Demanda em queda | Estratégia do Tesouro e baixa procura por NTN–...

Edição 299

 

As NTN-Bs vinham garantindo as metas de rentabilidade dos fundos de pensão sem grandes esforços, mas agora estão passando por uma fase de menor atratividade. Tanto do lado dos investidores institucionais quanto dos private, a participação em leilões desses títulos têm sido cada vez menor. Com a inflação em níveis mais baixos, passou a custar caro carregar esses títulos, enquanto na ponta da oferta o volume de emissões das NTN-Bs pelo Tesouro Nacional caiu de R$ 10,08 bilhões em novembro de 2016 para R$ 4,56 bilhões no mesmo mês de 2017, segundo o Relatório Mensal da Dívida Pública Federal.
O estrategista chefe da Renascença DTVM, Pedro Barbosa, explica que o Tesouro Nacional, acompanhando o movimento do mercado, vem já há algum tempo reduzindo o volume colocado a leilão para não propagar o custo das dívidas, que estava até então bem alto. Além disso, com as incertezas políticas e fiscais do país, o mercado tem demonstrado menor apetite ao risco, e também por conta disso o Tesouro mudou a estratégia de longo prazo ofertando menos papéis longos para não adicionar volatilidade ao mercado. “Por isso os leilões da NTN-Bs já não são tão grandes como eram no passado”, diz Barbosa.
Ele destaca que os leilões atuais são realizados com volumes pequeno de títulos, dentro de um consenso de que não há mais prêmio sendo pago pelas NTN-Bs. “Leilão a leilão vemos que não há uma demanda tão grande. Mesmo os fundos de pensão, que vão continuar comprando, o farão em volumes menores, pois antes encontravam rentabilidade e proteção contra a inflação nas NTN-Bs, mas agora o retorno dos títulos prefixados está mais atrativo”, complementa. Um operador de uma instituição financeira de grande porte, que não quis se identificar, destacou que a demanda atual por parte de investidores institucionais caiu tanto que não participou de nenhum leilão de NTN-Bs este ano. Isso porque, agora, os institucionais estão mantendo suas atuais posições ou trocando uma posição mais curta por uma mais longa.

Investidores – De acordo com o diretor da Mirae Asset Wealth Management, Pablo Stipanicic Spyer, os institucionais reduziram bastante sua participação nos leilões principalmente porque os retornos dos títulos não batem mais a meta atuarial. “As entidades estão em busca de ativos de juros nominais ou de risco, apimentando a carteira para tentar bater a meta”, explica.
Ainda assim, o estoque de títulos indexados na carteira dos investidores é grande. No relatório do Tesouro Nacional, a categoria denominada Previdência apresentou variação positiva em seu estoque de dívidas públicas no total, passando de R$ 840,17 bilhões para R$ 855,60 bilhões, entre outubro e novembro. Desse montante, mais de 50% é composto por NTN-Bs. A categoria Instituições Financeiras também apresentou elevação em seu estoque, passando de R$ 711,98 bilhões para R$ 736,31 bilhões de um mês para o outro, sendo 14,6% da carteira composta por NTN-Bs . Os Fundos de Investimento elevaram seu estoque em R$ 15,50 bilhões, com uma composição de 25,2% em NTN-Bs. Já a participação dos estrangeiros reduziu de 12,78% para 12,67%, apesar de seu estoque ter apresentado acréscimo de R$ 3,89 bilhões. Apenas 7,7% da carteira desses investidores é composta por NTN-Bs, aponta o relatório.
O estrategista de renda fixa da Coinvalores, Paulo Nepomuceno, explica que os estrangeiros nunca demonstraram muito apreço aos títulos indexados à inflação no Brasil. “Ainda acreditamos que a demanda existe por parte dos investidores e a cada leilão o Tesouro Nacional mede o apetite de risco para determinado momento. Porém, as NTN-Bs são papéis mais longos que demandam um pouco mais de maturidade”, destaca. Ele complementa dizendo que, como a inflação no Brasil ainda é alta, a emissão de títulos acaba subindo, mas que isso deve ser modificado em algum momento, pois quanto mais se emite títulos, mais se deprecia a moeda do país. “O gargalo na nossa economia é a política fiscal. O governo somente conseguirá reduzir a emissão de títulos quando tiver um superávit fiscal. Sem isso, a emissão de tÍtulos continuará crescendo e a inflação voltará a subir”, complementa

Futuro – A dúvida agora sobre comprar ou não novos títulos deve passar por uma análise feita por cada entidade na decisão de investimento. Segundo o consultor sênior de investimentos da Mercer, Raphael Santoro, os fundos de pensão devem estudar o que já tem de caixa para os próximos 3 anos e o que ainda vai entrar com os vencimento dos títulos. Junto a isso, eles precisam analisar se acreditam que no cenário de longo prazo a taxa de juros vai permanecer baixa. “Pode haver um risco da Selic chegar a 6%. Se a entidade tiver em sua carteira uma NTN-B com o vencimento abaixo de 5%, acaba perdendo”, diz Santoro. “O que observamos é que a maioria dos fundos de pensão tem optado por não fazer novas compras no momento, mas diante de um cenário de estresse, podem surgir novas oportunidades”, complementa o consultor da Mercer.
Santoro avalia ainda que as entidades hoje, em seus estudos de ALM e fluxo de caixa, têm a possibilidade de comprar, em alguns casos, algumas NTN-Bs mais longas com taxas próximas a 5,5%. “Esses títulos ainda possuem algum apelo de compra”. Além disso, os títulos que vão vencer entre 2018 e 2019 podem ser utilizados para comprar um título que vencerá em 2030. Mas são poucas as entidades que estão pensando nesse tipo de estratégia, segundo o consultor, que destaca que alguns fundos de pensão ainda estão aguardando as definições para 2018, que por ser um ano eleitoral, deve apresentar bastante volatilidade, podendo ter algum momento de pico onde as NTN-Bs cheguem a 6%, se tornando mais interessantes para compra. “No geral, as entidades ainda estão tentando segurar a liquidez para tentar ver uma janela de compra melhor do que a atual”, destaca.
O gestor de renda fixa da Bradesco Asset Management (Bram), Carlos Eduardo Nóbrega, comenta que a maioria do ALM das fundações está acima de 6%, mas se começar a cair, as entidades deverão buscar outros ativos para garantir a boa performance da carteira. “Tudo isso também depende da taxa Selic do futuro, pois hoje ela está baixa e deve perdurar assim até 2018”.
Pedro Barbosa, da Renascença DTVM, por outro lado acredita que agora, comparando com os títulos prefixados, as NTN-Bs ficaram onerosas. “O mercado antigamente estava mais cético com a meta de inflação e via nas NTN-Bs uma forma de se proteger. Mas investidores já não olham mais para esses títulos pensando na questão de segurança”, explica. Já Pablo Spyer, da Mirae, ressalta que a recomendação é de um compasso de espera até que a reforma da previdência seja endereçada. Ele diz ainda que o cenário atual pode passar por mais mudanças caso o Banco Central volte a cortar juros em fevereiro. “Na nossa visão, o corte atual já é o suficiente. Acreditamos que os investidores devem se preocupar com taxa longa de juros e é importante que as reformas aconteçam, pois sem reforma não há como o cenário corroborar com os juros baixos”, avalia.