Edição 118
O risco país vai continuar a disparar ao longo do ano? E o dólar, pode ter fortes trajetórias de alta ainda em 2002? Ou as turbulências causadas pelas incertezas no cenário eleitoral brasileiro são daqueles efeitos passageiros? Com essas questões na cabeça, algumas fundações já começaram a movimentar suas carteiras, no início de maio. Algumas querem apenas proteger seus investimentos, outras aproveitaram o período de baixa para a aquisição de papéis com melhor preço.
A Basf Sociedade de Previdência Privada é uma das que não querem se expor ao risco. Nos próximos dias a fundação deve levar ao seu comitê de investimentos a proposta de reduzir, durante todo o ano de 2002, o porcentual a ser aplicado em renda variável. Atualmente o limite é de 40%, mas deve ser reduzido para 30%. No entanto, mesmo antes da mudança, o total aplicado no mercado de ações não chega a bater no limite, estando em torno de 20% da carteira. Com o novo limite, esse percentual deve cair ainda mais. No fundo de pensão da Volkswagen a exposição em renda variável também caiu de 30% para 20%, diz o tesoureiro-executivo César Favilla. “Cautela e caldo de galinha não faz mal para ninguém”, brinca, referindo-se à posição da fundação em meio às incertezas do mercado.
Já a Fapes aproveitou a maré baixa para incrementar a carteira com uma pitada de risco. A fundação apostou R$ 4 milhões em fundo exclusivo BBM Brady Institucional, composto por contratos futuros de títulos brasileiros C-Bond e EI, na BM&F. “A hora da queda é a hora certa de investir e aproveitar a volatilidade do mercado”, diz o gerente de investimentos da fundação do BNDES, Sílvio Araújo. A vantagem desse produto financeiro, segundo o BBM, é que o cliente foge do risco cambial e se concentra apenas no risco Brasil, já que a aplicação é toda feita em reais.
Na verdade, desde o início de 2002 as fundações começaram a pensar na possibilidade de investir no exterior, por conta da queda da imunidade tributária. Mas as fortes oscilações do início do mês fizeram o mercado reavaliar posições. O consultor da RiskControl, Mathias Fulda, acha que há prós e contras, mas “em investimentos no exterior há vencimentos mais longos e com grande liquidez, que não são encontrados no Brasil”, afirma. Para ele, essa diversidade na oferta de papéis pode até facilitar um casamento mais efetivo dos ativos e passivos dos fundos de pensão. “Mas o gestor tem de analisar o risco cambial e país”, afirma.
Menor risco – No BNP Paribas também cresceu a procura, desde o início do mês, por informações de operações estruturadas que possam garantir melhores rendimentos, mesmo em épocas de baixa no mercado financeiro. Uma das opções é a Zero Coast Collar, que combina opções de compra e de venda numa trava das operações no mercado futuro. A outra é um fundo de investimento financeiro com capital protegido. A vantagem é que, se a bolsa subir, o investidor ganha; se cair, não perde o que aplicou.
Desde o início do ano passado o movimento nessas transações no BNP vem crescendo: foram fechados R$ 300 milhões em aplicações de fundos de pensão no banco. Interessado em incrementar sua carteira neste tipo de investimento, no dia 8 de maio o BNP chegou até a promover esses produtos em São Paulo, com a presença de 60 fundos de pensão. Na agenda também está programado outro evento em Belo Horizonte.
Aposta em câmbio – Por enquanto, a fundação Eletros nem pensa em mudar a estratégia de investimentos montada para 2002, apesar das oscilações. Até porque, no início do ano a fundação já previa fortes oscilações no mercado. A posição aplicada em renda variável atualmente é de 20% do patrimônio de R$ 1 bilhão, segundo o gerente de renda variável, Jair Ribeiro. “Em momentos de tensão a bolsa cai e o dólar sobe, então decidimos investir em títulos cambiais do Tesouro Nacional”, diz.
Até o final de abril a rentabilidade da Eletros em renda variável estava em 5% no ano. Em 2001 esses ganhos foram de 15%. “Apesar de 2001 ter sido ruim, o superávit e a rentabilidade que conseguimos nos dão conforto para continuar em renda variável, até porque o valor das empresas está depreciado”, afirma o gestor.