Diversificação de gestores | Com o fraco desempenho da economia d...

Tiago Novaes Villas-Boas, da Fundação EcosSandro Lima Belo, do EletraEdição 262

 

Primeiro vieram as grandes fundações, capitaneadas pela Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, que investiram no exterior através de fundos montados em uma parceria com a BB DTVM com assets globais com atuação no país – BlackRock, Franklin Templeton, J.P. Morgan e Schroders. Agora, o mercado está registrando um segundo movimento que inclui a entrada de fundações de vários tamanhos em diversos gestores que também passaram a disputar espaço com as opções apresentadas pelo Banco do Brasil.

A Fundação Ecos, fundo de pensão do antigo Banco Econômico, é um caso de entidade que selecionou um grupo de três gestores para começar a investir no exterior. Um dos gestores é a BlackRock, que oferece um fundo de dividendos em parceria com um feeder da BB DTVM. As outras duas assets são a M Square e o Credit Suisse Hedging Griffo. A fundação começou as alocações nos fundos dessas assets a partir de março deste ano e até o momento já investiu R$ 15 milhões no total. Até o final do ano, deve chegar ao valor de R$ 20 milhões no exterior. Os recursos que serão investidos até dezembro devem ser alocados em uma quarta asset a ser selecionada.
“Decidimos diversificar os riscos de nossa carteira de renda variável. O mercado de bolsa doméstica vinha enfrentando uma série de dificuldades com o baixo crescimento da economia e o fraco desenvolvimento das empresas. Por isso, decidimos direcionar uma parte da carteira para o exterior”, diz Tiago Novaes Villas-Bôas, diretor financeiro da Ecos. A carteira de renda variável da fundação tem atualmente cerca de R$ 80 milhões. Desse montante, cerca de 25% deve ficar concentrada em fundos de investimentos no exterior. “Não houve aumento do risco com a abertura dos investimentos no exterior, ao contrário, houve uma pulverização do risco”, ressalta Villas-Bôas.
O fundo de pensão recebeu a visita de oito gestores que ofereceram opções de produtos que acessam mercados externos. Depois do processo de seleção, foram escolhidos os três citados anteriormente. “Demos preferência para fundos com gestão de valor, que realizam stock picking, e que tenham exposição cambial”, diz o diretor da Ecos. O fundo de pensão tem atualmente uma carteira total de investimentos de R$ 790 milhões, dos quais cerca de 9% está alocado em renda variável e 80% em renda fixa.
Outro fundo de pensão que abriu uma carteira no exterior é o Metrus, dos funcionários do Metrô de São Paulo (conforme noticiado na edição 260). A entidade selecionou dois fundos no exterior, um deles da Schroders (que tem parceria com a BB DTVM) e outro da M Square. No primeiro, investiu R$ 8 milhões, e no outro, direcionou R$ 5 milhões.

Ex-sócios do Garantia – Antes de fundar a M Square, o gestor Arthur Mizne trabalhou em Nova York entre 1997 e 2005. Na época ele foi gestor do fundo Synergy, que foi criado inicialmente para realizar a gestão dos recursos dos ex-sócios do Garantia, Jorge Paulo Lemann e outros. Depois o fundo foi aberto para a captação de recursos de outros family offices, mas durante os primeiros anos, a maior parte dos recursos era do grupo liderado por Lemann. Com o trabalho, Mizne foi acumulando experiência no relacionamento com as assets do mercado americano e global. “Acumulamos experiência na análise e acompanhamento de gestores. É uma análise de caráter qualitativo, que identifica os melhores talentos em cada segmento específico”, diz Mizne.
Em 2005, o gestor voltou ao Brasil e fundou a M Square. A asset já nasceu voltada para o mercado internacional. Inicialmente, a asset trabalhou com a captação de recursos de clientes private e family offices, além de estrangeiros. “Quando começamos, os fundos de pensão não tinham apetite para investir no exterior. Isso começou a mudar de dois anos para cá e agora vemos um forte movimento deste tipo de investidor para acessar os mercados internacionais”, explica o sócio-fundador da M Square. O executivo acredita que a tendência de investir no exterior não deve ser revertida, mesmo com o ciclo de abertura das taxas de juros.
O fundo de ações globais da asset já conta com cinco fundos de pensão como investidores. Com distribuição da Itajubá, outras fundações estudam a alocação no produto. “Acredito que cerca de 10 fundações devem investir nos próximos meses”, diz Carlos Garcia, sócio-diretor da Itajubá. Ele reforça a ideia que o movimento de alocação no exterior por parte das fundações é um fenômeno que deve se ampliar nos próximos anos. “O segmento de investimentos no exterior é a classe que mais deve crescer entre os fundos de pensão. Hoje já verificamos o interesse de fundações de diferentes tamanhos e regiões do país, tanto de patrocinadoras privadas quanto públicas”, diz Garcia.
O fundo da M Square voltado para as fundações conta atualmente com patrimônio de R$ 53 milhões. Tem um outro fundo espelho, em parceria com a Credit Suisse Hedging Griffo, voltado para clientes private e family offices que tem outros R$ 105 milhões. Os dois fundos somam R$ 158 milhões.
O fundo da M Square aplica em fundos de outros quatro gestores externos. Três deles são americanos e o outro, europeu, com sede em Londres. A M Square não revelou o nome dos gestores. “São gestores independentes, com foco em determinadas classes de ativos e mercados”, diz Arthur Mizne. Ele explica que se trata de gestores bastante focados, alguns deles, que realizam a gestão de apenas um fundo ou uma estratégia específica. “Não gostamos de trabalhar com gestores que são supermercados, que realizam a gestão de diversos fundos e estratégias. Preferimos os independentes com apenas um veículo”, diz Mizne.
Ele explica que o trabalho de seleção e acompanhamento dos gestores é contínuo. “Nossa equipe viaja constantemente para visitar os gestores. Apenas em 2014 passamos cerca de 15 semanas fora do Brasil”, diz o sócio-fundador da M Square.

Eletra – O fundo de pensão da Celg (Companhia de Eletricidade de Goiás), a Eletra, está estudando a ampliação dos investimentos no exterior. A fundação já possui uma alocação em um fundo no exterior da Itaú Asset, realizada no final do ano passado, no valor de R$ 5 milhões. O montante representa 1% do total de recursos do plano de contribuição variável, que tem atualmente cerca de R$ 500 milhões em ativos. Outros R$ 200 milhões de um plano de benefício definido compõem a carteira total de ativos da Eletra. “Queremos ampliar as alocações no exterior, chegando ao limite de até 10% no prazo de quatro anos”, diz Sandro Lima Belo, diretor financeiro da Eletra.
Até o final de 2014 deve ser selecionado um segundo fundo de investimentos no exterior. E já no ano que vem, a política de investimentos deve prever a formação de uma carteira de 5% dos recursos do fundo de pensão no exterior. “Os juros devem voltar à normalidade em algum momento, ou seja, devem voltar a cair. Daí vamos aproveitar para diversificar as alocações no exterior. É uma questão de diversificação dos riscos”, diz Belo. No momento, a fundação está estudando a alocação em um fundo de BDRs que conta com gestão da Bram – Bradesco Asset Management. Outra opção estudada pela fundação é a de um fundo de crédito privado no exterior, que conta com a Claritas como gestor local.

Principal Group – Controlada pelo Principal Group, a Claritas tem aproveitado esta associação com a gigante americana para oferecer produtos de investimentos no exterior. A associação com o Principal começou em abril de 2012, quando houve a compra de 60% da participação da Claritas. O primeiro produto lançado em parceria com a Principal foi um produto de crédito privado, o Global High Yield. O fundo contou com um aporte de seed capital de R$ 50 milhões por parte da asset americana. A asset da Principal tem atuação destacada junto aos fundos de pensão americanos. A maior parte dos grandes fundos dos EUA aplicam em fundos e estratégias da asset.
“O aporte de seed money demonstra o interesse do Principal em fortalecer a atuação junto aos institucionais e demais investidores no mercado brasileiro”, diz Marcos Alcântara Machado, responsável pela distribuição local da Claritas Investimentos. Segundo o executivo, o fundo Global High Yield tem o diferencial em relação a outros concorrentes de oferecer o hedge cambial. “É um fundo que oferece a proteção cambial, que permite que o investidor corra apenas o risco do ativo”, diz Machado. Este fundo ainda não captou recursos junto aos fundos de pensão.
Um outro fundo da Claritas, o Global Equities, também deve contar com aporte de seed money da controladora americana. Serão R$ 100 milhões que devem entrar no fundo. Segundo Machado, um grupo de seis fundações já selecionaram o fundo para aplicar um total de R$ 80 milhões. Uma das fundações é a Previ, do Banco do Brasil. O grupo aguarda o aporte do seed money para viabilizar a aplicação, já que devem seguir a regra de não ultrapassar o limite de 25% do patrimônio do fundo.