Solos degradados dão lucro | Com uma área de 80 a 100 milhões de ...

Edição 355

Com o início de um novo governo que tem dado destaque à questão ambiental, inclusive incentivando programas de recuperação de solos degradados, gestoras especializadas estão identificando boas oportunidades de investimento com foco em recuperação ambiental. Isso se deve, em parte, à crescente demanda por ativos sustentáveis e à possibilidade de aproveitar o baixo custo das áreas degradadas em todo o país, gerando rentabilidades competitivas, além da possibilidade de também obter retornos com a descarbonização.
Com estruturas que unem Fiagros (fundos de investimento em cadeias agroindustriais) e FIPs (fundos de investimento em participações), gestoras estruturam aportes em áreas degradadas em todo o Brasil, focando em investidores institucionais locais e players estrangeiros.
“Além da estratégia de buscar o pasto degradado para transformar em lavoura e entregar o resultado da diferença desses dois ativos ao investidor, a gente também está originando créditos de carbono ao longo dessa transformação”, diz o sócio e diretor da AGBI Asset, Gustavo Fonseca, sobre o novo fundo da gestora.
Focada em ativos reais e com R$ 350 milhões sob gestão, a AGBI vai para o seu terceiro FIP com foco em áreas degradadas. O fundo, lançado em dezembro passado, já recebeu mais de R$ 100 milhões em aportes. “Com a atual taxa de juros, consideramos esse nível de aportes um sucesso”, diz Fonseca. Ele cita que o fundo tem atraído investidores locais e globais, como o banco suíço Julius Baer, que aloca recursos no fundo através de um feeder exclusivo para investir no FIP da gestora.
De acordo com Fonseca, o fundo vai entrar agora numa nova etapa, focando prioritariamente nos investidores estrangeiros. E, segundo ele, as expectativas são boas, devido ao track record da empresa, que mostrou bons resultados nos dois primeiros fundos, já finalizados. O primeiro, iniciado em 2013, captou R$ 39 milhões e entregou rentabilidade de 346% em 7 anos, numa média de quase 50% ao ano. O segundo, iniciado em 2017, teve captação menor, de R$ 28,2 milhões, e encerrou no ano passado com 418% de rentabilidade, numa média de 69% ao ano.
“Esperamos chegar a R$ 300 milhões nesse terceiro fundo”, diz Fonseca, afirmando que o fundo deve fechar a primeira fase de capitalização entre o final do mês e o início de maio. “Estamos para assinar o contrato da primeira fazenda desse fundo, que está muito bem localizada, numa região do Mato Grosso”, diz, sobre o andamento do FIP. Ele afirma que se a captação chegar ao nível esperado, o fundo deve ter de três a cinco fazendas no portfólio. “Não temos pressa para adquirir os ativos”, diz.
Em relação à rentabilidade, o diretor afirma que espera uma entrega de 20% a 21% de TIR (Taxa Interna de Retorno) anual. O benchmark da operação é IPCA +7%. “A gente não está aqui para ganhar da taxa de juros, mas para ganhar na inflação ao longo de todo o período”, afirma, ao referir-se ao prazo máximo do investimento, de 10 anos, embora, segundo Fonseca, tenda a finalizar mais cedo. Os dois FIPs anteriores finalizaram aos seis e oito anos do lançamento.
A AGBI vê o timing como um aliado, ao comentar os acenos do governo para o setor de terra degradada. “Isso está diretamente ligado à nossa estratégia”, diz Fonseca. No mês passado, uma proposta de investimentos em recuperação de terras degradadas já foi apresentada pelo governo à Cofco, holding estatal chinesa, que deve desembarcar em Brasília em breve para uma negociação sobre os termos do investimento.
O plano foi apresentado durante viagem do ministro Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária) à China. Embora a discussão ainda seja incipiente, sem áreas definidas para a atuação e mesmo sem um modelo de negócio fechado, o montante de investimentos previstos, entre R$ 30 bilhões e R$ 46 bilhões segundo um assessor da pasta, Carlos Ernesto Augustin, indicaria a necessidade de parceiros privados.
Não há um dado preciso sobre o território degradado no Brasil, mas estudos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e de publicações como da revista científica Science Advances indicam que o país tem hoje entre 80 a 100 milhões de hectares de pastagens degradadas. O uso de tecnologia para recuperar essas áreas permite ampliar a área cultivável sem fazer novos desmatamentos.

A Vox Capital, asset focada em investimentos de impacto socioambiental com 13 fundos e R$ 900 milhões sob gestão, também tem planos para as terras degradadas. A gestora planeja lançar no 2º semestre deste ano uma estratégia de curto prazo para aquisição de terras, focando em implantação florestal e técnicas de agricultura regenerativa no bioma do cerrado. O plano está sendo construído através de um Fiagro FIP, ainda em fase de constituição.
“Já existe tecnologia para recuperar áreas de pastos degradados que apresentam baixa produtividade para vários dos biomas brasileiros”, afirma o sócio e CIO da gestora, Gilberto Ribeiro, que já trabalha com uma estimativa de aportes para o fundo“. Hoje estamos trabalhando com uma captação alvo de R$ 250 milhões”, diz. Ele afirma que o fundo é voltado a multifamily-offices, bancos e fundos soberanos.
Segundo ele, a estratégia do FIP é atuar em parceria com produtores rurais previamente cadastrados. “O fundo vai comprar essas terras e arrendar, desde o dia zero, para produtores rurais que cumpram protocolos de assistência técnica desenhados pelo time de investimentos da asset”, diz Ribeiro.
Para atrair investidores que têm como alvo ativos sustentáveis, Gilberto cita a escolha e valorização das terras rurais. “Elas são compradas em regiões em que a disparidade de preço entre terras degradadas e terras produtivas seja significativa”, diz, colocando também liquidez entre as vantagens do ativo: “É um instrumento em que é possível fracionar essas propriedades, arrendar e vender”. Em relação ao retorno, espera ter resultados de 20% a 25% ao ano.