Verde mira fundos de pensão | Após cisão com CSHG, nova asset de ...

Edição 269

 

Depois da cisão com a Credit Suisse Hedging-Griffo, ocorrida no final do ano passado, a Verde Asset, comandada por Luis Stuhlberger, começa a apresentar ao mercado sua nova cara. E ela não é a mesma do CSHG, de onde se originou, nem mesmo da Hedging-Griffo, criada por Stuhlberger 20 anos atrás. Mantém várias caracteristicas das antecessoras nas estratégias de gestão, como ativos globais no portfólio e aposta num dólar valorizado, mas começa a olhar as estratégias de mercado de forma diferente, buscando o segmento de institucionais locais.
Essa não é uma mudança pequena. Por muitos anos Stuhlberger olhou o segmento de institucionais domésticos como desinteressante, seja porque pagava ao gestor taxas mais baixas que o private seja porque demandava um esforço especial de equipes para ser acessado. De qualquer forma, pelo sucesso dos seus fundos em outros segmentos, ele sempre foi reticente em buscar o mercado de institucionais. Isso está começando a mudar.
Agora a Verde Asset quer o mercado de fundações. Fechou uma parceria com a distribuidora Venko Investimentos, chefiada por Adolfo Alviço Junior e Osvaldo Vasconcelos, com o objetivo de estreitar relacionamento com esse público e captar recursos para seus fundos.
Atualmente, dos seus atuais R$ 34 bilhões sob gestão, apenas 1% pertence a entidades fechadas de previdência, o que representa cerca de R$ 350 milhões. Na carteira de clientes, a gestora possui apenas oito fundos de pensão. “Os nossos relacionamentos com fundos de pensão são muito limitados. Tivemos que montar uma parceria com uma distribuidora para fazer essa ponte, pois é um expertise que a gente não tem”, afirma o sócio Artur Wichmann, sócio e gestor dos fundos globais. “Não demos o foco que esse segmento merecia no passado. É um mercado bastante relevante, que trará grandes oportunidades de crescimento à Verde enquanto gestora, mas que não sabíamos como acessar diretamente”, complementa Pedro Sales, sócio e gestor de fundo de ações long only.
Ainda que com o intermédio da Venko, a parceria não deverá carregar a conotação de terceirização, diz Luiz Godinho, sócio responsável pela área de relacionamento com investidores. “A Venko vai abrir portas, mas quem faz o trabalho de ir até o cliente e mostrar a casa somos nós, os gestores”, destaca. “Sempre haverá um profissional sênior da Verde acompanhando os profissionais da distribuidora”.

Família de fundos – A Verde Asset nasceu em 1º de janeiro deste ano, trazendo do CSHG além da família dos fundos Verde, também os fundos de ações long only, long&short e global. A CSHG manteve na carteira apenas os fundos de renda fixa e imobiliários. Para tocar esse portfólio vieram para a nova asset um time de cerca de 70 pessoas, dos quais meia centena na área de gestão e o restante para a área administrativa.
Para atender as entidades de previdência, a Verde não pretende lançar nenhum fundo novo. “Achamos que o nosso portfólio atual atende bem esse público. O que podemos fazer são fundos exclusivos, sob demanda do institucional”, pondera Pedro Sales.

Devolução – O fundo mais famoso da asset, o Verde, que serviu de inspiração para o nome da gestora, está fechado para captação – e vai até devolver parte do patrimônio aos cotistas. “Preferimos ser um gestor muito bom do que um muito grande. O mercado tem um problema de baixa liquidez, que oferece dificuldades para alocar grandes quantidades de capital com uma estratégia ótima. Resolvemos devolver parte das aplicações para continuar oferecendo uma boa gestão para os clientes”, explica Wichmann. A devolução será feita em quatro parcelas semestrais, com 10% do patrimônio do fundo em cada redução.
Com um patrimônio líquido de R$ 3,3 bilhões, o CSHG Verde gerou desde sua criação em 1997 um rendimento astronômico de 10.014%. Embora o fundo não esteja sendo oferecido ao mercado no momento, ele preserva uma das estratégias que serão mais trabalhadas na captação com fundos de pensão: ativos globais. “Um portfólio ótimo de investimentos não é aquele que joga todos os ovos em uma mesma cesta. Diversificação regional deve ser pensada sempre, independentemente se o Brasil vai bem ou mal. O mundo de ativos é muito mais amplo”, ressalta Wichmann.
Embora performando bem no longo prazo, o Verde sofreu um baque no ano passado, quando marcou uma rentabilidade 8,8% contra um CDI de 10,81%. Mas de janeiro deste ano até o fechamento de março, contudo, o fundo já acumula retorno de 12,64%, que representa 450% do CDI. “Esse é o mérito de se investir no exterior, de poder comprar ativos de boas empresas no mundo do ponto de vista da precificação. Claro que o câmbio depreciado ajudou muito”, analisa Sales. Operações de câmbio também beneficiaram os outros fundos multimercados macro (ver matéria na pág. 46).

Exterior – Para Wichmann, os investimentos no exterior devem ser vistos como aplicações de longo prazo. Um exemplo é a própria família de multimercados Verde, que começou a comprar ativos no exterior há 13 anos e atualmente possui 20% de suas alocações lá fora, com ênfase em Estados Unidos (55%) e Europa (35%). Essas posições ajudaram muito na recuperação da rentabilidade do Verde, principalmente por conta da recente valorização do dólar.
Para o cenário doméstico, os sócios da Verde mantêm a tradicional visão pessimista, centrada no que Wichmann chama de “esgotamento do modelo de desenvolvimento” dos últimos anos. “O modelo precisa ser adaptado porque criou uma série de inconsistências que resultam em todos esses problemas que enfrentamos hoje. O Estado cresceu de forma desproporcional, o mercado de trabalho se expandiu com aumento de renda, sem ganho de produtividade, e o setor privado encolheu. Não é possível crescer de forma acelerada nesse sistema”, diz.
No curto e médio prazos, a tendência do baixo crescimento e forte inflação deve permanecer. Para os sócios da Verde, o Produto Interno Bruto (PIB) potencial do país não passa de 1% ou 2%, em conformidade com as estimativas dos economistas menos otimistas do mercado. “O Brasil vai passar por momentos difíceis. Quanto menos o país cresce, menos ele arrecada, o que torna a recuperação mais lenta”, explica.
As reformas estruturais seriam o melhor caminho, mas segundo ele parece não ser a escolha do governo. “O que o governo tem conseguido fazer são pequenos ajustes de curto prazo, para conter gastos de amanhã. Isso pode até resolver as contas este ano, mas sem mudanças mais profundas, continuaremos enfrentando os mesmos problemas nos anos seguintes”, diz Sales.
Resta aos gestores caçar ativos de empresas que, mesmo em cenário adverso, representam promessas de rentabilidade nos portfólios – tarefa ainda mais difícil quando as perspectivas são de retração do nível de atividades do país. “A solução ótima seria fazer uma reforma até constitucional, que permitisse ao governo conter seu modelo de despesas, produzir superávits estruturais e usar esse saldo para diminuir a carga tributária, tirando esse peso do seto privado, que poderia voltar a investir. E é o investimento o que gera crescimento”, diz Wichmann.
Com expectativa de que a taxa básica de juros passe dos 13% este ano, fica mais difícil convencer os institucionais, que perseguem metas atuariais ano a ano, que investir em multimercados – e no exterior – pode ser uma boa. “Ainda assim, é possível encontrar ativos de renda variável, tanto aqui quanto lá fora, que superam e muito a curva longa de juros”, pondera Sales. “Não é porque os juros estão altos que qualquer tese de investimentos fica desprovida de mérito”, diz.
Para Godinho, o CDI tem suas limitações para a política de investimentos dos fundos de pensão. Um exemplo da necessidade de diversificação de ativos é o Chile. “O mercado chileno é muito menor, mas a liquidez está diminuindo no Brasil também. As fundações precisam observar ativos diversificados para rentabilizar no longo prazo. É um processo e leva tempo”, destaca.
Diferentemente de outras gestoras que têm estratégias globais de alocação, a Verde não possui escritórios lá fora e, por ora, nem cogita adotar esse modelo. “É uma discussão que teremos eventualmente, mas no momento queremos priorizar a troca de informações entre as equipes e a proximidade dos gestores com os clientes locais. Concentrar tudo em um só local atende bem essa estratégia”, afirma Wichmann.

Distribuidora – Para Alviço Jr, sócio da Venko, a estratégia da Verde Asset de manter no país a estrutura de gestão dos ativos globais é um diferencial importante para os institucionais, que poderão tratar dos investimentos diretamente com os gestores. Hoje a distribuidora trabalha com 21 fundações em todo o país. A parceria com a Verde Asset agrega dois produtos inéditos para o portfólio da Venko, os fundos de ações globais e de dividendos. Atualmente, a distribuidora trabalha com fundos de crédito privado da Capitânia, multimercados da Kapitalo, de valor da Pollux Capital, e estruturados do Opportunity. “A meta da Venko é oferecer portfólio de gestoras independentes focadas, com patrimônio grande, e mandatos diferenciados, que buscam alfa para o institucional”, diz.

Estrutura antiga, mas equipe mais motivada 

A equipe de gestores permaneceu essencialmente a mesma. O escritório também é o mesmo de quando o pessoal da Verde fazia parte da CSHG. Afinal de contas, o que realmente mudou com o surgimento da nova asset? A principal mudança foi a participação acionária dada aos principais gestores – e Luis Stuhlberger fica como principal controlador da Verde.
“É um modelo de asset independente em que os principais gestores são donos do próprio negócio”, ressalta Wichmann. Ele é um dos sete gestores que se tornaram sócios minoritários do negócio. Além deles, o banco Credit Suisse também manteve uma participação minoritária. A divisão exata entre as participações de controle não é revelada, só se sabe que Stuhlberger é o principal controlador.
“Ao nos tornarmos sócios da nova asset, temos um estímulo muito maior para o desenvolvimento dos negócios. Não quer dizer que não tínhamos estímulo antes, mas que agora teremos muito mais”, diz Pedro Sales.
Em termos de equipe, o que mudou foi a ampliação da área operacional, de suporte, tecnologia e gestão de recursos humanos. A área ficou sob o comando de Pedro Fukui, que estava no banco e que tem origem o antigo Hedging Griffo. Ao todo, a nova asset ficou com 70 funcionários, dos quais 47 vieram da CSHG. Do restante, 10 profissionais foram absorvido do banco e, os demais, vieram de contratações de mercado.