Edição 237
A integração entre o Credit Suisse Asset Management e a Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG) marca o encontro entre os fundos de pensão e o estilo de gestão de Luis Stuhlberger. Pai da badalada família de fundos multimercado Verde, que hoje reúne algo como R$ 15 bilhões em recursos, ele lidera também a gestão de renda variável da asset, uma das apostas da CSHG para captar mais dinheiro de institucionais.
Até o início do processo de integração com o Credit Suisse Asset Management, no segundo semestre do ano passado, a CSHG não tinha muito contato com entidades fechadas de previdência complementar e regimes próprios de previdência social (RPPS). “O Credit Suisse contava com uma atuação junto ao investidor institucional muito maior do que a da Griffo, que por sua vez tem um processo de venda e de captação no private que é particularmente grande”, afirma Marcelo Saad, responsável pela área de investimentos alternativos da CSHG. Ele diz que as últimas questões operacionais da integração entre as assets foram acertadas em abril deste ano, e agora já está tudo funcionando dentro de um processo de gestão único.
Saad lembra que a integração cumpriu alguns passos, como definição de equipes e lideranças, unificação de grades de produtos, realização de assembleia de cotistas e aprovações pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “Conseguimos executar a fusão dos dois times e manter um diálogo ativo com os investidores durante esse processo”, considera o executivo.
Ele diz que a CSHG tem hoje três grandes pilares de atuação: a Família Verde, “o maior negócio da casa”, que fica sob os cuidados de Luis Stuhlberger, que também engloba a parte de equity; a área imobiliária, liderada por André Freitas; e a parte de renda fixa e crédito, comandada por Saad, que contempla também alguns multimercados.
Institucionais – Dos R$ 30 bilhões que a asset da CSHG tem hoje de patrimônio, R$ 1 bilhão são de fundos de pensão e RPPS. Fernando Brandão, que já era responsável pelo relacionamento com institucionais no Credit Suisse Asset Management, continua fazendo esse trabalho na CSHG, onde ocupa o cargo de responsável pelo relacionamento e distribuição de fundos de investimentos para os investidores institucionais. Vale lembrar que a CSHG contava com serviços de terceiros para distribuir seus produtos para fundos de pensão, mas a decisão da asset com a integração foi realizar essa atividade dentro de casa.
No primeiro momento, o grande esforço de captação dentro do segmento institucional será feito junto às fundações. O nicho de institutos de estados e municípios é considerado estratégico pela gestora, mas pelo fato de esse mercado ser bastante pulverizado, Brandão pretende, mais adiante, redesenhar como será feita a prospecção de novos clientes. “Já tínhamos RPPS em nossa base, eles permaneceram conosco na CSHG, mas o universo é muito grande e é preciso encontrar a melhor maneira de atendê-lo”, afirma o executivo.
No momento em que a taxa de juros caminha para atingir seu piso histórico e diante da dificuldade dos fundos de pensão em bater as metas atuariais, a asset pretende atacar em quatro frentes: crédito privado, multimercados mais agressivos, renda variável e mercado imobiliário.
Em crédito privado, a ideia é montar um fundo cujas operações serão originadas dentro de casa. “Não faz sentido vender um fundo que compra papéis de emissões públicas ou restritas às quais os institucionais têm acesso. Por que vou colocar em um fundo uma debênture que o meu cliente pode adquirir diretamente para sua carteira própria?”, questiona Brandão. Ele conta que a CSHG já tem conversado com fundos de pensão a respeito de um produto com essas características e lembra que boa parte dos recursos de fundações sob os cuidados da asset está alocada em crédito privado.
“Nós já temos um Fidc que foi concebido em 2010 para a originação de crédito privado. Captamos R$ 1,5 bilhão e começamos a originar os ativos”, recorda Brandão, referindo-se ao Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (Fidc) Crédito Corporativo Brasil, que a CSHG herdou do Credit Suisse Asset Management. A diferença é que agora a intenção não é criar um Fidc, mas sim um fundo CVM 409.
Para o executivo, existe bastante demanda entre as fundações por crédito privado e, além de ser uma forma de as entidades acessarem papéis que não estão disponíveis nas emissões públicas, o fundo permitirá que institucionais de menor porte, que não contam com estruturas internas de análise de crédito, invistam nessa classe de ativos.
Na renda variável, a intenção é mostrar toda a grade de fundos long only que a CSHG tem a oferecer aos institucionais. “A plataforma está bem estruturada, e nós queremos trazer cada vez mais institucionais para a renda variável por meio de fundos abertos e exclusivos. E não há nada melhor do que ter o Luis Stuhlberger ao nosso lado”, diz Brandão. Como não há muito o que construir de novidade em termos de produto, o passo a ser dado é intensificar a participação em processos de seleção de gestores. O executivo admite que, por ter sido sempre muito concentrada no private, a CSHG acabava não entrando nas concorrências – vale dizer, no entanto, que o Credit Suisse Asset Management tinha clientes institucionais na área de ações, que permanecem agora na base da CSHG.
Estreias – Uma das grandes novidades é a estreia da CSHG na oferta de produtos de real estate para institucionais. A área é bastante representativa dentro da asset, mas ainda não conta com produtos focados nesse segmento de clientes.
Brandão conta que, por enquanto, a asset está observando o apetite dos investidores por um Fundo de Investimento em Participações (FIP) voltado para incorporação imobiliária nos segmentos de edifícios corporativos, shoppings (“com localização que faça sentido”) e logística. “Ainda se trata de um conceito inicial. O produto está sendo desenvolvido e nós estamos vendo com os investidores se a governança, as taxas envolvidas e o pipeline estão bem colocados”, afirma o executivo. Ele adianta que a ideia é trabalhar com projetos greenfield e não investir em empreendimentos já performados.
Outra inovação é a perspectiva de oferecer aos institucionais um multimercado que esteja classificado no segmento de estruturados pela Resolução número 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN), com limite de aplicação de 10%. “Estamos pensando em ter um multimercado multiestratégia para oferecer aos fundos de pensão. Percebi que o multimercado institucional, aquele mais tradicional, está mais estacionado. Não é nesse tipo de fundo que o investidor vai obter mais retorno para bater sua meta. As fundações estão olhando cada vez mais para os estruturados”, aponta Brandão.
O executivo revela que tem conversado com Marcelo Saad a respeito do desenvolvimento de um produto que “tenha um estilo de gestão parecido com o da família de fundos que é um grande sucesso na Hedging-Griffo”. Ou seja: um fundo que tenha alguma inspiração na família Verde, que tem as pessoas físicas como maioria esmagadora dos cotistas e está fechada para captação. “Recebo muitas ligações de clientes que dizem: ‘entraram no meu radar vários fundos da CSHG’. Quando eu vou ver, são todos da família Verde. Não podemos lançar um fundo igual e captar horrores se o próprio mercado de renda variável no Brasil limita a capacidade de gestão de um fundo como esse. Mas essa demanda nos leva a perceber que existe uma vontade do institucional de olhar estratégias mais alavancadas. Não que eles tenham investido fortemente em multimercados estruturados, mas há disposição para começar a olhar”, pondera o executivo.
Ele esclarece que a criação de um multimercado multiestratégia para os fundos de pensão ainda está em fase inicial de discussão, sendo que os investidores nem foram ouvidos ainda para medição de apetite. “É algo que está no nosso radar. Achamos que é um nicho em que há potencial de captação junto aos institucionais dentro da classe de multimercados condominiais”, sinaliza Brandão.