Seguradoras na gestão | Assets ligadas a empresas de seguros como...

Edição 283

 

Seguindo o exemplo de gestoras como a Sulamérica Investimentos e a Icatu Vanguarda, alguns grupos de empresas de seguros procuram entrar e crescer no segmento de gestão de recursos dos fundos de pensão. Dois casos mais recentes se destacam: a Mapfre Investimentos contratou em junho de 2016 o experiente Fernando Brandão (ex-Credit Suisse e ex-Banif) para atender o mercado de institucionais; já a Porto Seguro Investimentos havia levado no final do ano passado Vinícius Bueno Lima (ex-Itaú-Unibanco e ex-BlackRock) para atuar junto aos fundos de pensão.
Em um caminho um pouco diferente das assets citadas, a Mongeral Aegon Investimentos (MAI) decidiu distribuir seus fundos voltados para as fundações através de uma parceria com a Itajubá Investimentos (ver ao final). O profissional da área comercial, Paulo Stockler, que atuava no relacionamento com institucionais foi integrado à equipe da Itajubá. Com algumas características particulares, mas com várias semelhanças, as três assets disputam um “lugar ao sol” no concorrido mercado de gestão de ativos de fundações.
Com R$ 21,19 bilhões em ativos sob gestão, a Sulamérica é a asset ligada ao setor de seguradoras com maior inserção entre os fundos de pensão. Segundo dados do ranking Top Asset de dezembro de 2015, a gestora mantinha R$ 3,35 bilhões de ativos de fundações. A Icatu Vanguarda também possui posição expressiva com os fundos de pensão, com ativos de R$ 2,37 bilhões deste tipo de investidor – de um total de R$ 11,28 bilhões de ativos sob gestão.
A Mapfre Investimentos, com R$ 8 bilhões em ativos sob gestão é a irmã caçula dessa família. A gestora não é nova, tem 12 anos de existência, mas só agora está entrando pra valer no segmento de investidores fundos de pensão. Fundada em 2004 com a função de realizar a gestão dos recursos das empresas do grupo, a asset se destaca no segmento de ativos de previdência aberta. No final do ano passado, a asset tinha R$ 2,50 bilhões em ativos de previdência aberta sob gestão, segundo dados do ranking Top Asset. Outros R$ 2,23 bilhões eram provenientes de recursos próprios e apenas R$ 304,66 milhões, de fundos de pensão.
“Fizemos algumas tentativas para entrar no segmento de fundos de pensão, com profissionais da equipe própria, mas vimos que ia demorar muito tempo para alcançar uma posição relevante. Foi então que pensamos em buscar um executivo mais sênior com experiência no setor”, conta Maristela Gorayb, diretora comercial da Mapfre Serviços Financeiros e responsável pelos negócios de previdência e vida do grupo.
Se de um lado, a executiva já procurava um profissional mais experiente no relacionamento com fundos de pensão, por outro, Fernando Brandão estava deixando o Credit Suisse Hedging Griffo, onde havia atuado desde 2010, justamente no atendimento comercial aos investidores institucionais. Profissional com mais de 30 anos de atuação no setor, Brandão acumula quilômetros de rodagem no relacionamento com as fundações, desde os tempos em que atuou no Banco Garantia, na década de 80, tendo passado depois pelo Banif até chegar ao Credit Suisse (antes da associação com a Hedging Griffo de Luis Stuhlberger).
“Estava olhando para algumas casas e procurando um lugar onde poderia apresentar um projeto. Foi quando um amigo me avisou que a Mapfre estava procurando um profissional com o meu perfil, então, começamos a conversar”, lembra Brandão. As primeiras conversas ocorreram em fevereiro deste ano. “Percebi que era um nome sério, com uma placa seguradora por trás e começamos a elaborar o projeto a quatro mãos”, conta o executivo. As conversas convergiram para um acordo e Brandão começou a atuar na Mapfre em junho passado.
Agora, os fundos de investimentos abertos da casa estão em fase de adaptação para a regulamentação dos fundos de pensão (Resolução 3792). A adaptação será realizada durante os meses de julho e agosto e a asset pretende estrear no mercado durante o Congresso da Abrapp, que acontece em setembro em Florianópolis. No portfólio, a gestora pretende entrar no setor com seus fundos de renda fixa e multimercados. “Nossos fundos continuam seguindo o DNA da casa, que é a renda fixa e os multimercados macro com ênfase na preservação de capital”, diz Maristela.
O foco na renda fixa e o conservadorismo dos fundos e da gestão parece ser uma característica comum das assets ligadas a seguradoras, pelo menos dessas que estão tentando entrar no segmento de fundações. Enquanto as assets independentes especializadas em renda variável, estruturados e multimercados mais agressivos encontram dificuldades para avançar e até sobreviver no mercado de gestão de recursos, as gestoras ligadas aos grupos seguradores apostam na penetração com produtos mais conservadores.

Porto Seguro – No final do ano passado, a Porto Seguro Investimentos também contratou um profissional com experiência e forte relacionamento com fundos de pensão. Vinícius Bueno Lima chegou na Portopar DTVM, empresa de distribuição do grupo, para atender os investidores institucionais, em especial, os fundos de pensão. Com 12 anos de atuação no Unibanco e, depois, no Itaú-Unibanco, e os últimos quatro anos na gestora global BlackRock, Lima acumula larga experiência com os fundos de pensão.
Com R$ 14 bilhões de ativos sob gestão, a asset da Porto também pretende aumentar a captação de recursos junto às fundações e, para isso, aposta na qualidade do time de gestão. “Vamos oferecer a mesma gestão que realizamos dentro de casa, ou seja, com foco em ativos de seguradoras. Não pretendemos mudar a forma de gestão dos produtos oferecidos a terceiros”, diz Izak Benaderet, diretor da Porto Seguro Investimentos. Ele explica que a vantagem para a asset é que os mesmos produtos que servem para a gestão dos recursos próprios, também são adequados para os ativos de fundações.
O diretor da asset conta que a Porto Seguro começou a atuar na gestão de recursos para terceiros a partir de 2007, após a chegada de Marcelo Picanço. O executivo foi contratado como CFO (chief executive officer) do grupo Porto Seguro em 2006 e, já no ano seguinte, começou a abrir os produtos para o mercado, a princípio, para pessoas físicas. O próximo passo foi o aprimoramento da gestão dos recursos de de previdência aberta, que representam atualmente cerca de R$ 4 bilhões dos ativos da asset.
Foi no final de 2013 que a equipe de gestão começou a ganhar corpo com a chegada do próprio Benaderet, gestor com passagens por assets importantes como o BankBoston e o BNP Paribas. A partir do ano seguinte, houve a segregação entre a Portopar DTVM e a Porto Seguro Investimentos como empresas distintas. Atualmente a equipe de gestão conta com 14 profissionais, o mais recente contratado foi Marcelo Faria, como gestor de renda variável.
A empresa tem buscado diversificar e fortalecer o leque de produtos, também com opções na renda variável voltadas para terceiros. E a última novidade foi o lançamento de uma nova asset de fundos alternativos, a Porto Capital (ver pág. 6), que deve promover diversificação ainda maior da grade da gestora. Em todo caso, porém, o carro-chefe da asset para o segmento de fundos de pensão será mesmo a renda fixa e um multimercado. A exceção deve ficar com um fundo de ações, com estratégia de valor, que será adaptado para a regulamentação dos fundos de pensão.
Em todo o processo de montagem da equipe e desenvolvimento dos processos da asset, que foi realizado nos últimos anos, a Porto Seguro ainda aposta em um diferencial. É que a empresa possui um fundo de pensão próprio para seus funcionários, o Portoprev. E a gestão dos recursos do fundo é realizada dentro de casa, ou seja, pela asset do grupo. “Já temos conhecimento da regulação do setor de entidades fechadas e também da gestão do passivo, pois temos um fundo de pensão próprio”, diz Benaderet.
O que faltava para a asset, era mesmo a presença de um profissional com maior penetração com fundos de pensão. Como Vinícius Lima tinha deixado a BlackRock no ano passado, ele foi o profissional escolhido para a função. Alías a disponibilidade de profissionais mais sêniores no mercado de gestão tem sido uma constante. Com a dificuldade das assets em crescer com a captação junto ao institucionais para produtos de renda variável e estruturados, muitas delas não conseguem manter seus bons profissionais. O que acontece é que eles acabam procurando uma recolocação no mercado e, ao que parece, as assets de seguradoras têm acolhido alguns desses profissionais, como são os casos da Mapfre e da Porto Seguro.