Seleção fica mais técnica | Na hora de escolher gestores, marcaçã...

Edição 119

A marcação a mercado dos títulos de renda fixa vai tornar a seleção de gestores bem mais efetiva. A conclusão é de Wagner Murgel, do JP Morgan Fleming. É que a asset diz já ter sofrido bastante em processos de seleção ao concorrer com gestores que não marcavam a mercado e que, portanto, em momentos de estresse registravam rendimento das carteiras aparentemente melhor. “Nós sempre marcamos a mercado, porque temos uma cultura americana. Mas, com isso, o risco ficava refletido nas cotas”, diz.
O consultor da Mercer Human Resource Consulting, Lauro Araújo, também concorda com a afirmação. Para ele, num prazo de 12 meses, quando já tiver sido formada uma base de dados em que todos os gestores utilizam a marcação a mercado, a comparação quantitativa passará a ser mais justa.
No entanto, essa análise que leva em conta cálculos matemáticos e desempenho quantitativo dos gestores representa apenas 35% a 40%, em média, do peso na decisão de escolher um gestor. Isso porque, o lema de que rentabilidade passada não é sinônimo de ganho futuro é levado a sério pelas consultorias que selecionam assets. “A análise quantitativa diminuiu de importância porque o que vale é a comparação qualitativa”, diz. Nesta análise, é verificada a capacitação da equipe de gestores, a política de investimentos da asset e a implementação dessa estratégia, além da verificação sobre a independência da área de compliance.
Em teoria, as consultorias tentavam selecionar apenas os gestores que marcavam a mercado. Mas o problema é que, como não havia uma uniformização de dados, não se sabia ao certo quem marcava e quem não marcava a mercado. Agora, quando todos têm de se adequar à mesma regra, acaba a dúvida. Com as mudanças, tornou-se evidente que apenas alguns bancos realmente marcavam a mercado, por conta do comportamento das cotas.
O Citibank, cujas cotas não sofreram variação, é apontado por especialistas como um dos que realmente marcava a mercado. Para o diretor executivo do Citigroup Asset Management, Roberto Apelfeld, o banco costuma precificar até mesmo os ativos com baixa liquidez. “A falta de liquidez não é desculpa. Quem tem seriedade faz o que é certo e há fatores de risco que afetam os preços dos títulos. Se há precificação a mercado, é possível observar a evolução desses fatores de risco”, afirma ele.

Perdas – É difícil afirmar quem não marcava a mercado, mas as grandes oscilações registradas por bancos no dia 31 de maio (primeiro dia de funcionamento da nova marcação) podem dar uma pista das instituições que deixavam de fazer o ajuste de alguns produtos diariamente. A Nossa Caixa, por exemplo, teve perda média diária de 4,1% em seus fundos (veja tabela na página 21) No entanto, o mercado inteiro (mesmo as assets que marcavam a mercado) sofreu durante todo o mês de maio, explica Murgel, do JP Morgan. “As pessoas falam em quem perdeu e quem ganhou, mas na verdade todos perderam. Quem marcava a mercado perdeu menos e quem não marcava teve toda a perda histórica”, afirma.
Como resultado do estresse vivido pelo mercado financeiro em maio, as carteiras do JP Morgan (que já tinham ajustes diários) renderam abaixo do CDI no período. Outro banco que marcava a mercado, o BBM, vinha se preparando para um cenário de estresse, explica o gestor Rodrigo Noel. “A gente continua privilegiando liquidez, nunca tivemos papéis muito longos”, diz. Para o diretor de produtos de custódia do grupo Santander Banespa, Láercio Ramos Júnior, o maior problema é que o mercado esperava essa mudança na marcação apenas para setembro.