A bola da vez | Gestores esperam que small caps tenham performanc...

Edição 292

 

Os gestores de recursos que atuam na renda variável acreditam que o desempenho das small caps deve ser superior ao dos demais papéis negociados no mercado brasileiro nos próximos meses. Essa tendência, que já se observa no início de 2017 – o índice de small caps da bolsa sobe cerca de 25%, contra 12% do IbX – deve prosseguir durante o segundo semestre, na avaliação dos especialistas. Entre as razões para a aposta eles citam os relevantes ganhos já apresentados pelas large caps em 2016 e também a esperada retomada da economia brasileira, que impacta de maneira mais profunda as small caps do que as large caps, até porque algumas como Petrobras e Vale são mais influenciadas por fatores externos do que internos.
Jorge Ricca, gerente executivo de fundos de ações da BB DTVM, afirma que tem recomendado aos clientes, desde o final do ano passado, um posicionamento em bolsa através das small caps por conta das perspectivas positivas para o segmento. “Vimos ao longo de 2016 a bolsa tendo uma performance muito positiva, com alta ao redor de 38%, mas esse movimento foi influenciado pelos ativos que costumamos chamar de primeira linha, como Petrobras e Vale”. Desde o final de 2016, com a forte valorização da Bovespa já praticamente confirmada, a BB DTVM passou a enxergar a queda dos juros como o principal ‘driver’ para os papéis que não haviam tido um desempenho tão expressivo até então, explica Ricca. “Quando a redução dos juros começar a fazer o efeito desejado na economia, provavelmente a atividade econômica vai melhorar”, diz.
Segundo Ricca, em 2017 a retomada da economia vai começar a ter mais peso para o desempenho das ações do que a própria queda dos juros. “Tanto a queda dos juros como a melhora da atividade ajudam as ações do mercado doméstico, e nos benchmarks essas ações, sem considerar os bancos, são principalmente de empresas de menor valor de mercado”. Em função dessa leitura do cenário macro e da dinâmica do mercado que a BB DTVM tem, desde o final do ano passado, uma visão mais favorável para as small caps.
A asset conta em sua grade com um fundo de small caps focado em empresas com valor de mercado entre R$ 7 bilhões a R$ 8 bilhões, e outro focado em small e mid caps boas pagadoras de dividendos com valor de mercado entre R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões. “Os dois fundos tiveram incremento de patrimônio ao longo de 2017”. O fundo de small caps, que tem como público-alvo o varejo, ainda que não haja nenhuma restrição para os institucionais, teve aumento de 24% no PL de janeiro a abril, para R$ 42 milhões, considerando somente a captação líquida. No caso do fundo de small e mid caps, o aumento do patrimônio foi de 175%, para R$ 14 milhões, no varejo, e de 1300%, para R$ 130 milhões, no private. “Os clientes têm corroborado nossa visão de que as small caps podem ter um momento melhor, uma vez que a melhora da atividade doméstica tende a se refletir mais no resultado dessas companhias”, fala Ricca.
Sobre o desempenho, de janeiro até 8 de maio o de small caps subiu 21,35%, contra 8,8% do Ibovespa, já descontada a taxa de administração, enquanto o de small e mid caps teve valorização de 15,75% no período. “O resultado das estratégias confirma nossa visão do final do ano passado, de preferência por empresas de baixa capitalização em relação às líderes de mercado”. No ano passado, o fundo de small caps valorizou 23,20% e o de small e mid caps teve apreciação de 26,3%. A BB DTVM não conta com um veículo de small caps voltado para institucionais, mas está avaliando essa possibilidade junto aos investidores.

Apetite – Para o gestor responsável pela estratégia de small caps da BNP Paribas Asset, Marcos Kawakami, houve um aumento do interesse dos investidores pela estratégia de ações de menor capitalização, que vinha desde 2013 registrando mais resgates do que ingressos de novos recursos. “Não se falava sobre esse perfil de fundo há alguns anos, e agora estamos tendo algumas conversas com investidores interessados”. Embora a liquidez do mercado de maneira geral tenha melhorado nos últimos meses, as small caps sempre terão uma média de negociação menor do que as large caps, e como geralmente o valor das ações é baixo as variações percentuais costumam ser maiores. Por isso, o perfil de investidor que demonstra apetite por esse segmento costuma ser mais arrojado, pontua Kawakami. “Dada a liquidez um pouco menor, em momentos de grande volatilidade as small caps tem uma beta maior e vão oscilar significativamente mais do que o Ibovespa”, prevê o especialista.
Segundo Frederico Tralli, diretor de renda variável da BNP Paribas Asset, com a melhora do ambiente macroeconômico tem aumentado o número de investidores, domésticos e internacionais, com interesse em aplicar no mercado brasileiro de ações. Isso tem elevado os níveis de liquidez e contribuído para um bom desempenho das small caps, diz o especialista. Em 2014 e 2015, recorda Tralli, a piora do mercado em função do ambiente macroeconômico gerou uma redução de liquidez na bolsa brasileira, o que levou a um aumento da volatilidade das small caps no período, quadro que começou a se reverter a partir do final de 2016. “O prêmio de liquidez fica bem menor em momentos de maior apetite por risco”.
De acordo com ele, não são apenas os investidores mais afeitos ao risco que tem buscado informações sobre veículos de small caps, mas também aqueles que se beneficiaram da forte alta do Ibovespa em 2016 e que agora olham para alternativas complementares aos principais benchmarks da Bovespa. “Como grande parte dos investidores ficou muito defensivo na bolsa nos últimos anos, houve uma migração para fundos indexados ou passivos, que tiveram uma performance excelente no ano passado. Estamos vendo agora, mesmo entre o institucionais, uma procura por small caps como forma de diversificação”.
Na opinião do head de equities da Safra Asset, Guilherme Rebouças, “a demanda dos investidores por fundos small caps ainda é incipiente, mas já começou a acontecer”. Segundo ele, “já observamos os clientes querendo conversar sobre a estratégia, que esteve esquecida durante a crise”. Rebouças avalia que o setor de construção, que com a crise dos últimos anos e o aumento do desemprego deixou as pessoas inseguras em comprar imóveis, tende a ser um dos principais beneficiados pela recuperação da atividade econômica. O especialista cita também os setores de consumo e de bens de capital como outros que devem ter boa geração de valor no ambiente de reaquecimento econômico.
O head de ações da gestora do Safra entende que a retomada da economia ainda precisa dar sinais mais claros de que irá se concretizar para que as small caps, que já tem apresentado um desempenho superior à média do mercado nos primeiros meses do ano, se mantenham nessa mesma trajetória também durante o segundo semestre. “Quando se tem uma melhora da economia, muitas vezes as large caps vão na frente, por serem mais líquidas, e se essa melhora da atividade é consistente e sustentável então as small caps tendem a ter uma performance superior à média do mercado”, pondera o especialista. Eventos importantes ainda precisam ser consolidados, como a reforma da previdência, a própria retomada da economia, e mais à frente a disputa eleitoral de 2018, para que o bom desempenho deste início de ano das ações de menor capitalização seja confirmado, explica o profissional. “Elas já deram uma amostra de onde podem chegar, mas ainda tem mais potencial, a depender do cenário”.

Apostas – O chefe da área de investimentos da AZ Quest, Alexandre Silvério, compartilha da percepção de que as small e mid caps terão uma performance destacada em comparação com os outros papéis da Bovespa. A gestora tem em sua grade um fundo de ações de R$ 1 bilhão que não tem restrições de nomes e estratégias, e outro de R$ 250 milhões voltado para as small e mid caps. “Dentro do mandato livre sem restrições temos notado uma presença crescente de small e mid caps”, pontua Silvério. Essa presença crescente das small e mid caps, diz Silvério, decorre da crença de que os segmentos em que elas atuam, mais voltados para a atividade doméstica, vão se beneficiar mais do que outros setores dado o cenário macro esperado para o segundo semestre e para 2018.
O executivo da AZ Quest divide as small e mid caps em dois grandes grupos, o primeiro que se beneficia principalmente pela queda de juros e o segundo com a retomada do processo de crescimento econômico. Estão no primeiro grupo empresas dos setores de concessões rodoviárias, shopping centers e elétrico, como Iguatemi, Multiplan, Equatorial, Alupar e Energisa, e no segundo grupo empresas do varejo, consumo e saúde, como é o caso de Lojas Americanas, Via Varejo, Cia. Hering, Smiles, Multiplus e Qualicorp.