um pouco nos próximos meses”, pontua Almeida.
Por outro lado, o executivo da Bram aponta que os títulos pré-fixados devem continuar aparecendo em grande escala nas carteiras dos investidores.
O gerente de portfólio da Itaú Asset Management, Rodrigo Noel, também destaca a excessiva concentração que ainda existe nos portfólios das fundações atendidas pela casa em ativos de renda fixa. “Temos casos de investidores institucionais com mais de 50% dos investimentos atrelados ao IMA-B e IMA-B 5+. Esses mesmos clientes tinham exposições muito pequenas em renda variável, e isso faz com que as carteiras dependam de um bom desempenho da renda fixa, já que elas não têm capacidade de capturar eventuais prêmios da renda variável”, explica o especialista da Itaú Asset, que tem recomendado aos clientes que busquem uma maior diversificação de suas carteiras.
De maneira geral, Noel acredita que a renda fixa está menos atrativa, mas na avaliação do especialista ainda vale ter exposições a esse segmento. O executivo complementa, no entanto, dizendo que o grande movimento a ser aproveitado pelos investidores nesse nicho de mercado já passou, uma vez que a Selic caiu de 14,25% para 7% e deve chegar a 6,75% pelos cálculos da gestora. “Mesmo quando olhamos para prazos mais longos não vemos perspectivas para a Selic retornar aos patamares que tínhamos até pouco tempo atrás. Mas dependendo da evolução da questão fiscal, mais especificamente da aprovação da reforma da previdência, e o desenrolar do cenário externo e das eleições locais, ainda podemos ver grandes oportunidades em ativos brasileiros de forma geral”.