Pior problema dos EUA hoje é o desemprego | Economista global do ...

Edição 206

Os Estados Unidos estão prestes a sair da recessão e deverão crescer pelo menos 3% no terceiro trimestre deste ano e 1% no quarto trimestre, o que fará seu Produto Interno Bruto (PIB) encerrar 2009 com recuo de 3,4%. Essa é a previsão de Brian Fabbri, economista-chefe para América do Norte do BNP Paribas, que tinha visita ao Brasil marcada para 18 de agosto. Segundo ele, as indústrias americanas têm reduzido os estoques nos últimos dois trimestres e terão de retomar parte da produção, o que deverá contribuir para o crescimento. O economista também vê avanço sustentável da economia chinesa, apesar de prever bolhas por excessos na injeção de recursos.Para Fabbri, os EUA só conseguirão sair da recessão por conta dos fortes incentivos dados pelo governo. Segundo o economista, a indústria automobilística americana já dá sinais de retomada em agosto. Além disso, a renda dos consumidores foi beneficiada com reduções de impostos durante o segundo trimestre, o que permitirá mais gastos. “As empresas, no entanto, não estão prontas para investir. Isso não vai ocorrer por um bom tempo.” Fabbri também antecipa uma leve recuperação do mercado imobiliário americano. Para ele, o setor já atingiu seu piso de desaceleração na primeira metade de 2009, e nos últimos dois meses houve pequeno aumento do número de construções. Apesar de os dados recentes mostrarem alguma recuperação econômica, ele lembra que o desemprego continua forte. “As empresas não estão contratando e, pior, ainda estão demitindo. Obviamente, quando as pessoas perdem seus empregos, a inadimplência aumenta. E isso se torna uma bola de neve”, comenta.Mesmo assim, o especialista endossa o coro dos que afirmam que o pior já passou. O momento mais grave teria sido o primeiro trimestre deste ano, quando a economia americana desacelerou 6,4% frente ao último trimestre de 2008. No segundo trimestre, o PIB dos EUA recuou 1%, menos do que o projetado por economistas. Além do desemprego crescente, Fabbri também enxerga risco de deflação em 2010. “Isso criará mais problemas para os políticos, e demandará aumento de estímulos”, afirma. Para ele, o governo americano só deixará de injetar recursos em 2011 ou 2012, quando a economia poderá começar a andar com as próprias pernas.
China – No curto prazo, Fabbri afirma que o crescimento chinês apoiará o avanço dos países fornecedores de matérias-primas e componentes para seus produtos finais. Segundo ele, a China vem crescendo entre 8% e 9% e, como resultado, o avanço das economias especialmente do sudeste asiático também é sustentável.Apesar de defender que as políticas de combate à crise adotadas pelo governo chinês foram positivas, Fabbri acredita que elas produziram um excesso de liquidez que poderá causar nova bolha. “A China fez a coisa certa: criou estímulos fiscais para a construção, o que gerou empregos.Também criou estímulos monetários ao sistema financeiro, que foi capaz de continuar emprestando. Essa é uma das razões pelas quais a economia está indo bem”, afirma, acrescentando que, no entanto, a oferta de dinheiro foi excessiva. “Esses recursos foram em parte para o mercado imobiliário e em parte para os preços das ações. Portanto, há indícios do que parece se constituir uma bolha.” No longo prazo, Fabbri diz concordar com economistas que defendem a necessidade de uma mudança drástica para as economias chinesa e americana: os EUA deveriam começar a poupar mais enquanto a China deveria gastar. “É consenso que os EUA criaram um déficit grande e gastaram muito dinheiro nas últimas duas décadas. Como resultado, nós agora precisamos economizar mais do que ganhamos. Ao mesmo tempo, países como a China, que produzem muitos bens, precisam consumir mais e reduzir a taxa de poupança”, endossa. Segundo ele, no entanto, esse é um plano para os próximos dez anos que não representa, de forma alguma, solução para a recessão atual. Enquanto o economista prevê que os EUA deverão retomar devagar seu crescimento ainda em 2009, a Europa e o Japão deverão permanecer estagnados. Isso significa que os países emergentes que dependem exclusivamente da venda de mercadorias a esses mercados terão problemas. Este não é o caso do Brasil, que tem grande parte de suas exportações direcionadas ao mercado chinês e americano. Para Fabbri, a Europa não deu o estímulo fiscal e monetário necessário para ter uma recuperação econômica agora, com exceção do Reino Unido, cujos estímulos foram tão grandes como nos EUA.Quanto à América Latina, ele declara que o Brasil está emergindo rapidamente da crise. Isso ocorre em parte porque se trata de uma economia baseada majoritariamente na exportação de commodities. “Enquanto a China demandar commodities, o Brasil será capaz de fornecê-las”, afirma, acrescentando que, contudo, outros países da América Latina não estão tão confortáveis, como México e Venezuela.