Edição 244
Depois de uma desvalorização de 18,11% em 2011, o Índice Bovespa (Ibovespa) voltou a crescer no ano passado. Apesar de os 7,4% registrados ainda não chegar perto da valorização de outros anos, investidores dizem que 2012 foi um ano com boas alternativas para quem soube selecionar os ativos certos na bolsa e que 2013 deve ser parecido.
O diretor de Renda Variável da Bradesco Asset Management (Bram), Herculano Alves, diz que as medidas intervencionistas do Governo Federal e o fraco crescimento do PIB foram alguns dos fatores que interferiram no resultado do Ibovespa. Por isso, teve melhores retornos quem conseguiu se descolar do índice. Herculano diz que as empresas de bens de consumo, voltadas para o mercado interno, tiveram desempenho acima da média.
Apesar das medidas do governo que afetaram negativamente as empresas do setor de energia elétrica, o diretor da Bram aponta os papéis de dividendos como um dos destaques do ano. “A medida realmente atrapalhou algumas empresas, mas nós reduzimos a participação das elétricas em nossos fundos porque a gente já achava que o governo poderia tomar alguma medida”, conta.
Outras classes de ativos que merecem destaque, na opinião do gestor, é a de empresas smallcaps e de infraestrutura, que se comportaram “razoavelmente bem”. Em tempos de fraco desempenho, Herculano ressalta a importância de uma gestão ativa de seleção de papéis. “Se fizer boas escolhas, com empresas bem administradas, têm tudo para ser melhor que uma carteira que comporta tudo”, diz.
O diretor de renda variável da BM&F Bovespa, Júlio Ziegelmann, destaca que o mercado de renda variável no Brasil viveu um ano de desconcentração e crescimento de operações menos praticadas. Ele ressalta que as opções de ações se desconcentraram da fórmula tradicional Vale e Petrobrás. A concentração de derivativos que era de 90%, hoje está em 75%. Ele fala de programas de formador de mercado, quando um grande investidor se compromete a dar liquidez a uma classe de ativos, e afirma que isto ajuda a viabilizar uma série de operações e estratégias, contribuindo com o aumento de complexidade do mercado de renda variável no Brasil.
Apesar de dividir opiniões, principalmente em tempos de atividade econômica fraca, os Exchange-traded Funds (ETF’s), os fundos de índices, tiveram aumento significativo no número de negociações nos últimos doze meses. Papéis de gestão passiva, os ETF’s entregam ao investidor retorno idêntico ao do índice no qual ele investe. Com um volume médio diário de negociações de R$ 70 milhões em 2011, os papéis fecharam 2012 perto dos R$ 120 milhões.
Aluguel de ações – O representante da BM&F aposta em um crescimento significativo do chamado aluguel de ações. Nesta operação, o investidor paga uma taxa de aluguel ao dono do papel e assume o risco de valorização ou desvalorização em um período pré-determinado. No Brasil, 1,2% dos papéis são alugados, nos Estados Unidos, o número chega a 4%. Júlio Ziegelmann diz que esta operação é um bom negócio principalmente para os investidores institucionais.
“É um negócio especialmente interessante para as fundações. Se a fundação está com a carteira parada, ela está deixando de ter uma rentabilidade. Para as ações mais líquidas, a rentabilidade é de 1% ao ano. Para a menos líquidas, é maior ainda. É uma rentabilidade sem correr o risco.” Ziegelmann ressalta que a operação é garantida pela BM&F, que fica responsável por dar as garantias ao locador.
Os investimentos no exterior também estão na pauta da bolsa para este ano. Já é possível investir em ativos fora do Brasil via BM&F. Isso pode ser feito via BDR’s (Brazilian Depositary Receipts), contratos futuros do Standard and Poor’s 500 (S&P500) que, em breve, deve ser feito via ETF. A Comissão de Valores Mobiliários já está recebendo projetos de ETF’s de índices estrangeiros e algumas gestoras, caso da BlackRock, trabalham para que isso aconteça nos próximos meses. “O investidor que quiser investir no exterior vai poder fazer isso de uma maneira muito mais fácil, como ele faz para comprar ativos aqui”, afirma Ziegelmann.
No quesito rendimento em 2013, o panorama não deve se alterar drasticamente, segundo avaliação de gestores ouvidos pela reportagem. O que não quer dizer que não haverá mudanças pontuais. Na Bram, ações de empresas voltadas para o consumo, só em caso de boas oportunidades de compra, já que “algumas não estão baratas.” A mudança pode vir com a retomada das commodities caso o câmbio fique em um patamar que favoreça a exportação. “Empresas de commodities podem ir melhor com o dolar acima de R$ 2. Eu citaria a própria Vale, já que o minério de ferro que estava a 80, já passou de 100 e isso pode beneficiar a empresa”, diz o diretor da Bram.
Herculano repete que exposição a risco é inevitável e dá a dica para os institucionais que estão começando a aumentar exposição em bolsa. “Não tenho dúvidas de que os fundos de dividendos são os que apresentam menor risco. Empresas com fluxo de caixa constante e uma variação menor”, recomenda.
Uma das diferenças para o ano que passou deve ser o crescimento, estimado pela maioria dos economistas em cerca de 3,5%, o que favorece o desempenho das empresas listadas em bolsa.
IPO’s em 2013– Uma das críticas feitas ao mercado de renda variável no Brasil refere-se ao baixo número de empresas listadas. Número que caiu de 373 em 2011, para 364 em 2012. E se o ano de 2011 já foi considerado fraco o número de Ofertas Iniciais (IPO, na sigla em inglês) no mercado brasileiro, com onze empresas abrindo capital, o que dizer então de 2012, quando apenas três empresas se lançaram em bolsa? Para o sócio-diretor da Bogari Capital, Érico Argolo, foi um ano atípico, principalmente por causa do cenário externo. “Em 2013, existe espaço para que empresas voltadas para o mercado interno entrem na bolsa. Acho que o mercado seria mais receptivo a estas empresas”, opina Argolo.
Devido às dificuldades enfrentadas pelas economias brasileira e mundial, os gestores acham que os investidores estão mais seletivos. “Em 2007, histórias não tão boas eram bem vendidas. Mas ainda existe gente querendo investir em bons cases”, diz Argolo. O executivo explica que em uma oferta de IPO, os papeis costumam ser vendidos por um valor menor, justamente por conta do nível do menor histórico sobre as empresas.
Apesar disso e mesmo com menos dinheiro disponível no mercado, ele acha que empresas bem estruturadas não precisam ter medo de abrir capital neste momento. “Em um processo de IPO, você não tem tanta informação quanto numa empresa com o capital aberto há um tempo. Para comprar em IPO, o investidor quer um desconto. Mas como as empresas de mercado interno estão bem precificadas, não acho que as novas precisam ter medo de este desconto ser muito grande.”
O mercado e a BM&F continuam adotando discurso otimista, como em anos anteriores, mas os especialistas garantem que desta vez as perspectivas são mais concretas. O cenário da economia brasileira, que agora tem juros mais baixos, pode ser aliado no crescimento do setor que está de olho, inclusive, nos investidores institucionais.