Edição 243
A indústria internacional de gestão de recursos está mais interessada no dinheiro dos investidores institucionais brasileiros. O BNP Paribas, por exemplo, trouxe ao Brasil em novembro executivos do banco da Irlanda, de Luxemburgo e das Ilhas Cayman. O objetivo era oferecer os produtos e mostrar aos investidores brasileiros, inclusive os institucionais, as vantagens de se fazer uma diversificação internacional. Em um encontro com investidores e representantes de assets em São Paulo, os executivos apresentaram estruturas de investimentos off-shore e defenderam a necessidade de diversificação no exterior. “Em dez anos, não consigo ver um investidor que tenha sucesso sem a diversificação no exterior”, sentencia Georg Lasch, diretor de desenvolvimento de produtos do BNP em Luxemburgo.
Juntamente com Lasch, vieram ao Brasil Paul Daly, diretor do banco na Irlanda, e Andrew Dougherty, diretor executivo do BNP que apresentou os fundos das Ilhas Cayman. Durante os encontros com os brasileiros, os representantes, interessados em conquistar novos clientes, mostraram o perfil de investimento de cada um dos países. Nenhum deles confirmou ter captado recursos de algum investidor institucional brasileiro, mas acreditam que isso é questão de tempo. Segundo Andrew Dougherty, a visita foi em busca de parcerias com as assets brasileiras na implementação. “Nós queremos ajudar na construção deste novo caminho”.
Os três são conhecidos de investidores internacionais: Luxemburgo é principal destino de investidores na Europa, com seus mais de 16 mil fundos e somam mais de US$ 2,8 trilhões; a Irlanda vem em seguida com US$ 2,6 trilhões; já as Ilhas Cayman concentram um montante de US$ 800 milhões. Os principais produtos apresentados aos brasileiros foram os fundos Ucit’s (sigla em inglês para Organismos de Investimento Coletivo em Valores Mobiliários), criados em 2005. Estes fundos funcionam de maneira a obedecer as regras vigentes nos mais diversos países do mundo, por isso são vistos como atrativos para os países emergentes.
Grande defensor da diversificação internacional, o professor da Escola de Administração da Universidade de Columbia e pesquisador da National Bureau de Pesquisas Econômicas, Geert Bekaert é mais um que vem ao país para um contato direto com os players do mercado financeiro nacional. No final de novembro ele se encontra com investidores em São Paulo em evento da consultoria financeira FCE chamado Global Equitative Asset Management. No país, ele deve demonstrar preocupação com o que chama de viés doméstico das economias emergentes, que freia a diversificação no exterior. “As pessoas tendem a investir no que é familiar e quando se aventuram no exterior, fazem isso nos países vizinhos. Os mercados de ações da maior parte dos países emergentes é muito volátil, o custo de manter um portfólio com tendência doméstica é muito grande na comparação com um diversificado internacionalmente”, afirma.
Bekaert acha que mesmo com a taxa básica de juros brasileira em 7,25%, ainda alta para os padrões internacionais apesar de ser a mais baixa da história, os investidores podem encontrar retornos satisfatórios fora do país. Isto porque, segundo o PhD em Finanças, a taxa brasileira inclui o preço da moeda local, que ele chama de “prêmio de depreciação” e reduz o retorno no longo prazo. Para Geert Bekaert, comparar os retornos obtidos aqui com os do exterior não é uma boa medida, seria o mesmo que comparar “laranjas com maçãs”.
O PhD em Finanças acha que a diversificação no exterior não deve apenas passar pelos mercados dos países desenvolvidos e chama a atenção para o investimento em outros países emergentes. Bekaert fala que mais importante que conhecer de perto mercado onde se vai investir é prestar atenção em outras variáveis. “As palavras-chave são a diversificação e também as taxas cobradas. Definitivamente, não é necessário estar intimamente familiarizado com os mercados estrangeiros para investir lá fora. Você deve confiar no gestor e você pode ainda diversificar o risco gerencial também.”
Para os investidores institucionais brasileiros, ainda com pouca prática nos mercados fora do país, Geert Bekaert recomenda investimentos menos sofisticados, como nos fundos ligados a índices. Para ele, já seria um bom começo. “Francamente, fundos de ações de índice já seriam um grande investimento para a maioria dos investidores brasileiros, tanto institucionais quanto de varejo. Nos Estados Unidos, empresas de fundo mútuo como Vanguard democratizaram o investimento em fundos internacionais. Com os ETF’s, tornou-se ainda mais fácil obter qualquer tipo de exposição internacional que se queira, ativa ou passiva”, diz.
A grande vantagem do investimento em mercados mais sofisticados seria o aumento no número de possibilidades com a quantidade maior de produtos existentes lá fora. “O núcleo da sua carteira pode ser simplesmente de títulos e fundos de índices de ações. Você pode então tentar adicionar algum alfa no topo em uma variedade de formas: fundos de hedge, fundos de ativos ou outros”, afirma Bekaert.
Diante das incertezas do cenário global, ao contrário do que muitos poderiam pensar, o mercado de ações pode ser o ambiente mais seguro para os investidores, segundo Bekaert. “O grande desafio daqui para frente é saber como a crise europeia e os resquícios da crise global poderão afetar a inflação e as taxas de juros. Eu sinto que há mais incerteza sobre os mercados mundiais de títulos do que há sobre os mercados mundiais de capital”, analisa.
Exemplo chileno – O caminho do investimento no exterior será construído no país de forma gradual ao longo dos próximos anos. Pelo menos esta é a opinião do diretor Geral da BlackRock na América Latina (excluindo Brasil), Axel Christensen. A partir da experiência vivida no Chile, que flexibilizou as regras para investimentos no exterior e viu um crescimento significativo desde então, Axel projeta um aumento deste tipo de negócio no universo brasileiro dos investidores institucionais.
No Chile, a legislação foi flexibilizada em 1997 e os fundos de pensão puderam aumentar sua diversificação, principalmente no exterior. Atualmente, os maiores institucionais alocam cerca de 40% de seus recursos fora do país. “Existem várias diferenças entre o Brasil de hoje e o Chile da época. Uma delas é a situação dos países emergentes, que hoje é melhor. Outro ponto importante é que o mercado interno brasileiro é muito maior que o chileno naquela época. Em 98, os fundos de pensão eram muito grandes para o mercado local,” conta Christensen.
Por conta das diferenças, Christensen não arrisca o tamanho do crescimento do investimento institucional no exterior nos próximos anos, mas aposta que ele será mais lento que o chileno. “O Brasil tem sua realidade. Fundos de pensão brasileiros são importantes, mas por enquanto cabem no mercado interno. Eu não sei se um dia chegará ao tamanho do Chile, mas se chegar, provavelmente demorará mais que o Chile.”
Axel Christensen afirma ainda que o processo ocorrido no Chile foi possibilitado pela legislação flexível, mas não causado unicamente por ela. Segundo o diretor, a regulação apenas pavimentou o caminho para que as necessidades do mercado fossem atendidas. Ele completa dizendo que o percentual previsto na Resolução 3792, do Conselho Monetário Nacional, é adequado às necessidades atuais do Brasil. “A legislação no Chile começou permitindo 2%, aqui são 10%. Não é prudente começar com 80%. Eu não tenho dúvidas de que 10% é um bom percentual, acho que pode aumentar ao longo dos anos”, diz.