Edição 299
As políticas macroeconômicas que reduziram a inflação e a taxa de juros deixou gestores e investidores mais confiantes para sair do CDI e buscar outros tipos de ativos. Esse movimento, que já ocorreu ao longo de 2017, deve se manter no ano de 2018 segundo dados compilados com mais de 40 gestores. O mercado ainda não está totalmente confiante em relação à tomada de risco, mas já olha para fundos multimercados e renda variável como oportunidades de ganhar prêmio em relação à tradicional renda fixa, que perde cada vez mais atratividade.
Os fundos multimercados em geral são o que mais devem atrair aportes em 2018, de acordo com o levantamento. A flexibilidade dos produtos é uma das principais vantagens diante do cenário de incertezas previsto para os próximos meses. O diretor executivo da BB DTVM, Carlos André, avalia que estes veículos permitem adotar posições que se contrabalanceiam, com riscos diferentes entre si para proteger o portfólio caso a tese central do fundo se mostre equivocada. “Como vamos ter um cenário de muita volatilidade, não é recomendável ficar com o portfólio muito direcional, para um lado ou para o outro”. Ele cita como alternativas a combinação de posições em bolsas no Brasil com outras bolsas globais. O levantamento aponta que os multimercados com renda variável estão bem cotados pelos gestores em 2018.
Já nos multimercados com renda fixa é possível montar operações na curva de juros junto com outras em câmbio. “São operações que chamamos de valor relativo, nas quais o gestor adota uma posição direcional por meio de determinada estratégia, mas procura estabelecer uma posição contrária em outro ativo de maneira defensiva se as coisas não correrem bem em sua aposta principal”, destaca Carlos André. O gerente de portfólio da Itaú Asset Management, Rodrigo Noel, corrobora da visão de Carlos André e complementa dizendo que, como os investidores esperam muita volatilidade a tendência é tirar o beta da carteira, saindo da exposição direta em renda fixa e da renda variável e aplicando nos multimercados. “A volatilidade é a matéria prima do gestor de fundo multimercado”, pontua.
O diretor da Bradesco Asset Management (Bram), Ricardo Almeida, destaca que a necessidade de maior diversificação fará com que investidores passem a demandar mais ações nas carteiras. “Montar agora uma carteira que contemple renda variável, por exemplo, além de renda fixa real e nominal e um pouco de investimento no exterior reduzirá muito o risco dos institucionais. Um fundo multimercado pode contemplar tudo isso e acaba sendo um veículo de passagem para que o investidor se acostume a tomar mais risco”, complementa.
Mais risco – A renda variável pura também deve voltar para a mira dos gestores já que as carteiras dos fundos de pensão, principalmente, estão muito concentradas em renda fixa. Mesmo fora dos fundos multimercados, as assets apostam em posições mais específicas em ações, por exemplo, para gerar ganhos aos clientes. Contudo, essa estimativa positiva para a bolsa não considera riscos potenciais no radar do mercado, como uma possível alta mais forte dos juros americanos caso a inflação apresente aceleração acima das expectativas, e obviamente, no âmbito doméstico, a volatilidade que a disputa presidencial de 2018 vai causar nos preços dos ativos brasileiros.
O superintendente executivo de investimentos da Santander Asset Management, Eduardo Castro, comenta que esse risco aumenta a atratividade dos multimercados entre os investidores, principalmente pela flexibilidade que os veículos oferecem aos gestores. “Nós conseguimos promover rapidamente alterações nas posições de portfólios quando ocorrem mudanças no cenário esperado à frente através dos multimercados”, destaca. Ainda assim, o executivo não descarta uma forte migração dos investidores para a renda variável. “A bolsa recebeu, durante o ano de 2017, aporte líquido próximo de R$ 10 bilhões, o que é muito pouco dado o tamanho do mercado”, afirma.
Entre as gestoras consultadas, a Santander Asset é a que trabalha com a projeção mais otimista para o desempenho da Bovespa, prevendo o Ibovespa aos 97,6 mil pontos em dezembro de 2018. A expectativa positiva se deve à redução dos custos promovida pelas empresas durante a recessão, e à queda da Selic que reduziu a alavancagem operacional e financeira das mesmas. “Isso as tornou mais eficientes, o que aumenta a possibilidade de transformar o faturamento em lucro”, pondera Castro, que acrescenta não achar exagerado enxergar potencial de 20% a 30% para a bolsa. “A Bovespa se coloca como uma candidata importante para ser um dos melhores investimentos de 2018”.
O superintendente nacional de ativos de terceiros da Caixa, Sergio Bini, destaca que no ambiente positivo que o mercado acionário deve viver em 2018, diante da taxa de juros em sua mínima histórica e com a aceleração na retomada da atividade econômica, fundos de ‘small caps’ tendem a apresentar um desempenho acima da média do mercado. “No entanto, para os institucionais que têm visão de médio e longo prazo, mais do que selecionar uma estratégia específica dentro da bolsa, o mais importante é estar posicionado no segmento para tirar proveito da provável valorização esperada pelos especialistas em 2018”, pontua.
Além das ‘small caps’, a Caixa também tem recomendado aos investidores dentro do mercado de bolsa posições nos setores de consumo e infraestrutura, “que devem se beneficiar da provável retomada dos investimentos na economia”, acrescenta Bini. Entre os multimercados do banco, além da exposição à bolsa, Bini conta que os veículos ainda têm parte do portfolio alocado em renda fixa, para tirar proveito de um fechamento residual da curva de juros que pode ocorrer nos próximos meses dado o prêmio existente nos contratos de mais longa duração em função das incertezas no horizonte.
Rodrigo Noel, da Itaú Asset, complementa dizendo que o custo de oportunidade para migrar para renda variável é atualmente baixo, pois com a queda da Selic não fica mais caro deixar de ganhar o prêmio pago pela renda fixa em detrimento da compra de uma ação na bolsa. “Além disso, temos que pensar no cenário mais amplo, no qual o custo marginal de produção também está baixo, gerando uma alavancagem operacional e financeira das empresas. Isso significa que a queda da Selic proporciona uma melhora grande na rentabilidade das empresas, pois as despesas estão caindo, elevando assim seu lucro. Isso é extremamente positivo para quem aposta em aplicar na bolsa em 2018”.