Edição 233
Ao ver seu patrimônio sob gestão despencar de R$ 3,2 bilhões em dezembro de 2007 para R$ 602 milhões um ano depois, a Quest Investimentos decidiu que era hora de mudar o perfil de seu passivo, ampliando na carteira a participação de clientes com horizonte de mais longo prazo. Antes do estouro da então chamada crise do subprime, os distribuidores respondiam por 77% dos ativos sob os cuidados da asset e, em 2008, essa parcela caiu para 33%. Com expectativa de ter encerrado 2011 com patrimônio da ordem de R$ 1,6 bilhão, a Quest tem hoje 55% do bolo oriundo do segmento institucional, que passou a figurar na base de clientes somente em 2009.
A intenção é crescer ainda mais junto a esse nicho, o que inclui a captação de recursos de institucionais brasileiros e estrangeiros. A conquista de clientes internacionais é, inclusive, uma das prioridades estratégicas da Quest para os próximos anos. Tanto é que a gestora tem participado de concorrências para mandatos internacionais e firmou recentemente uma parceria com o BTG Pactual. Paulo Pereira Miguel, sócio e economista chefe da gestora, comenta que a demanda por ativos brasileiros vai continuar crescendo cada vez mais por parte de não residentes.
“Nessa visão construtiva sobre o futuro da economia se inserem os nossos passos recentes. O Brasil estará cada vez mais inserido globalmente como um porto atrativo e é daí que vem a nossa busca de participar de processos de concorrência para lançar produtos com foco em investidores estrangeiros”, afirma o executivo, lembrando que em meados de 2011 a Quest conqusitou um mandato do Nordea, o maior grupo de serviços financeiros da região norte da Europa, com ativos totais de 671 bilhões de euros e 11 milhões de clientes no varejo, a maior base dos países nórdicos. “Nós ganhamos a concorrência para ser o gestor de fundos long only no Brasil distribuídos na plataforma do Nordea. Esse mandato é uma evidência importante para nós de que essa estratégia de buscar clientes estrangeiros está começando a dar frutos”, considera.
Paulo Miguel diz que a Quest está participando no momento de outras concorrências com perfil semelhante. “São clientes institucionais estrangeiros, porque esse é o foco prospectivo na nossa estratégia offshore”, afirma. Paralelamente aos processos de seleção, a Quest colocou em prática outra iniciativa que deve colaborar com o crescimento da base de clientes estrangeiros da asset. A gestora firmou um acordo com o BTG Pactual por meio do qual o banco passa a ter o direito de adquirir 15% do capital social da Quest e se compromete a investir parte de seu capital nos fundos da asset. “A presença internacional do BTG Pactual encaixa diretamente na nossa estratégia. O banco tem presença lá fora e inclusive em sua base societária conta com a participação de institucionais estrangeiros. A parceria é estratégica principalmente na frente de captação e distribuição internacional com o lançamento de produtos adequados para esse público”, reforça Paulo Miguel.
Mudanças – O executivo recorda que até 2008 a maior parte do passivo da Quest era de clientes private, focada em bancos. De três anos para cá, a gestora deu início ao esforço de ampliar a participação de alocadores independentes (os chamados wealth managements) e dos institucionais. “Nos últimos dois anos, esse processo ganhou mais velocidade”, detalha Paulo Miguel.
Wilson Barcellos, head da área de investidores institucionais da Quest, lembra que com a crise iniciada nos Estados Unidos a indústria de gestão de recursos sofreu muito – principalmente o segmento de multimercados. Em 2007, 84% dos ativos sob gestão da asset estavam alocados na estratégica macro. “Os grandes distribuidores sofreram saques de seus clientes finais e obrigatoriamente tiveram de resgatar recursos das assets independentes. Isso aconteceu por mais que no segundo semestre de 2008 nossa performance tenha ultrapassado o CDI e ficado bem acima da indústria”, aponta Barcellos. Ele acrescenta que também houve saques forçados por parte de bancos distribuidores e alocadores por conta do desenquadramento ao limite máximo de aplicação em fundos de terceiros. “Todo o processo de saída de capital acabou gerando saques compulsórios”, acrescenta o executivo. Ele diz que com isso a Quest aprendeu que era preciso mudar um pouco o perfil de seu passivo.
“A ideia é ter um passivo de mais longo prazo”, confirma Paulo Miguel. Internamente, a asset também procurou reforçar seus processos e seu time. “Nos últimos dois anos conduzimos o que chamamos de ‘seniorização’ da equipe, tanto que trouxemos recentemente o Silverio para a renda variável e o Santucci para os multimercados”, afirma ele, referindo-se a Alexandre Silverio, que trabalhou por vários anos na asset do Santander, e Marcelo Santucci, ex-Goldman Sachs. Paulo Miguel afirma que todo o processo de decisão de investimento é baseado no comitê, com pessoas que dividem responsabilidades.
“O processo hoje contempla todos os membros da equipe, com cada um exercendo uma participação efetiva no processo decisório e funções definidas”, comenta Alexandre Silverio, sócio e responsável pela gestão de ações da Quest. A intenção, de acordo com Paulo Miguel, é “atingir um patamar de perenização da empresa em que o processo fale mais alto do que cada pessoa individualmente”. “Temos procurado reforçar os processos especialmente em função da estratégia de diversificação de passivo, porque para o investidor que queremos conquistar é ainda mais importante a questão do longo prazo, de a empresa continuar aqui daqui cinco ou dez anos. Por isso temos buscado que todos os processos internos da empresa se comuniquem muito claramente com a nossa estratégia externa de captação e de posicionamento do mercado”, indica o economista chefe.
Multimercados – Marcelo Santucci, sócio e responsável pela gestão macro da Quest, considera que algo implementado este ano que tem sido extremamente importante para o aprimoramento dos processos é a figura do co-gestor. “Isso está em linha com o aperfeiçoamento da governança nos processos de gestão, que passa pela seniorização da equipe”, afirma. Ele conta que, no caso da equipe que comanda, o principal desafio é “reposicionar a Quest no seu lugar de destaque na indústria de fundos macro, tanto em relação a rentabilidade quanto recursos sob gestão”. “Para atingir esse objetivo, foi necessário fazer avanços na governança”, explica.
Em agosto de 2011, a estratégia macro correspondia apenas por 15% dos ativos sob gestão da asset. Mas nem sempre foi assim. Paulo Miguel recorda que a Quest nasceu em 2001 como uma casa macro, “muito em função do background” de seu sócio fundador, Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Telecomunicações, ex-diretor do Banco Central e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Me juntei à Quest em 2005, ano em que a casa começou a vislumbrar oportunidades em ações. Tomamos naquele ano a decisão de lançar produtos de equity, caminhando estrategicamente para a área de Bolsa, uma vez que vislumbramos que com a estabilização da economia e o processo de ajuste do risco-Brasil haveria uma migração para novos tipos de produto. Desde então, a parte de renda variável cresceu muito na Quest”, relembra Paulo Miguel.
A Quest continua apostando boa parte de suas fichas na área de ações, tanto é que pretende fazer o volume de ativos sob gestão nesse segmento passar dos atuais R$ 1,2 bilhão para R$ 5 bilhões nos próximos três anos. E o investidor institucional deve contribuir para esse aumento no montante aplicado em ações. “Vemos cada vez mais uma consolidação de juros mais baixos. Isso vai reforçar a migração de recursos para produtos de investimento com características diferentes. O que vigora hoje no Brasil é a maioria esmagadora de recursos de renda fixa, mas isso tende a mudar. Por isso queremos estar bem posicionados em ações, especialmente perante o segmento institucional”, diz Paulo Miguel (veja mais no quadro).
Isso não quer dizer, no entanto, que a estratégia macro vai ser colocada de lado. Muito pelo contrário. No médio prazo, o objetivo é que a relação entre a parcela do patrimônio em equity e em multimercados seja mais equilibrada – algo como 50% a 50%. Essa é a grande missão da equipe macro da Quest.
Small caps para institucionais
Atendendo a demandas de clientes e olho no potencial de aumento de captação em renda variável junto a institucionais, a Quest está trabalhando na adequação de seu fundo de small caps à Resolução número 3.792 do Conselho Monetário Nacional. A estimativa é que ainda em janeiro a adaptação esteja concluída.
Lançado em janeiro de 2010, o Quest Small Caps tem aproximadamente R$ 20 milhões de patrimônio, com capacidade para chegar a dez vezes isso. Desde o início, o fundo acumula rentabilidade da ordem de 50%, contra um índice BM&FBovespa Small Caps (SMLL) de cerca de 10% no mesmo período.