Edição 296
IPOs e follow-ons em 2017 (em pdf)
A retomada em 2017 das ofertas iniciais de ações (IPOs na sigla em inglês), com uma série de empresas que têm vindo a mercado após o fim da recessão econômica [veja quadro ao lado], deve fazer deste ano um dos melhores para a estréia de novas empresas na bolsa brasileira desde o último boom nessa área, no já longínquo 2007. Naquele ano, os IPOs movimentaram cerca de R$ 60 bilhões, e nos primeiros oito meses deste ano os IPOs e follow-ons (ofertas secundárias) “já levantaram cerca de R$ 24 bilhões e outros R$ 40 bilhões são esperados para os próximos doze meses”, diz André Rosenblit, diretor de equities do Santander.
Os fundos de pensão têm monitorado as emissões, mas por enquanto a participação desse público ainda é tímida nos IPOs recentes – a Previ somente se desfez de uma parte de sua posição no IRB, e a Funcesp fez um pequeno aporte na operação do Carrefour. Marcus Moreira, diretor de investimento da Previ, afirma que a entidade avalia participar das próximas operações como forma de diversificação de sua carteira de renda variável. “A entidade tem monitorado todas as operações, mas até o momento não teve participação ativa em nenhuma delas”, diz. Segundo ele, a fundação do BB só fez parte do IPO do IRB por ter exposição ao FIP Barcelona, que detinha uma fatia na resseguradora, que foi reduzida com a abertura de capital da empresa.
Liquidez – “O fundo manteve uma posição relevante no IRB, mas o IPO foi importante para gerar liquidez ao ativo. Sempre temos falado que um dos trabalhos que procuramos realizar nos últimos anos é dar melhores condições de liquidez aos nossos ativos”. Moreira ressalta que a Previ nunca teve a intenção de zerar sua exposição no IRB, até por acreditar no potencial de ganhos que a empresa ainda pode apresentar.
Ainda dentro da política de melhoria da liquidez de seus investimentos, o diretor da Previ aponta também o caso da Vale, que teve seu controle pulverizado com o novo acordo de acionistas firmado neste ano. Ele ressalta, no entanto, que o incremento na liquidez da Vale não significa que a fundação automaticamente irá analisar um possível desinvestimento do ativo. “Mas a liquidez nos dá essa possibilidade para o futuro se entendermos como a melhor opção do momento”, pondera Moreira.
O diretor de investimentos do maior fundo de pensão do país entende que o novo ambiente macro, com taxas de juros menores, deve contribuir para a participação da Previ nos próximos IPOs, já que o movimento que a fundação estava objetivando em sua política de investimentos para os próximos anos, de reduzir a exposição em renda variável e aumentar em renda fixa, deve ter sua velocidade revista. Segundo Moreira, a fundação tem olhado “com bastante carinho para os IPOs, tanto com uma visão de desinvestimento em empresas em que a Previ seja acionista, como do ponto de vista de novas oportunidades de investimento”.
A atenção que a Previ tem dado aos IPOs, prossegue seu dirigente, é pela possibilidade de acrescentar à carteira ativos que a entidade ainda não tem exposição, gerando com isso uma melhor diversificação do portfólio. “Entendemos que os IPOs são positivos por permitirem uma desconcentração da carteira”. O diretor ressalta, contudo, que não considera a carteira de renda variável da Previ concentrada, mas ele entende que uma mudança nas características do portfólio, já em curso, deve prosseguir nos próximos anos. “A Previ sempre deteve participação em blocos de controle das empresas, e vamos buscar participações mais líquidas”, afirma o dirigente.
Moreira diz também que os preços em que saíram algumas das operações foram considerados excessivamente elevados pelos gestores do fundo de pensão, o que contribuiu para que ele ainda não tenha entrado em nenhuma das ofertas dos últimos meses. “Além disso, também pesou para não participarmos até agora nosso momento de rediscussão das estratégias, o que nos levou a optar por esperar um pouco mais, para talvez participar de maneira mais efetiva nas próximas operações”.
Comparabilidade – Na Funcesp, o diretor de investimentos Jorge Simino conta que a entidade também tem acompanhado de perto as emissões de novas ações, “mas até o momento só tivemos uma participação pequena na do Carrefour”, conta o especialista, que prefere não detalhar quanto a entidade investiu nas ações da rede de supermercados. A Funcesp detém também exposição aos papéis do Pão de Açúcar, e a ideia ao investir no IPO do Carrefour, explica Simino, é fazer um comparativo entre as duas empresas do mesmo setor para ver qual delas terá um desempenho mais positivo nos próximos meses. O diretor pontua que a entidade não reduziu a exposição no Pão de Açúcar para fazer o aporte no Carrefour.
Estrangeiros – Simino avalia que os estrangeiros têm dado sustentação importante aos IPOs do mercado brasileiro, à medida que esses investidores prosseguem em busca de ativos de maior retorno para suas carteiras em função dos juros próximos do zero nos mercados desenvolvidos. E diferentemente de seu colega da Previ, o diretor da Funcesp não entende que os preços dos IPOs recentes ficaram em patamares elevados. Ele nota que é comum entre os estrangeiros, no momento da avaliação de determinado IPO, a comparação da empresa alvo com seus pares em regiões próximas, o que mantém o preço do ativo a ser emitido dentro de um intervalo que não se descola demais da cotação dos papéis de empresas similares. “Com isso a avaliação fica em patamares condizentes com o que se observa regionalmente e globalmente”.
André Rosenblit, diretor de equities do Santander, afirma que a liquidez abundante de recursos nos mercados globais fruto dos programas de compra de títulos dos grandes bancos centrais, somada à queda dos juros e aos primeiros sinais da retomada da economia no país, torna o ambiente bastante propício para a renda variável doméstica.
Rosenblit diz que, após a delação de maio de Joesley Batista que atingiu Michel Temer e gerou fortes perdas no mercado brasileiro, os investidores locais reduziram marginalmente sua exposição aos IPOs e follow-ons, com os estrangeiros, acostumados a lidar com casos de corrupção em diversos outros mercados emergentes, preenchendo essa lacuna. O especialista pondera que os estrangeiros costumam olhar mais para operações de grande porte e em segmentos específicos, como o de tecnologia e saúde. “Nesses casos os estrangeiros ficam com a maior parte das ações”, aponta o diretor do Santander.
Filtro – Para Magali Bim, gestora da JP Morgan Asset, os investidores estão mais seletivos na análise das ofertas e os emissores já se deram conta disso; só tem conseguido vir a mercado empresas de boa qualidade, avalia a especialista. “Já existe um filtro preliminar antes mesmo das operações chegarem ao mercado”, acrescenta a gestora. Na avaliação de Magali, na última onda de IPOs do mercado brasileiro, em 2007, a preocupação dos investidores quanto à governança e mesmo em relação ao potencial de ganhos das empresas era menor do que o observado atualmente. “Houve uma depuração e o que chega à mesa do investidor hoje é um pipeline mais selecionado”.
Entre os IPOs recentes, a gestora do JP Morgan comprou ações da resseguradora IRB e da empresa do segmento de saúde Hermes Pardini. O histórico positivo recente dos IPOs no mercado brasileiro deve ser uma boa referência para as três operações que estão atualmente no forno, da Tivit, Camil e Eneva, prevê Paola Bonoldi, co-gestora na JP Morgan Asset. “Além dessas três, devemos ter até o final do ano ao menos mais seis novas operações. O volume que foi levantado pelas empresas nos IPOs de 2017 até agora pode facilmente dobrar até o final do ano”, prevê Paola.