México inaugura sua segunda bolsa | Empresário mexicano cria segu...

Criada em 1894, a Bolsa Mexicana de Valores (BMV), instalada na cidade do México, dava as cartas de forma absoluta em solo asteca desde 1975, quando absorveu suas rivais mais jovens de Monterrey e Guadalajara. Seu longo reinado, contudo, acaba de chegar ao fim com a inauguração, em 25 de julho último, da Bolsa Institucional de Valores (Biva), uma bolsa com forte viés tecnológico em suas operações e que instalou-se a uma distância de apenas 7 quilômetros da BMV. “A concorrência é sempre positiva, pois viabiliza o crescimento e o aperfeiçoamento dos mercados”, diz Santiago Urquiza, mentor e principal acionista da Biva e também presidente da Central de Corretagens (Cencor), um grupo que atua há 25 anos nos segmentos financeiro e de capitais do México, além da América Latina e Estados Unidos.Criada em 1894, a Bolsa Mexicana de Valores (BMV), instalada na cidade do México, dava as cartas de forma absoluta em solo asteca desde 1975, quando absorveu suas rivais mais jovens de Monterrey e Guadalajara. Seu longo reinado, contudo, acaba de chegar ao fim com a inauguração, em 25 de julho último, da Bolsa Institucional de Valores (Biva), uma bolsa com forte viés tecnológico em suas operações e que instalou-se a uma distância de apenas 7 quilômetros da BMV. “A concorrência é sempre positiva, pois viabiliza o crescimento e o aperfeiçoamento dos mercados”, diz Santiago Urquiza, mentor e principal acionista da Biva e também presidente da Central de Corretagens (Cencor), um grupo que atua há 25 anos nos segmentos financeiro e de capitais do México, além da América Latina e Estados Unidos.
Retórica à parte, a novidade tirou a BMV, realmente, da sua zona de conforto. Além de alfinetadas sutis na Biva por parte de seus porta-vozes, a BMV anunciou, dois dias antes da largada da concorrente, um pacote de novas opções para o seu público, incluindo operações em blocos, que permitem negócios em grandes volumes sem maiores impactos sobre a formação de preços, além de melhorias nas vendas a descoberto e em operações internacionais. “A BMV ficou surpresa com a nossa chegada, assim como todo o mercado, mas não nos criou obstáculos”, observa diplomaticamente Urquiza. “Mudanças estruturais e tecnológicas, como as que estamos introduzindo, não são de fácil assimilação, mas contamos com o apoio da maioria dos agentes do setor.”
A Biva surge, de fato, com ar inovador. O projeto, que demandou investimentos de US$ 50 milhões, conta com suporte tecnológico da bolsa nova-iorquina Nasdaq e teve o seu índice, lançado em fevereiro, desenvolvido sob medida pela conceituada empresa britânica FTSE Russel, integrante do London Stock Exchange Group e referência global na área. O FTSE Biva Index reúne, no momento, 51 companhias, 15 a mais do que o equivalente da BMV, e será ajustado a cada semestre. “É um índice mais representativo da economia mexicana, pois mescla empresas de diferentes portes”, assinala Urquiza.
O grande desafio da novata será alavancar os negócios com ações, condição da qual dependerá, em última análise, a sua própria existência. Hoje, a Biva detém 10% das operações locais, que somam algo em torno de US$ 700 milhões ao dia, fatia que, acredita Urquiza, deverá dobrar no primeiro ano de atividades. “Sou otimista. A competição entre as duas bolsas permitirá um crescimento de 50% no volume de negócios até o início da próxima década”, projeta ele.
Boa parte dessa meta será cumprida, em sua avaliação, com a listagem das companhias de capital aberto mexicanas, que somam 150, o correspondente a 44% do total brasileiro. Os trabalhos de prospecção de novas companhias estão a cargo das corretoras locais e do Centro Educativo do Mercado de Valores (CEMV), ligado à Associação Mexicana de Intermediários Bursáteis (Amib). “Pretendemos atrair, até 2021, mais 50 empresas. A meta é plenamente factível, pois há por volta de mil corporações no México com faturamento anual a partir de US$ 30 milhões, enquadradas nos nossos requisitos”, comenta Urquiza. “As estreantes contarão com consultoria e serviços da Biva antes, durante e depois das operações de abertura de capital.”
A proposta de quebra do monopólio da BMV, agora consumada, ocorreu ao empresário na década de 1990, quando a Cencor atuava no mercado Over the Counter (OTC), no qual são negociados moedas, bônus e derivados. A semelhança do modus operandi do negócio com as bolsas de valores lhe deu ideias a respeito. Em 2004, ele consultou as autoridades mexicanas e recebeu sinal verde para tocar em frente o plano de uma nova bolsa no país. “Tivemos, porém, de pisar no freio em razão da eleição presidencial de 2006 e, dois anos depois, por causa da eclosão da crise financeira internacional”, relembra. “Retomamos os trabalhos para a criação da bolsa em 2013 e, em agosto do ano passado, recebemos a autorização da Secretaria de Fazenda e Crédito Público.”
A confiança de Urquiza na viabilidade da Biva guarda relação direta com a sua crença no potencial do mercado de capitais mexicano. Ele nunca se conformou, por exemplo, com o fato de o seu país, detentor do 15º PIB global, ocupar postos ao redor do 30º lugar no ranking internacional de negócios com ações e o 43º no total de companhias abertas. “O México é o oitavo maior player no mercado OTC e tem condições de alcançar o mesmo patamar em bolsas de valores. Da mesma forma, considerando que as empresas cotadas em pregões no Canadá e na Espanha faturam, em média, US$ 600 milhões ao ano, temos chances de elevar para 890 o total de companhias emissoras de ações no país”, exemplifica. “Ao menos, conseguimos agora, com o início das operações da Biva, ingressar no seleto grupo de nações com duas ou mais bolsas de valores em atividade.”
O feito asteca deixou o Brasil como o único entre os 15 países mais ricos a contar com somente um pregão (ver tabela). Dominado integralmente desde 2000 pela B3, que por sinal adquiriu 4,1% do capital da BMV há dois anos, o setor tem assistido a alguns ensaios de desconcentração (ver box). “O mercado brasileiro é grande, muito maior do que o mexicano. Mas cada país e cada mercado tem as suas razões”, desconversa Urquiza, recorrendo novamente à diplomacia.

Brasil ainda tenta criar a Nova Bolsa
A história de Urquiza e da Biva lembra um pouco a da Nova Bolsa, lançada pelo empresário Arthur Pinheiro Machado, acusado de envolvimento em operações irregulares com fundos de pensão e Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). Machado, presidente da Americas Trading Group (ATG), pretendia criar em São Paulo uma nova bolsa de valores para concorrer com a B3. Seu ponto vulnerável foi sempre a liquidação e custódia, sistemas que a B3 possui mas se negava a ceder-lhe.A história de Urquiza e da Biva lembra um pouco a da Nova Bolsa, lançada pelo empresário Arthur Pinheiro Machado, acusado de envolvimento em operações irregulares com fundos de pensão e Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). Machado, presidente da Americas Trading Group (ATG), pretendia criar em São Paulo uma nova bolsa de valores para concorrer com a B3. Seu ponto vulnerável foi sempre a liquidação e custódia, sistemas que a B3 possui mas se negava a ceder-lhe.
Por anos a ATG tentou conseguir da B3, então Bovespa, autorização para operar através desses sistemas. A B3 não parecia disposta a abrir espaço em seus sistemas para concorrentes. Quando finalmente parecia que o braço de ferro com a B3 iria se resolver, já que a condição imposta pelo Cade para aprovar a fusão da Bovespa com a BM&F era que os serviços de liquidação e custódia fossem disponibilizados a terceiros a custos definidos por Arbitragem (que foi a seguir instalada para estudar o caso B3/ATG), o nome de Pinheiro surgiu nas denúncias da Operação Rizoma, deflagrada em abril último pela Força-Tarefa da Lava-Jato do Rio de Janeiro. Ele foi preso e a seguir libertado por mandado judicial.
Apesar das acusações contra Machado, a ATG continua operando. Em nota, a empresa informou que: 1) Machado está afastado de todas as operações da empresa; 2) a prestação de serviços aos clientes da ATG continua normalmente; 3) a empresa continua comprometida com o desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil. Mas a dúvida é se teremos no Brasil uma Nova Bolsa, a exemplo da Biva no mercado mexicano, concorrendo com a B3.