Nem só de Ibovespa vive a carteira de ações | FAR percebe mudança...

Edição 235

Não adianta mais definir apenas a parcela do patrimônio que será destinada à renda variável. Agora, é preciso avaliar quanto dessa carteira será alocado entre as diversas estratégias que compõem o reduto das aplicações em ações – como de valor, crescimento ou liquidez. “Por conta da queda dos juros e da necessidade de diversificação, as fundações estão começando a caminhar para essa diferenciação entre Ibovespa e renda variável. É preciso descolar uma coisa da outra”, aponta Roseli Machado, diretora de gestão da Fator Administração de Recursos (FAR).

Essa mudança do olhar dos fundos de pensão para a renda variável já começa a ser refletida nas políticas de investimento para os próximos anos. Fernando Augusto José, superintendente de distribuição de fundos do Banco Fator, conta que a instituição fez um estudo junto aos seus mais de 90 clientes da área institucional. O resultado do levantamento, que contou também com a colaboração de consultorias de investimento que prestam serviços para entidades fechadas de previdência complementar, mostra que, em média, 14% da alocação das fundações em renda variável está ligada a outros benchmarks que não Ibovespa, IBrX e IBrX-50 para o período entre 2012 e 2015 (veja mais no gráfico).
Roseli lembra que nos últimos anos o Ibovespa decepcionou muito os investidores. Para refrescar a memória: o índice fechou 2010 com alta de 1%, enquanto em 2011 caiu 18,1%. “Mas é o que eu sempre digo: existe vida além do Ibovespa”, garante a diretora. Tanto é que, além da família Sinergia, que já está em seu quinto produto, uma grande aposta da FAR para o segmento institucional é o Prisma, um fundo de ações cuja estratégia principal é antecipar os setores que serão beneficiados pelos ciclos econômicos do Brasil. Tanto ele quanto o Sinergia são, nas palavras de Roseli, fundos completamente descorrelacionados do Ibovespa.
Geração de alfa – Resumidamente, a estratégia do Prisma é se dedicar, com base no cenário econômico, aos setores que ganharão importância no Ibovespa daqui a algum tempo. Isto porque, enquanto o principal indicador da Bolsa brasileira ainda conta com um peso bastante relevante de commodities, outros setores ganham cada vez mais espaço na composição do Produto Interno Bruto (PIB) do País. “O Ibovespa de hoje não reflete o peso que cada segmento tem na economia brasileira. Desde 2008 temos observado isso e já conseguimos perceber uma migração do Ibovespa para os setores ligados à economia interna, como serviços e consumo”, aponta Roseli.
Em outubro de 2009, os segmentos de consumo, construção, concessões, aviação e alimentos e agronegócio respondiam juntos por 16% do índice; em janeiro de 2012, os ramos de serviços financeiros, health care, consumo, construção, concessões, aviação e alimentos e agronegócio passaram a corresponder a 36,5% do Ibovespa, segundo dados fornecidos pelo Fator. “São 20 pontos percentuais de diferença em menos de dois anos e meio. É bastante coisa. Quando lançamos o Prisma, em 2009, acreditávamos que os segmentos que compõem a carteira – como construção civil, educação, infraestrutura, aviação, hotelaria e serviços – ganhariam peso no Ibovespa, o que de fato aconteceu. A tese está funcionando”, constata.
Do ponto de vista de ciclo econômico, Roseli explica que o Prisma está focado em setores ligados ao aumento de emprego e salários e à expansão da oferta de crédito, além de infraestrutura. “Temos neste ciclo dois grandes motores: o investimento em infraestrutura e o crescimento da renda da população”, diz ela.
Do lado da rentabilidade, a adição de valor em relação ao Ibovespa é inegável. De outubro de 2009 (lançamento do fundo) a fevereiro de 2012, o Ibovespa variou 4,20%, enquanto o Prisma rendeu 45,85%. O fundo tem R$ 100 milhões de patrimônio, sendo 80% disso recursos de fundações. E de acordo com Fernando José, tem muita entidade pensando em aplicar no Prisma.