ETF para a renda fixa | Com lançamento previsto para o ano que ve...

Carlos Takahashi, da BB DTVMMarcos Litz, da FibraParticipação por tipo de investidorEdição 261

 

Os investidores institucionais já respondem pela maior fatia do mercado de ETFs de renda variável que estão hoje disponíveis no país. Dos cerca de R$ 3 bilhões de Patrimônio Líquido (PL), 37,3% estão nas mãos dos institucionais, com as instituições financeiras e os estrangeiros na sequência, com 28,6% e 23,5%, respectivamente. A tendência é que essa fatia dos institucionais cresça ainda mais, principalmente a partir do ano que vem, quando deveremos ter os primeiros lançamentos dos novos ETFs de renda fixa.

“Não sabemos exatamente como isso vai ser colocado, mas estamos nos preparando para participar de um processo dessa natureza para podermos atuar no mercado de ETFs”, diz Carlos Takahashi, presidente da BB DTVM. Ele lembra que a gestora de ativos do Banco do Brasil é a maior do país no segmento de renda fixa [ocupa a primeira colocação no Top Asset na soma de títulos públicos e privados, com R$ 493 bilhões] e conta também com uma boa capilaridade para conseguir distribuir o produto. “Tanto pelo ativo do ETF como pelo público que o produto pretende atingir, entendemos que temos uma condição bastante competitiva”, diz Takahashi.
O executivo da BB DTVM acredita que o processo de crescimento dos ETFs de renda fixa deve ser gradual, assim como tem ocorrido com seus pares de renda variável. “Não imagino um crescimento rápido e vertiginoso em um curto espaço de tempo, em substituição a outras alternativas”, prevê. Ele acredita que o IMA-B, índice da Anbima que reúne os títulos indexados ao IPCA, deve ser o primeiro a ser usado como lastro para o primeiro ETF de renda fixa do mercado brasileiro.
“O ETF de renda fixa vem para dar mais previsibilidade na gestão da dívida pública. Os ativos que compõem o IMA-B são de duration mais longa e atrelados a índices de preços, exatamente a estratégia de alongamento do perfil da dívida”, diz o executivo da BB DTVM.
Ainda que num primeiro momento os ETFs sejam lastreados em títulos públicos, Takahashi acredita que, quando esse mercado ganhar tração, outros ativos de renda fixa, como títulos de crédito privado, também poderão ser lançados.
“Os investidores têm aumentando o uso dos ETFs no Brasil devido à conveniência, custo-eficiência e transparência que o produto oferece. Os ETFs de renda fixa serão uma grande ferramenta para os investidores estrangeiros que procuram acesso aos títulos do governo brasileiro. Ao trazer novos investidores para o mercado de títulos públicos, a indústria de ETFs deve ajudar a melhorar a transparência e liquidez nos títulos do governo”, diz comunicado da BlackRock, a maior gestora global de ativos, com cerca de US$ 4,4 trilhões de ativos sob gestão.
Somente em ETFs a BlackRock tem quase US$ 1 trilhão. Globalmente, os ETFs giram aproximadamente US$ 2,5 trilhões, distribuídos em mais de cinco mil fundos de índices.
Caixa Econômica – Outro player que deve entrar no segmento de ETFs de renda fixa, a Caixa Econômca Federal ainda estuda as opções de produtos. “Acredito que devem começar com os índices da família IMA, mas ainda não temos certeza”, pontua Alenir Romanello, superintendente nacional de Desenvolvimento de Produtos para Ativos de Terceiros da Caixa.
Os gestores apostam que as fundações migrem parte das carteiras de renda fixa para os fundos de índices da modalidade. “Deverá existir interesse pelo produto, já que grande parte dos recursos desse público está alocado em fundos ou ativos de renda fixa”, nota Alenir, da Caixa.
A Caixa pode ter seu trabalho facilitado com o novo ETF de renda fixa por já contar com um produto nesses moldes, o CAIXA ETF Ibovespa Fundo de Índice. Lançado em novembro de 2012, o PL do ETF soma aproximadamente R$ 150 milhões. “Pode ser sim que essa experiência seja válida, mas isso também vale para os concorrentes”, comenta a superintendente da casa.
A executiva acredita ainda que os novos fundos contribuam para a diversificação das aplicações na renda fixa. “O ETF representa um importante instrumento para o crescimento e desenvolvimento do mercado de renda fixa, pois promove a desindexação financeira, o investidor deixa de ficar atrelado apenas à Selic, ao CDI, e começa a focar em outros ativos”, diz Alenir.
Tributação – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, falou que os ETFs de renda fixa, assim como os de renda variável, serão isentos do recolhimento semestral do imposto de renda, o come-cotas, diferentemente dos demais fundos de renda fixa e multimercados. “Podemos discutir isso depois [igualar a tributação para todos os fundos], mas, por ora, é esse tipo de fundo que queremos incentivar”, disse Mantega.
O mercado, fala Takahashi, que também é vice-presidente da Anbima, tem conversado com o governo para tentar modificar esse cenário o quanto antes. “Acredito que é necessário uma arrumação nisso tudo. Precisamos encontrar um caminho que acabe com o come-cotas, que acaba trazendo uma situação competitiva que não é igual para todos. Diferenças tributárias acabam gerando uma ineficiência”, diz o executivo.
Entretanto, apesar do pleito do mercado em relação a uma tributação igualitária entre todos os fundos de investimento, Marcos Litz, gerente financeiro da Fibra, nota que, para os fundos de pensão, que já contam com a isenção do Imposto de Renda (IR), é indiferente se o ETF, seja ele de renda fixa ou de renda variável, terá ou não vantagens tributárias em relação aos outros fundos de investimento. “Realmente a isenção tributária já existe para as entidades, então o ETF passa a não ser atrativo nesse sentido [por não ter o come-cotas em detrimento ao restante do mercado de fundos]”, afirma Litz.
“Possivelmente o atrativo no caso do ETF de renda fixa para as fundações será a taxa de administração que deve ser bem pequena. Nesse caso faz sentido entrar em um ETF do que ficar em outro fundo DI que tenha uma taxa maior”. O gerente da Fibra, que já trabalha com os ETFs de renda variável, nota que, mesmo em relação às estratégias passivas, as taxas cobradas pelos gestores dos fundos de índice são ainda menores. Como o ETF de renda fixa deve demorar mais alguns meses para estar pronto, e também por estar com um analista de renda fixa a menos na casa, Litz não teve tempo para se debruçar sobre o novo produto para saber se haverá interesse.
Os três ETFs de renda variável que hoje estão na carteira da Fibra (iShares Brax, iShares Smal e It Now Pibb) respondem por 4% dentro do patrimônio da entidade, de R$ 2,5 bilhões. “Como faço o aluguel disso, consigo gerar um alpha interessante”, afirma o gerente financeiro. “É uma ótima estratégia, gero retorno com risco praticamente zero”. A Fibra também tinha até o ano passado o iShares Bova, mas por conta da revisão pela qual passou o Ibovespa no período, e também pela influência que os papéis da OGX causavam ao índice teórico da Bolsa brasileira, essa participação foi zerada. “Não descartamos voltar a olhar para o Bova, mas temos de analisar o comportamento do novo índice”.
Hoje são 16 ETFs de renda variável negociados na Bovespa, sendo um da Caixa, nove da BlackRock e seis do Itaú. Procurado para a matéria, o Itaú optou por esperar a regulação estar pronta para se manifestar a respeito do novo produto.