Edição 159
Gestora do Banco Opportunity consegue resguardar-se das farpas lançadas nas disputas entre fundos de pensão e Citigroup com o banqueiro Daniel Dantas
No meio do fogo cruzado entre o banqueiro Daniel Dantas com o Citigroup e fundos de pensão, a asset do Banco Opportunity consegue esquivar-se do incêndio e, em grande parte, até das faíscas. O patrimônio da gestora de recursos cresce ano após ano, encerrando 2004 com R$ 9,8 bilhões, enquanto que o número de cotistas recua de forma homeopática e ainda longe de ser sintomática. Os dez principais fundos de investimentos da asset do Opportunity chegaram ao último dia de abril com 1.875 cotistas – apenas 4,5% a menos do que no final do ano passado, segundo dados enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Até agora, a gestora tem conseguido equilibrar o jogo. Se de um lado as fundações bateram em retirada – o que reduziu, em cinco anos, sua participação financeira de R$ 1,15 bilhão para menos de R$ 180 milhões –, os clientes private elevaram sua presença na asset em mais de 300% nesse período. Atingiu R$ 4,5 bilhões em dezembro último. A saída dos fundos de pensão tem origem no histórico de conflitos societários com o banqueiro Daniel Dantas, mas a atração dos clientes private – aqueles com patrimônio superior a R$ 1 milhão –, se não encontra justificativa certa no fluxo de investimentos, alcança na rentabilidade.
Segundo o sócio-diretor do Banco Opportunity, Eduardo Penido, a gestora aplica, em média, 75% do seu patrimônio no mercado acionário. Segmento esse que deu a chance de os investidores, no mínimo, dobrarem de patrimônio em 2003 – quando o Ibovespa subiu 97,3% – e que garantiu uma rentabilidade considerável de 17,3% no ano passado. Além disso, o restante da carteira está quase que completamente concentrado em títulos públicos, especificamente em Letras Financeiras do Tesouro (LFT). Esses títulos pós-fixados acompanham a escalada de alta da Selic desde setembro passado. Ao que tudo indica, o cenário tende a prosseguir assim.
“O diferencial do Opportunity é exatamente a capacidade de obter resultados altos, a partir de um conhecimento profundo do risco”, diz. Penido, no entanto, admite que a asset tem aprendido a conviver com os problemas causados pelos conflitos judiciais envolvendo o nome de Dantas e do Opportunity. “Tem sido um trabalho danado. Notícias na imprensa sempre atrapalham muito. Mas a área comercial, que tem trabalhado muito, é a explicação clara e verdadeira para os resultados. Conseguimos provar para o cliente que a nossa gestão continua boa, em meio ao que parece ser uma tempestade”, avalia.
Penido faz questão de esclarecer que “a tempestade” estaria restrita a uma parte do grupo Opportunity. “Acreditamos que a disputa societária envolvendo fundos de pensão e o Opportunity Equity Partners será um caso isolado e teremos toda a paz necessária para seguir em frente”, diz. Penido garante que Dantas não tem nenhuma participação nem no Banco Opportunity nem na asset e que apenas mantém uma “relação contratual” com o banco através da Opportunity Equity Partners. O executivo, no entanto, não detalha qual relação contratual seria essa. Diz apenas que Dantas não tem a menor influência na gestão dos fundos da asset.
“Uma pena”, completa ele. Para o sócio-diretor, Dantas é um gênio das finanças. “Queríamos que ele tivesse mais tempo para que sua capacidade nos ajudasse na gestão dos recursos. Seria interessante contar com a inteligência dele”. Como Penido sustenta que Dantas não tem a mínima participação no Banco Opportunity – comandado, então, pelo diretor-presidente, Dório Ferman, e pelos diretores Walter José Lourenço Maciel e Itamar Benigno Filho –, o vendaval, segundo ele, também tem passado ao largo do Banco Opportunity, que apenas administra os fundos da asset. O Banco tem hoje um patrimônio de R$ 130 milhões, inteiramente alocado em LFTs.
Estratégia – Com ou sem vendaval, a estratégia da asset do Opportunity não mudará. De acordo com Penido, apesar de a Bolsa de Valores estar apontando para baixo esse ano – até maio, o Ibovespa caía cerca de 4% –, a gestora manterá a posição em ações e em multimercados. “O grande esforço de avaliação é feito antes da compra, ao pesquisarmos os fundamentos da empresa. A nossa filosofia tende à simplicidade; não há operações complexas nos fundos. E nossos papéis costumam ficar em carteira”, explica o sócio-diretor. Ele ressalta que, durante a entrevista à Investidor Institucional, em plena hora de agito do mercado, às 11h30, não havia ninguém na mesa de operações.
Penido diz que a asset tende a manter posição em papéis mais líquidos e em empresas que, de alguma forma, tenham menor concorrência. Como a Petrobrás, por exemplo. A gestora também avalia o pagamento de dividendos e a governança corporativa da companhia, embora não tenha setores pré-eleitos para a compra. “Mesmo em um segmento que não esteja tão bem, dá para achar uma jóia de investimento”, observa. Antes que os fundos de pensão que ainda têm recursos junto à asset temam um novo imbróglio à la Dantas, Penido esclarece: “não queremos ter participação alguma na administração das empresas”.
Produtos – Nos últimos cinco anos, a asset do Opportunity registrou um crescimento expressivo em fundos abertos, de 317%, ao passo que em outros produtos – como os imobiliários e as carteiras administradas – ela manteve, em média, os resultados. Nos fundos exclusivos, devido à retirada dos fundos de pensão, houve perdas acentuadas desde 2000. Em private equity (investimentos em participações), idem. Já nos fundos off shore (aqueles que captam no mercado externo para investimentos no Brasil) houve uma expansão razoável, de 45%, no período analisado.
Um crescimento, aliás, segundo Penido, que se justifica pelo movimento cambial. “Não temos conseguido muita coisa nessa área. O Brasil precisa se esforçar para facilitar a vida do investidor estrangeiro – passos que a Bovespa, a Anbid [Associação Nacional dos Bancos de Investimentos] e a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] já vêm dando”. Ainda assim, a asset aposta no produto. “Achamos que o Brasil ainda pode atrair muito dinheiro de longo prazo por essa via. O investidor estrangeiro é capaz de entender a volatilidade dos mercados”, avalia.
Penido conta que a asset do Opportunity acaba de se adequar à Resolução 409 da CVM. E que seus fundos de investimentos foram todos enquadrados na tributação de longo prazo. “Achamos que é um benefício que vale a pena dar para os nossos clientes, apesar da volatilidade”. O sócio-diretor do Opportunity traça um cenário positivo para a economia brasileira a partir do segundo semestre, inclusive com a recuperação da Bovespa. Garante que não recuará um milímetro nos investimentos em fundos multimercados, que tanto têm apanhado ultimamente. “Esse é fundo do futuro, onde o gestor pode mostrar o quanto é bom”, finaliza.