Potencial de expansão de ETFs | Se o mercado brasileiro seguir a ...

Edição 276

Com uma participação expressiva e estratégica nas carteiras dos institucionais no exterior, os Exchange Traded Funds (ETFs) têm potencial para se multiplicarem no Brasil nos próximos anos. Mas isso ainda depende da ampliação da quantidade de índices de diferentes classes de ativos, de uma regulação mais aberta para as fundações e até mesmo de uma recuperação no mercado doméstico de renda variável.
O volume negociado dos fundos de índices de ações – os ETFs – foi de R$ 25,07 bilhões na BM&F Bovespa no ano passado, com 17 produtos. O patrimônio foi de R$ 3,12 bilhões. Eduardo Levy, gestor de estratégias de diversificação da Rio Bravo Investimentos diz que projeções de mercado apontam que o patrimônio possa chegar a R$ 30 bilhões e o volume negociado, R$ 160 bilhões no Brasil em 2017.
“O múltiplo é enorme, mas a base ainda é pequena, principalmente em um país grande como o Brasil”, afirma Levy, que acredita em um crescimento desse mercado no país no próximo governo, em uma janela de cinco a sete anos. Uma estimativa de mercado, feita pela Bloomberg e BlackRock, aponta para um crescimento de US$ 1 trilhão na indústria de ETFs como um todo, passando de US$ 2,9 trilhões em janeiro de 2015 para US$ 3,9 trilhões em 2017.
Para Bruno Stein, diretor da BlackRock, líder nesse mercado, a evolução dos ETFs no Brasil segue os parâmetros normais de outros países, considerando que o instrumento foi lançado no país há seis anos. Ele evita cravar um prazo e um número de crescimento desse mercado, mas diz que em um momento haverá um ponto de inflexão no qual isso possa ocorrer de forma mais arrojada no Brasil.
“Entendemos que o ETF de renda fixa, quando for lançado, mais o internacional e o de renda variável local, à medida que os institucionais voltem a ter interesse na bolsa brasileira, possam se multiplicar por várias vezes nos próximos anos”, avalia o diretor da BlackRock, que tem sob gestão ETFs com patrimônio líquido de R$ 2,4 bilhões, o equivalente a 60% de todo o volume do mercado brasileiro, de acordo com números de abril deste ano.
Há mais de um ano em discussão pelos órgãos reguladores e participantes do mercado, o aguardado ETF de renda fixa deve ser lançado durante o ano que vem. Um dos pontos que ainda está em debate, fala Ricardo Forni, gerente executivo de produtos da BB DTVM, é a questão da liquidez dos ativos que serão negociados dentro dos fundos de índice. “Em alguns vértices onde há estoque da dívida pública emitida os ativos não tem muita liquidez, o que prejudica o gestor de carteiras indexadas”, comenta Forni.
As conversas com outros provedores de índices em relação ao ETF de renda fixa tem sido justamente sobre como refletir de maneira mais adequada a liquidez do mercado ao longo dos vencimentos da curva de juros. “Isso vai tornar o índice mais representativo e mais replicável. Temos conversado com provedores de índices, e o produto deve ser lançado em breve”. Os primeiros ETFs de renda fixa do mercado brasileiro, prevê o especialista, devem ter como lastro os índices da Anbima, como a família IMA e o IRF-M, que já são mais populares entre os investidores.
De acordo com Stein, o fundo de índice reflete visões táticas dos mercados, o que permite às fundações entrar e sair de posições de forma rápida e barata. Hoje, o fundo de índice que responde por mais de 90% do volume negociado é o BOVA11, que segue o Ibovespa.
“O ETF é um instrumento consolidado, mas um limitador é que não existe interesse tão grande das fundações em renda variável nesse momento”, diz o diretor da BlackRock. Outra trava para o crescimento do ETF, segundo Stein, é que as entidades fechadas de previdência complementar têm um limite de exposição máxima de 25% do patrimônio de cada ETF. “Esse limite poderia ser discutido, porque dificulta o lançamento de novos produtos para entidades fechadas de previdência complementar. Hoje, é preciso que o instrumento cresça em outros segmentos a ponto de atingir um volume no qual as fundações possam entrar com 25%”, comenta.
Segundo Stein, o ETF de renda fixa ainda aguarda os últimos esclarecimentos do regulador para que possa ser lançado e ainda não permite a participação de fundos de pensão, o que terá de ser resolvido a partir do momento em que esse fundo de índice estiver no mercado. Ele disse que o produto está sendo montado pela asset, ainda sem previsão de lançamento.
Ao mesmo tempo em que há um interesse menor pela renda variável, o apetite dos investidores pela renda fixa é crescente no atual cenário de inflação e taxa de juros altas. A expectativa é que essa classe de ativo permita um crescimento bastante interessante do mercado de fundos de índices, principalmente se for retirada a trava que proíbe a compra pelos fundos de pensão.
“É preciso sempre lembrar que um ETF é a maneira mais eficiente de entregar índices e existe um número pequeno deles na bolsa brasileira, o que limita a quantidade de produtos. Na renda fixa, há um número um pouco maior e os índices são bem diferentes uns dos outros, ou seja, atrelados à inflação, prefixados, pós-fixados, com variedade de prazos e posições”, avalia Stein.
A permissão de montar ETFs com índices de novas classes de ativos deve levar a um aumento da alocação pelo investidor. Para Tatiana Grecco, superintendente de fundos na Itaú Asset Management, o potencial de crescimento é grande, mas o prazo para que ele se concretize depende do avanço dos reguladores para a criação de novos produtos.
Ela diz que a regulamentação do ETF de renda fixa está na etapa de discussão sobre a tributação, que será diferente do produto na renda variável e também em relação aos fundos de investimento desta classe de ativo, além de não ter o come-cotas para pessoa física, um dos participantes fundamentais desse mercado. “Devemos esperar algum avanço sobre o assunto a partir do primeiro trimestre do ano que vem. Acho difícil estimar um crescimento para 2017 porque estamos quase em 2016 e não lançamos o produto”, afirma.
Em uma janela maior, de uma década ou mais, a superintendente espera que o mercado possa avançar para outras classes de ativos, permitindo inclusive o surgimento de ETFs de renda fixa de crédito privado e internacional. “Será preciso que todas as partes estejam alinhadas na regulação, inclusive na questão das regras para os fundos de pensão para fomentar esse mercado”, afirma.

Competitividade – A superintendente do Itaú diz que o crescimento do ETF tem sido expressivo na comparação com os fundos de ações convencionais nos últimos anos. De 2010 a agosto de 2015 foi de, em média, 8,3% ao ano ante a uma retração de 4% ao ano, respectivamente. “Foi um período no qual recebemos mais alocação de institucionais, que passaram a ter uma estratégia core com ETFs e outra em fundos de alfa maior”, afirma.
Francisca Brasileiro, consultora sênior da área de investimentos da Towers Watson, diz que nos últimos anos muitas fundações começaram a separar as estratégias alfa de beta, ou seja, com uma parcela dos recursos que busca retorno e outra que fica em uma posição passiva na carteira.
A segregação de estratégias core (passivo) e satélite (ativo) é uma tendência na estrutura dos portfólios do futuro dos fundos de pensão, na opinião da consultora, que acredita no em crescimento no mercado de ETFs por meio dessa alocação em um período de cinco anos. “Nas pequenas e médias, há uma onda de tendência de gestores menores buscando o investimento passivo com baixo custo dos ETFs. E essa etapa terá uma duração maior, de até dez anos”, conclui.
Hoje, nesse perfil de fundação, explica, ainda é comum repassar para os gestores a política de investimentos com a responsabilidade de fazer investimentos balanceados em renda fixa e variável.
Para Levy, da Rio Bravo Investimentos, a separação de estratégias também ocorreu em função do momento pelo qual passam os ativos em bolsa. “Dificilmente melhoram em dois ou três anos”, diz. O que deve impulsionar os ETFs, nesse sentido, será a possibilidade de ampliar as estratégias por meio do smart beta. “O que mais cresce no exterior são as estratégias de baixa correlação com os índices, uma mudança que vem sendo liderada pelo investidor institucional internacional desde a crise de 2008, quando as cotações das ações estavam em baixa”, diz.
Ele menciona como exemplo carteiras que contém ETFs correlacionados com outros elementos, que não só o preço ou a capitalização de mercado no caso de ações. O smart beta, diz, permite a construção de ETFs com estratégias diferentes e baixa correlação aos índices passivos mais clássicos.
“No universo de ETFs, é o que mais cresce. A participação de instrumentos com smart beta alcançou um patrimônio de US$ 450 bilhões do total de US$ 2,4 trilhões da indústria em 2014. A estimativa de mercado é que chegue a US$ 1,5 trilhão dos US$ 4,3 trilhões projetados para esse mercado em 2017”, afirma.
Francisca, da Towers, também espera que o mercado ganhe sofisticação com o smart beta, apesar de ele ainda ser pouco presente na carteira dos investidores. “Propicia uma forma inteligente de fazer a gestão beta. É a criação de índices de referência ao benchmark que precisam capturar ganhos de mercado sem que seja necessária a gestão ativa. Isso demorará a chegar ao Brasil, mas está no caminho”, diz.
O aumento da demanda por estratégias mais passivas, fala Paula Salamonde, diretora da MSCI, ocorreu principalmente por conta da busca dos investidores por redução de custos. “Com produtos a um custo inferior, os investidores conseguiram capturar estratégias que antes estavam disponíveis apenas através de portfólios ativos”, comenta a especialista.
Fernando Lifsic, diretor para América Latina da FTSE Russell, acrescenta: “a gestão ativa não está morta, mas o modelo de negócio está em transformação. Há uma forte tendência por novos tipos de ETFs, o que permite ao investidor acessar diretamente novas estratégias. Existe ainda uma outra tendência de estratégias ativas que seguem benchmarks e que são reunidas dentro de um ETF”. Estratégias que no passado eram consideradas alpha puro, nota Lifsic, hoje já tem características de fundos beta. “Essas mudanças tem levado os investidores a repensar o que é uma gestão ativa, passiva, e o quanto querem ter em custos com gestores. Esse certamente é um ‘driver’ importante para o crescimento dos ETFs”.

Smart Betas – Uma tendência que começa a ganhar força em países onde o mercado de capitais já é mais desenvolvido é a adoção pelos gestores dos índices passivos para montarem suas estratégias ativas. “O surgimento de novos índices como os smart betas ou baseados em fatores se tornou uma importante tendência, tanto é que muitos gestores ativos estão adaptando seus modelos de negócio, oferecendo estratégias ativas convertidas em ETFs”, diz o diretor da FTSE Russell. O aumento da demanda por fundos passivos ainda ocorre de maneira mais tímida no Brasil, avalia Salamonde, da MSCI, pelo próprio ciclo econômico que a região atravessa, que não favorece a busca por novos benchmarks na bolsa. Mesmo entre os benchamarks que já estão na Bovespa, nota a especialista, a adoção de maneira mais ampla ainda encontra restrições. “A bolsa tem vários índices, mas além do Ibovespa e do IBr-X, poucos são utilizados”. Embora os fundos passivos venham ganhando terreno, a executiva lembra que o espaço a ser percorrido ainda é longo – os fundos passivos que seguem índices da MSCI giram ao redor de US$ 100 bilhões, enquanto os ativos tem cerca de US$ 9,5 trilhões.
Outra preocupação entre os institucionais no Brasil que não ocorre tanto no exterior, aponta Lifsic, é sobre a liquidez dos ativos, o que faz com que muitos tenham seus portfólios concentrados em benchmarks de maior liquidez. “Na maioria dos mercados desenvolvidos, vemos o oposto. Os fundos de pensão querem comprar ativos ilíquidos, para tirar vantagem do prêmio da baixa liquidez”.