Fundos de BDRs andam de lado em 2014 | Recibos de ações estrangei...

Joaquim Levy, da BramEdição 262

 

Os fundos de BDRs (Brazilian Depositary Receipts, na sigla em inglês), que permitem aos investidores brasileiros apostar em empresas com ações negociadas na Bolsa de Valores dos Estados Unidos, sem sair do âmbito local, foram uma das poucas tábuas de salvação para os fundos de pensão brasileiros em 2013, quando o investimento no exterior efetivamente começava a ser estudado pelas fundações. 

O fundo de BDRs da Bradesco Asset Management (Bram) subiu mais de 40% e amenizou as perdas das fundações que entraram no produto. A Caixa também lançou seu fundo de BDRs, mas como ele foi colocado no mercado apenas em junho de 2013, os ganhos do fundo do banco público ficaram bem abaixo do de seu concorrente privado.
Em 2014, no entanto, o cenário, ainda que prossiga bastante volátil em termos domésticos, já não se mostra tão favorável aos fundos de BDRs, uma vez que o câmbio deixou de ser uma contribuição, e os índices estrangeiros também não repetem a mesma performance positiva do ano passado, ao mesmo tempo em que o Ibovespa, ainda que mais calcado em especulação eleitoreira do que fundamentos, passou a ter um desempenho melhor do que num passado recente.
Em 2013, o dólar subiu 15,3% contra o real, enquanto em 2014, até julho, a moeda americana perde quase 4% ante a divisa brasileira, ainda que esse movimento comece a dar sinais de esgotamento. Além disso, de janeiro a julho de 2013, o S&P 500 subiu 18,2%, contra uma valorização de 4,5% em igual período do ano corrente. Na mesma toada, o Dow Jones, que nos sete primeiros meses do ano precedente também avançou 18,2%, de janeiro a julho de 2014 está no zero a zero; e o Nasdaq, que ganhou 20%, neste ano sobe 5%. O Ibovespa, por sua vez, que de janeiro a julho do ano passado caiu 20,8%, este ano subiu 8,4% na mesma base de comparação.
Esse cenário ganha nitidez quando olhamos para o desempenho do BDRX, índice que acompanha os BDRs negociados na BM&FBovespa – em 2013, o índice subiu 48,8%, e em 2014, até julho, avança somente 2,1%, abaixo do CDI, que avançou 5,96% no período.

Realização – Embora fuja um pouco do mantra que é preconizado pela maior parte dos especialistas de mercado, Joaquim Levy, diretor-superintendente da Bram, ressalta que em certos momentos é importante para o investidor realizar parte dos ganhos, para então decidir se quer voltar a esse mercado especificamente. “É como os imóveis, estão falando que o preço nunca cai, até o dia em que cai”, diz o executivo.
Ainda que esse raciocínio, diz Levy, seja mais importante para o investidor pessoa física, ele não pode ser descartado quando se trata dos institucionais. “Esse raciocínio vale para não deixar uma parcela da carteira crescer demais e desbalancear a realocação em outra. De modo geral os fundos de pensão têm isso, uma carteira de ações que cresceu demais e de 5% passou para 10% do total. Chega uma hora que é importante realizar isso, uma estratégia de balanceamento se mostra prudente e eficaz”.
O fundo de BDRs da Bram, que foi um dos mais rentáveis de toda a indústria em 2013, sobe aproximadamente 3% em 2014. “A alta é menor que a do CDI por causa do dólar”, diz Levy. Com patrimônio ao redor dos R$ 288 milhões, os institucionais respondem por aproximadamente um terço do montante total.

Manutenção – Apesar das mudanças ocorridas num intervalo de tempo relativamente curto, os institucionais que entraram nos fundos de BDRs evitaram realizar saques, tanto pela visão de longo prazo como também pela espera por novas alterações no ambiente internacional. Na São Rafael Previdência, fundo de pensão dos funcionários da Xerox, dos 10% de renda variável, dentro de uma carteira total de R$ 860 milhões, uma parte minoritária está alocada no fundo de BDRs da Bram.
No primeiro semestre de 2014, a renda variável da fundação teve ganho consolidado da ordem de 3,6%. “Acredito que o cenário econômico no exterior tende a trazer melhorias às economias internacionais, que estão em um estágio de melhoria, e não de deterioração”, afirma Marco Aurélio de Azevedo, diretor-superintendente da entidade. “Lá fora existe uma dupla oportunidade de crescimento, parte por conta da Bolsa, além do próprio dólar, que tende a ficar em um patamar mais alto do que está hoje”, pondera Azevedo. Embora no acumulado do ano o dólar ainda perca valor frente ao real, se considerarmos apenas a partir de julho, até a primeira quinzena de agosto, a divisa global sobe 2,6% ante a brasileira.