O 16º Ciclo Perspectivas de Investimento para o 2º Semestre de 2017, promovido pela revista Investidor Institucional entre os dias 22 e 24 de agosto, contou com a presença de quase 300 participantes, incluindo cerca de dez palestrantes, que analisaram a situação econômica do país e fizeram projeções para os próximos meses. Foi consenso entre os palestrantes a visão de que no atual cenário, de queda dos juros e inflação controlada, há uma necessidade dos investidores institucionais voltarem a buscar aplicações com mais risco, como apontou o diretor de investimentos da Lockton Consultoria, Lauro Araújo. “Nossa economia está entrando em um ciclo novo. O CDI está saindo de cena e para ter resultados os fundos de pensão deverão sair do baixo apetite ao risco”.
Para Araújo, os fundos multimercados, por exemplo, passam a ser mais relevantes nas carteiras das fundações nesse momento, bem como os investimentos no exterior voltam a ter importância nesse novo cenário. “As aplicações fora do país trazem muita opção de investimento. São muitas alternativas para as fundações que quiserem diversificar. E se as entidades quiserem bater meta atuarial, elas terão que começar a olhar para essas opções”, disse.
A avaliação de Araújo é de que o cenário econômico é mais favorável para 2018. Essa visão também é corroborada pelo economista-chefe do BNP Paribas Asset Management, Eduardo Yuki, que acredita que a economia deve apresentar uma virada a partir do próximos ano. Segundo ele, o cenário econômico mostra que a queda da taxa de juros leva a pessoa física a gastar menos com o pagamento de juros, sobrando mais recursos para o consumo. “Projetamos que, ao final de 2018 as pessoas poderão consumir 4% a mais do que consomem hoje. Com isso, o faturamento de empresas pode subir 8% sem que elas precisem aumentar muito o custo, gerando aumento de lucros. Todo esse movimento vai se refletir em resultados positivos em bolsa”, salientou. De acordo com Yuki, investidores podem começar a se preparar para capturar essa virada, que será positiva, com mais investimentos no mercado de capitais.
Gestão ativa – Do lado da renda fixa, se as fundações quiserem capturar boas rentabilidades, a estratégia diante das mudanças que a economia deve passar será a gestão ativa. Essa é a premissa da qual partiu o head de renda fixa da Riviera Investimentos, Luis Roberto Zaratin, em sua apresentação. Ele destacou que a gestão ativa será essencial para proteger a carteira dos fundos de pensão, pois ela sempre está baseada no modelo econômico atual. Zaratin explicou também que diante de eventos atípicos do mercado, como a crise de maio, quando foram divulgadas denúncias de corrupção contra o presidente Michel Temer, quem possuía uma gestão ativa na carteira de renda fixa conseguiu se proteger. Ele destacou ainda que o momento atual também está pedindo maior alocação das fundações em crédito.
Fatores – Para o diretor comercial da BlackRock, Rodrigo Araújo, os investidores brasileiros devem começar a usar fundos smart beta baseados em fatores, que já são utilizados em larga escala pelos investidores estrangeiros. Durante sua apresentação, Araújo falou sobre essa estratégia, que fica no meio do caminho entre a gestão ativa e a passiva. Ele explicou que, ao contrário da gestão passiva tradicional, em que a capitalização das empresas costuma ser a principal baliza para a ponderação dos índices, as estratégias com base em fatores levam em consideração outros aspectos das empresas, como a capacidade de pagamento de dividendos, a volatilidade de seus ativos e o impacto dos ciclos econômicos sobre a performance dos mesmos. “Trata-se de um novo conceito dentro da gestão passiva, complementar, que cada vez mais ganha espaço no mercado”, disse o diretor da BlackRock. “Por meio dessas estratégias, é possível identificar quais são os fatores preponderantes que explicam a valorização do ativo”.
Eleições – Além de todo o cenário econômico traçado pelos gestores e consultores, o sócio gestor da Modal Asset, Luiz Eduardo Portella, falou um pouco sobre a influência da política no mundo dos investimentos e como ela pode afetar o país no próximo ano. Portella enxerga com bons olhos as perspectivas para as eleições em 2018, e seu possível impacto no preço dos ativos no mercado. Isso porque, na avaliação do executivo, a máquina pública terá peso importante no convencimento da população para votar em candidatos que se mostrem favoráveis à continuidade da agenda de reformas apresentada pelo atual governo. “Cerca de 77% dos municípios brasileiros são interioranos, onde as prefeituras têm grande proximidade com os moradores, com forte impacto da máquina pública nessas regiões” ponderou Portella durante sua apresentação.
Cenário global – O cenário internacional também é benigno e mantém as condições favoráveis para o fluxo de recursos para mercados emergentes, segundo a consultora da Tag Investimentos, Francisca Brasileiro. Durante sua apresentação, ela destacou que o crescimento global das economias não deve retomar o ritmo forte registrado na década passada, o que permite uma lenta subida dos juros nos países desenvolvidos, mantendo os investidores alocados nos emergentes como o Brasil. “Devemos ver um novo padrão no mercado, com o dólar um pouco mais fraco”, afirmou a especialista.
Francisca lembrou, contudo, dos riscos geopolíticos que existem no radar, entre os quais as tensões entre Estados Unidos e Coréia do Norte. Para proteger o portfólio de potenciais crises decorrentes de conflitos entre nações, a consultora da Tag tem recomendado aos investidores que mantenham parte de suas carteiras dolarizadas, com aplicações em ativos internacionais, por exemplo. Com relação à China, ela afirmou que pairam dúvidas sobre uma eventual bolha de crédito em formação no país asiático.