Bradesco entra em mercado de NPL | Além de buscar recuperar suas ...

Com o anúncio no início de outubro da aquisição de 65% da RCB Investimentos, empresa que atua no segmento de créditos em atraso, ou ‘non performing loan’ (NPL), o Bradesco pretende atuar de maneira mais ativa na compra e venda de carteiras inadimplentes. Até então o Bradesco atuava no mercado de créditos em atraso apenas vendendo para outros bancos suas carteiras com créditos vencidos. Desde 2014, foram cerca de R$ 20 bilhões em vendas do tipo. “Com a compra da RCB, além de vender as carteiras, o Bradesco vai passar também a buscar oportunidades de aquisições de portfólios inadimplentes de seus pares no mercado”, afirma o diretor do departamento de recuperação de créditos do Bradesco, Lucio Takahama.
Embora a atuação mais ativa do Bradesco no mercado de NPL tenha sido o principal motivador, Takahama diz que ganhos de eficiência no trabalho já promovido pelo banco de recuperação dos créditos em suas carteiras foi outro fator importante que guiou a decisão de fechar o negócio. O executivo estima que, por conta das sinergias a serem obtidas entre Bradesco e RCB, o sucesso nas recuperações de crédito em atraso deve ser entre 20% a 25% maior nos próximos anos em comparação ao obtido atualmente pela instituição financeira. “A RCB será uma espécie de prestadora do serviço de cobrança do Bradesco”, aponta Takahama.
O Bradesco é entre os grandes bancos o último a embarcar de cabeça no mercado de NPLs. Em dezembro de 2015 o Itaú havia adquirido a Recovery, empresa de recuperação de dívidas que pertencia ao BTG Pactual e que na época enfrentava uma crise de liquidez após a prisão de seu ex-CEO, André Esteves. Alguns meses depois o BTG Pactual voltou ao nicho com a aquisição em novembro de 2016 da Ibagué Empreendimentos, rebatizada de Enforce. Já o Santander adquiriu em julho de 2017 a empresa de recuperação de créditos Ipanema Credit Management, enquanto o Banco do Brasil atua no segmento há mais tempo, por meio de sua subsidiária Ativos, fundada em 2002.

FIDCs – Como parte do acordo firmado entre Bradesco e RCB, serão estruturados dois Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), sendo que em um ficarão os créditos em atraso do próprio Bradesco, e no outro os que serão adquiridos de terceiros.
O banco ainda não pode divulgar o tamanho dos FIDCs, uma vez que precisa aguardar todas as aprovações regulatórias necessárias. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) já deu seu ok para a transação, e o parecer do BC é esperado até o fim de 2018. “O volume dos FIDCs é incerto, até porque não sabemos como estará esse mercado nos próximos anos, mas nossa intenção é buscar a liderança”, assinala o superintendente do departamento de recuperação de créditos do Bradesco, Mateus Yoshida.
Os recursos para capitalizar os FIDCs virão do próprio Bradesco e dos sócios da RCB. Takahama não descarta abrir no futuro os fundos para captação no mercado junto a potenciais investidores interessados. “Estamos sempre abertos a novas iniciativas, mas não é a ideia inicial abrir os FIDCs para captação”, afirma o diretor.

Oportunidades – Yoshida reconhece que com as perspectivas de retomada da economia, a expectativa é de redução da inadimplência dos clientes dos bancos, com uma eventual diminuição das oportunidades no mercado de NPL.
Ele ressalta, no entanto, que a atuação do Bradesco e da RCB não ficará restrita apenas ao mercado financeiro, tendo como foco também grandes empresas de outros ramos. “As varejistas que colocam suas carteiras à venda serão outro filão que iremos explorar”, diz o superintendente, que cita o exemplo das Casas Pernambucanas, que recentemente colocou à venda uma carteira em atraso de R$ 3 bilhões.