Com uma captação final de pouco mais de R$ 2 bilhões em sua oferta inicial (IPO), em maio, o ETF IMAB11, estruturado pelo Itaú Asset Management, superou as expectativas de seus idealizadores e apoiadores, que incluem além do Itaú também a Secretaria do Tesouro Nacional e o Banco Mundial. A colocação mínima estipulada pelo edital do Tesouro era de R$ 300 milhões, sendo que a oferta inicial atraiu um grande interesse de investidores, alcançando cerca de R$ 2,3 bilhões. “O ETF de Renda Fixa deve ser um novo marco no mercado, como foi o BOVA11”, avalia uma fonte do mercado financeiro. “Esse produto vai exigir uma gestão mais ativa nos portfólios de renda fixa, já que a grande maioria das carteiras desse tipo gera pouco alfa em relação aos benchmarks.”
O IMAB11 replica a carteira do IMA-B, índice calculado pela Anbima, que reflete a carteira teórica dos títulos públicos brasileiros indexados ao IPCA (NTN-B). As cotas do ETF são negociadas na B3 de forma semelhante às ações. Adquirindo cotas, o investidor, indiretamente, passa a deter todos os papéis que compõem a carteira. A taxa de administração é de 0,25% ao ano e a alíquota de imposto de renda é de 15%, com retenção na fonte no momento da venda. Não há incidência do chamado “come-cotas” e de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
“A família de ETFs do Itaú é fruto de uma estratégia de longo prazo que começou em 2004, com o PIBB [que reflete o índice IBrX50], o primeiro do mercado”, conta Arlindo Penteado, superintendente de distribuição na Itaú Asset Management. “É um veículo de investimento democrático, transparente, eficiente e com diversificação de ativos”, destaca o executivo, ressaltando que o lançamento de novos produtos no segmento são parte de “uma perspectiva de longo prazo para conseguirmos uma grade completa de produtos”, acrescenta.
As características de transparência, eficiência, flexibilidade e baixo custo do ETF IMAB11 poderão provocar uma mudança na gestão de investimentos em renda fixa no Brasil. “Esse ETF vai trazer uma pressão aos gestores para separar a gestão ativa da passiva em renda fixa”, afirma fonte do mercado financeiro, lembrando o que já ocorreu com os investimentos em renda variável, há alguns anos. “Se for para o investidor pagar por uma gestão ativa, o gestor vai ter que entregar um retorno acima do benchmark, senão tem aí o ETF IMAB11 como opção barata, líquida e transparente de acompanhar e controlar os riscos”, explica.
Início – Para o gerente de distribuição na Itaú Asset Management, Stefano Dorlhac Catinella, embora o Brasil tenha convivido por muitos anos com taxas de juros altas, isso não impediu que o processo de desenvolvimento da indústria de ETFs começasse aqui pela renda variável, reproduzindo em condições diferentes o que ocorreu no resto do mundo, onde foi impulsionado por taxas de juros baixas. Hoje, essa indústria tem localmente Patrimônio Líquido de R$ 17 bilhões, dos quais R$ 9,5 bilhões na família IT Now do Itaú, com nove produtos listados no Brasil e um no Chile.
“O ETF de renda fixa vai trazer para o mercado um instrumento muito mais aderente ao perfil do investidor tradicional brasileiro”, afirma Marcos Skistymas, superintende de Produtos Listados na B3. “A dinâmica de investimentos no Brasil, com alta taxa de juros, proporcionava alto rendimento com baixo risco. O investidor brasileiro acostumou-se a ter investimentos mais seguros, com destaque para renda fixa e até poupança, sem se preocupar em diversificar sua carteira”, diz. Segundo ele, a queda na taxa de juros está levando o investidor a procurar opções com rentabilidade maior.
ETFs listados na B3 – A B3 têm 13 ETFs lastreados em ações de empresas nacionais, além de dois em ações do mercado externo e, agora, dois de renda fixa. O primeiro ETF de renda fixa foi o Fixa11, da Mirae Asset, lançado em setembro do ano passado, referenciado numa carteira hipotética composta por contratos de juros futuros de três anos, apurados pela S&P.
Segundo Skistymas, além do Itaú também Banco do Brasil, Caixa, BlackRock e Mirae atuam hoje no mercado local de ETFs. Esse cenário, segundo ele, pode mudar em breve com a incorporação de novos players. “Alguns gestores têm procurado a B3 para entender como funciona o produto”, relata Skistymas. “Podemos ter novos players no mercado em breve.”
O Itaú também prepara novidades. “Temos projetos de novos ETFs baseados nos vértices de risco do mercado doméstico e externo”, afirma Arlindo Penteado. “A Anbima tem outros índices que podem ser usados como benchmark de ETFs, assim como outras instituições também. E novos índices podem ser criados”, explica.
Ele comemora a liquidez do recém lançado IMAB11, com 500 novos cotistas e movimentação de mais de R$ 50 milhões apenas na primeira semana de negociações. No dia 4 de junho, dez pregões após o IPO, o volume chegou a R$ 30 milhões. Ainda é pouco em relação ao ETF mais líquido da B3, o BOVA11 da BlackRock, que movimenta diariamente um volume médio de R$ 2 bilhões, mas já é motivo de comemoração nesse mercado que valoriza muito a liquidez.
Aluguel – Segundo Catinella, o IMAB11 irá disponibilizar no terceiro trimestre do ano o aluguel das NTN-Bs e no último trimestre o aluguel das cotas. De acordo com o executivo, o aluguel dos papéis e das cotas trará uma rentabilidade adicional ao índice que poderá, em algumas situações, até compensar a taxa de administração. Além disso, como o cupom de cada papel é reinvestido automaticamente no próprio instrumento, isso gera redução de custo operacional.
Para Penteado, “quando começar a fase de aluguel, os gestores de recursos também passarão a ser um público potencial”. Segundo ele, “muitos assets já usam ETFs como vértice de alocação e os gestores poderão fazer posições vendidas de uma maneira rápida.”
De acordo com o executivo, o ETF é bastante usado por institucionais para alocar recursos temporariamente entre a saída de uma posição e o investimento em outra, aguardando o melhor momento de comprar, e também na gestão de caixa, com estratégias de arbitragem entre a cota e os papéis que compõem o produto.
“Os investidores institucionais tiveram um papel importante na adoção e no crescimento dos ETFs nos Estados Unidos, Europa, e também na América Latina”, relata Rodrigo Araújo, diretor da BlackRock Brasil. De acordo com Estudo Anual sobre Fundos Negociados em Bolsa (ETFs) na América Latina, promovido pela Greenwich Associates, a adoção de ETFs pelas fundações latino-americanas continua atingindo níveis de alocação recordes. Em 2018, 18% dos ativos totais foram alocados em ETFs. Essa porcentagem foi de 13% em 2017 e de apenas 8% em 2016.