Muita gente ficou surpresa ao ver a rentabilidade do seu fundo de crédito, em outubro, marcando um percentual que em alguns casos chegou a ser metade ou até menos da metade do CDI. Alguns cotistas, inclusive, saíram da aplicação com medo de perder mais dinheiro, ou migraram para outros fundos com mais risco, caso dos multimercados. Na visão dos especialistas, um soluço nos fundos de crédito é algo que não pode ser projetado e está relacionado à queda da taxa básica de juros, a Selic, hoje cravada em 5% ao ano.
A pedido da Investidor Institucional, a consultoria Economática fez um levantamento de 153 fundos não exclusivos de crédito privado, com mais de mil cotistas, listados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Em setembro, 86 desses fundos tiveram rentabilidade igual ou superior ao CDI. Em outubro, somente 42 fundos tiveram rentabilidade acima do CDI. Pior: esses mesmos fundos tiveram, nesse mês, uma captação líquida negativa (saques maiores que entradas) de R$ 4,6 bilhões.
Para Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economática,este é um corte atípico na rentabilidade dos fundos de crédito. “Se você olhar o histórico perceberá que nos últimos seis meses o rendimento mediano foi superior ao CDI. Não dá para dizer que o que ocorreu em outubro vá se perpetuar”, explica.
Reprecificação – Marcelo Castro Domingos, sócio-gestor da DLM Invista, afirma que o movimento recente é apenas de preço, não reflete piora de crédito nas empresas. É o que os especialistas chamam de “reprecificação” dos ativos nos fundos.
Segundo o executivo da DLM, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) sinalizou em setembro que haveria uma continuidade na queda da Selic. “Ao assimilar essa mensagem, o mercado de crédito finalmente passou a refletir em suas negociações aquilo que estava “represado” há algum tempo: o ajuste de preço dos ativos (reprecificação) para que refletissem o mesmo prêmio de risco de antes, sobretudo aqueles indexados a um percentual CDI”, afirma Marcelo Castro.
Para Pierre Jadul, analista de crédito da ARX Investimentos, uma casa que administra um patrimônio R$ 6,5 bilhões em fundos de crédito, o que houve foi “um ajuste dos prêmios de risco do mercado em razão da queda dos juros futuros”. Não houve um problema de crédito nos papéis que dão lastro a esses fundos, como as debêntures de empresas, avalia o executivo.
“Não podemos nos esquecer que houve uma melhora do ambiente macroeconômico com as reformas estruturais como a da Previdência. Este cenário mais promissor acaba reduzindo a despesa financeira das empresas brasileiras, isto é, uma melhora no risco de crédito na ponta tomadora”, explica Jadou.
Concorda com Jadul o sócio da DLM. “Inclusive, houve o efeito contrário, uma melhora da qualidade de crédito em geral das empresas de janeiro a maio deste ano, que aproveitaram o momento favorável para alongar suas dívidas e reduzir suas despesas financeiras”, afirma.
Ele lembra que entre janeiro e maio de 2019 ocorreu uma forte emissão de papéis de empresas no mercado primário de crédito privado, títulos que dão lastro aos fundos de crédito. Essas emissões, lembra Marcelo Castro, vinham apresentando spreads de crédito reduzidos. “Tudo convergia para uma demanda aquecida por crédito privado naquele momento”, esclarece.
Perguntado se a baixa rentabilidade de uma boa parte dos fundos de crédito em outubro sem uma alteração significativa na captação de crédito não seria um paradoxo, o executivo da ARX diz que sim. “Na minha visão existem boas oportunidades de investimento justamente agora. Quem sai neste momento sai na baixa, deixa o fundo em um momento ruim. E quem permanece e investe tende a se recuperar junto com o mercado”, conclui.