Edição 237
A afirmação é de Sonia Favaretto, diretora de sustentabilidade da Bolsa. “Temos, na nossa condução de sustentabilidade, um investimento forte na adesão a princípios e participação em fóruns. Entendemos que, na medida em que a BM&FBovespa se envolve de maneira institucional, a mensagem que ela passa para o mercado é muito clara. Somos signatários do PRI na categoria de prestadores de serviços e fazemos parte do grupo de trabalho de engajamento, cujo foco é especificamente engajar as empresas nessa agenda”, explica a executiva.
Ela conta que, além do trabalho no âmbito do PRI, a BM&FBovespa tem outras inciativas na área de responsabilidade socioambiental e governança corporativa, tais como o programa Em Boa Companhia. Lançado em abril do ano passado, o projeto tem como objetivo “aprofundar as discussões sobre o impacto da gestão de sustentabilidade e do investimento social na rotina das companhias”. Segundo comunicado feito pela Bolsa na época do lançamento, o Em Boa Companhia – Programa de Sustentabilidade com Empresas promove iniciativas como o compartilhamento de informações por meio de newsletters e publicações, encontros presenciais trimestrais na Bolsa com especialistas em sustentabilidade e um encontro anual aberto por ocasião do anúncio da nova carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), em novembro, além da reformulação do site Em Boa Companhia. Criado em 2007 para publicação dos projetos socioambientais das companhias abertas, o site reformulado deve “dar ainda mais visibilidade às boas iniciativas praticadas pelas empresas listadas”.
“Por meio do programa, publicamos um guia de sustentabilidade sob o ponto de vista do mercado de capitais, que fala para a empresa os motivos pelos quais ela deve incluir princípios de sustentabilidade na sua gestão, no seu dia a dia e nas suas práticas”, afirma Sonia. Para a executiva, é importante não só que o investidor priorize essas questões na hora de selecionar os investimentos, mas também que isso seja claramente demonstrado para as empresas.
Ela acrescenta que o analista é uma figura relevante nesse processo. “O analista e o investidor andam de braços dados, e não adianta nada se o analista não olhar as questões de sustentabilidade ao fazer a recomendação ou a análise de uma empresa”, aponta Sonia, ao definir que a Bolsa entende que o seu papel é “fazer as pontas conversarem”.
Retorno – Apesar de ainda não haver modelos matemáticos capazes de demonstrar que investimentos responsáveis geram mais retorno, hoje já é possível recorrer a alguns parâmetros para apontar que existe sim uma relação entre as duas coisas. Um deles é a comparação do desempenho do ISE e do Ibovespa (veja mais no gráfico).
“É claro que o ISE e o Ibovespa são diferentes, mas essa é a referência que nós temos. E o fato de o ISE vir performando consistentemente acima do Ibovespa não é coincidência. Nós não podemos dizer que um índice de sustentabilidade vem tendo essa performance à toa. E isso não envolve só o ISE, mas o IGC [Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada] e o ICO2 [Índice Carbono Eficiente] também. O investidor já passa a perceber que os índices de sustentabilidade trazem diferenciais interessantes e geram mais rentabilidade. Isso já começa a ser verdadeiro”, constata a executiva.
Ela acrescenta que a outra forma de auferir as vantagens trazidas pelo investimento responsável é menos pelo retorno e mais pelo risco. “O risco ainda é o ponto de vista pelo qual nós fazemos a interlocução com o investidor de maneira mais acertiva. Porque se por um lado ainda não dá para dizer que investindo nas questões de sustentabilidade é garantido que o retorno será maior, por outro não investir aumenta o risco do investidor exponencialmente. Seria expor o seu patrimônio a riscos sociais e ambientais por escolher uma empresa que não está preocupada com essas questões. Acho que isso já ficou claro no mundo”, observa a executiva. Ela lembra que quando alguma empresa se envolve em desastres ambientais ou problemas sociais relevantes, o impacto nas ações é imediato.
ETFs – Uma prova de que o investidor está mais interessado em investimentos responsáveis é a criação de ETFs (Exchange Traded Funds, ou fundos de índices) atrelados a índices relacionados ao tema. Sonia lembra que o ETF que tem o ISE como referência, gerido pelo Itaú, foi lançado no ano passado. “Houve uma demanda do mercado, a Bolsa abriu uma concorrência e o Itaú foi o vencedor”, recorda a executiva. O Itaú também venceu a concorrência para ser o gestor do fundo referenciado no Índice de Governança Corporativa Trade (IGCT). Além disso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prepara o lançamento, em breve, do ETF ICO2, fundo de índice que vai replicar o comportamento das empresas que formam o Índice Carbono Eficiente (ICO2). O banco escolheu para gestor do novo ETF a BlackRock.
Sonia comenta que na época de lançamento do ISE, em 2005, era inimaginável falar em ETFs. “Não havia mercado e não era viável economicamente colocar um produto desse tipo no mercado. Já o ICO2, que foi pensado há dois anos, nasceu com a perspectiva de lançamento do ETF por parte do BNDES. Exemplos como esse nos fazem sentir o quanto a percepção do mercado em relação aos investimentos responsáveis mudou nos últimos anos”, aponta a executiva.
Para ela, já não existe mais a sensação de que é bom adotar práticas socioambientais responsáveis somente por uma questão de boa reputação. “Acho que hoje é uma miopia não enxergar essa agenda como uma variável de negócio. E também passamos da fase de pensar que são práticas que só vão dar resultado no longo prazo. Há empresas que estão chamando a atenção do investidor pela postura que adotam hoje”, avisa Sonia.