Ações da Qualicorp caem após anúncio do acordo | Investidores rea...

A Qualicorp, empresa que atua no ramo de planos de saúde coletivos, anunciou em 1° de outubro uma operação pouco usual no mercado, em que o conselho de administração aceitou pagar R$ 150 milhões líquidos ao seu presidente, José Seripieri Filho. Em troca, o executivo não levaria à frente, por seis anos, seus planos de vender sua participação de 15% e deixar a empresa que fundou para explorar outros nichos dentro do segmento de saúde potencialmente concorrenciais à própria Qualicorp.
O mercado reagiu muito mal ao anúncio – no pregão seguinte as ações da empresa caíram 29,37% na Bovespa, e o presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), Mauro Cunha, classificou o episódio como um dos maiores escândalos dos últimos tempos no mercado brasileiro.
No dia seguinte ao anúncio, o conselho de administração da Qualicorp, em comunicado ao mercado, disse lamentar que “ilações e conclusões precipitadas possam ter causado apreensão ao mercado e permanecerá a disposição para prestar todos os esclarecimentos às autoridades competentes sobre a importância, lisura e legalidade do processo”.
Em teleconferência sobre os resultados do terceiro trimestre de 2018 da empresa, no dia 9 de novembro, a diretora financeira e de relações com investidores da Qualicorp, Grace Tourinho, informou que o valor total envolvido na transação chega a R$ 206,9 milhões, considerando os R$ 150 milhões, e outros R$ 56,9 milhões de Imposto de Renda (IR) retido na fonte. “Excluído o efeito do acordo de não competição, a dívida líquida reduziria 60%”, disse a executiva. A dívida líquida da companhia cresceu 91,1% no terceiro trimestre na comparação com igual período do ano passado.
Procurada, a Qualicorp informou que não faria comentários sobre o tema nem daria entrevista para a reportagem.

Novo acordo – A XP Asset Management, com 5,12%, é a maior acionista da empresa depois de Júnior, como o presidente da Qualicorp é conhecido no mercado, e por seu dever fiduciário junto aos cotistas de seus fundos entrou com uma notificação extra judicial junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na própria segunda-feira em que ocorreu o anúncio do acordo de não competição na tentativa de reverter a situação.
“Para tomar uma decisão importante como essa os demais acionistas deveriam ter sido ouvidos. Ficamos decepcionados, ainda mais pelo bom relacionamento que temos com o Júnior e o conselho há vários anos”, diz o gestor de renda variável da XP Asset, Marcos Peixoto, lembrando que a gestora carrega posições na Qualicorp desde 2013.
Durante a semana do anúncio os gestores da XP se reuniram algumas vezes com Júnior e os membros do conselho da Qualicorp em busca de uma saída amigável. Como resultado dessas conversas foi celebrado um acordo entre a XP, que retirou a notificação, e a Qualicorp, com quatro pontos principais: Júnior terá de utilizar os R$ 150 milhões para comprar ações da empresa até o final do ano; e a XP passou a ter um assento no conselho de administração, tendo indicado para o posto Rogério Calderón, membro dos comitês de auditoria do Itaú Unibanco e da B3.
Além disso, o próprio Calderón será o responsável pela implementação de uma área de governança dentro da companhia; e por fim, será incluído no estatuto que qualquer transação entre partes relacionadas terá de ser aprovada em assembleia, impedindo assim novas transações somente entre conselho e presidente.
“Claro que está longe de ser a solução ideal, poderia ser muito melhor, mas dentro de uma negociação entre duas partes é preciso abrir um pouco mão para chegar a um acordo, e ficamos relativamente confortáveis com o que foi possível obter”, afirma Peixoto. Ele acrescenta que após as medidas elencadas acima a empresa está hoje, em sua opinião, muito mais blindada do que antes dessa história começar. No dia 13 de novembro a Qualicorp informou que Seripieri concluiu, em operações realizadas na Bovespa, a aquisição dos R$ 150 milhões em ações da empresa.