Edição 359
O Brasil está no foco do Pátria Investimentos. A gestora, tão conhecida em seus 35 anos de atuação por participar de mega operações de private equity, voltadas nos últimos anos principalmente a grandes investidores internacionais, está voltando a aproximar-se do investidor brasileiro. Na verdade, esse movimento começou há cerca de dois anos, mas só agora começaram a aparecer os primeiros resultados, com a base de clientes nacionais passando de 5% há 24 meses para 10% atualmente. A perspectiva é de chegar a 25% nos próximos anos.
Com R$ 140 bilhões sob gestão, dos quais R$ 5 bilhões captados nos últimos 12 meses, a gestora dobrou sua equipe dedicada à Brasil nos últimos meses. Hoje são 19 pessoas dedicadas exclusivamente ao relacionamento com o investidor brasileiro. “Temos a visão de oferecer os nossos melhores produtos, que antes só eram disponibilizados aos internacionais, aos investidores brasileiros”, afirma o sócio e head de marketing e produtos do Pátria, José Augusto Teixeira. “A gente vem trabalhando nessa aproximação e estamos conseguindo maior capacidade de customização para esse público. E achamos que a resposta tem sido muito positiva”.
Uma das mais recentes investidas junto à pessoa física ocorreu durante o Expert XP 2023, promovido pela XP Investimentos no início do mês de setembro. O Pátria lançou no evento seu primeiro Fundo do Agronegócio (Fiagro), com previsão de captação de R$ 250 milhões, com distribuição exclusiva da XP. O ticket mínimo será de R$ 1 mil.
Embora seja sua primeira incursão nessa classe de fundos voltada ao agronegócio, não se pode dizer que o segmento seja desconhecido do Pátria. A gestora tem desde 2011 uma fatia na Agrichem, empresa de fertilizantes, além de controlar a Lavoro, um negócio na área de insumos agrícolas. Em seu site, ressaltando a importância do setor, o Pátria lembra que o agro cresceu cerca de 35% entre os anos de 2020 e 2021, durante a pandemia, enquanto o PIB do Brasil cresceu apenas 1%.
Na agenda de aproximação com o investidor local, os clientes institucionais ocupam posição de relevância, segundo Teixeira. De acordo com ele, hoje o principal produto para essa classe de investidor é o fundo de infraestrutura Infra V. Em fase de captação, o fundo fez seu primeiro aporte de recursos em um lote de rodovias no Paraná e na Colômbia no final de agosto, em conjunto com o Fundo Soberano da Arábia Saudita (PIF em inglês).
O projeto conjunto prevê investimentos de R$ 7,9 bilhões em obras de melhorias e manutenção em trechos das rodovias BR-277, BR-373, BR-476, PR-418, PR-423 e PR-427, além da operação e conservação das rodovias pelo prazo de 30 anos. “Nós estamos investindo em infraestrutura nos últimos dezessete anos, no caso de rodovia já é nossa sexta concessão. Operamos hoje com sucesso de quatro mil quilômetros de rodovias no Brasil e na Colômbia, é um setor super estratégico para nós”, afirma André Sales, Sócio e CEO da vertical de Infraestrutura do Pátria.
Em fevereiro, a gestora fez a segunda rodada de captação do fundo Pátria Infraestrutura Energia Core Renda FIP-IE – o Pier11, de R$ 400 milhões. A primeira captação tinha sido finalizada em agosto de 2022, totalizando R$ 191 milhões. Na época, foi anunciada a participação acionária em nove pequenas centrais hidrelétricas em operação, que fornecem energia elétrica para distribuidoras e pequenos clientes, entregando um retorno equivalente a 120% do CDI no período.
Queda da Selic – A queda na taxa básica de juros no mês passado, de 13,75% para 13,25% ao ano, é estratégica para o Pátria pois com o fim dos juros altos essa aplicação começa a perder atratividade e os investidores, principalmente os institucionais, devem voltar à alocar no setor de infraestrutura. O BNDES chegou a prever a necessidade de R$ 3 trilhões em infraestrutura no país nos próximos 10 anos. “Entre julho e agosto houve um momento de virada de percepções, com os investidores cada vez mais buscando oportunidades locais para se posicionarem nesse novo ciclo de queda dos juros”, lembra Teixeira.
Segundo o executivo, a gestora tem atuado também junto aos fundos de debêntures incentivadas. No final do ano passado, o CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe) se tornou o investidor âncora no Pátria Infra Crédito, fundo de infraestrutura do Pátria. Foram US$ 25 milhões de aporte na iniciativa.Mas nem tudo foram flores nessa caminhada. No final de julho, o fundo Special Opportunities II chamou a atenção do mercado porque o valor de suas cotas caiu de R$ 10 para -R$ 301, uma queda de 2.951% devido ao desinvestimento na Portfólio Centro Sul, holding que controla quatro shopping centers que passaram a operar no vermelho. Como a operação exigiria novos aportes do fundo para cobrir prejuízos, a gestora optou pelo desinvestimento, mesmo assumindo prejuízos da ordem de R$ 16 milhões.
Segundo Teixeira, os sócios do Pátria irão cobrir inteiramente esse prejuízo, sem repassá-lo aos 76 cotistas do fundo. “Erramos nessa tese, que vinha desde 2012”, afirma Teixeira. Por causa do episódio, a área de real estate do Pátria foi toda reformulada e agora é gerida em parceria com a gestora VBI Real Estate. “Quando a cota do Special Opportunities II tinha caído mais de 10% nós já havíamos avisado o investidor da venda dos shoppings, alertando que a cota ficaria negativa”, completa Sales. “Foi o que aconteceu”.
Além do desinvestimento no Portfólio Centro Sul, o Pátria fez desinvestimentos de cerca de R$ 11 bilhões nos últimos 12 meses. A gestora se desfez de sete ativos, sendo o mais recente a venda de uma fatia da Delly´s, líder em distribuição de food service (alimentação fora do lar) no Brasil, que saiu do Fundo V da gestora para passar a ser co-controlada pelo seu Fundo VII e pelo Fundo VIII da CVC Capital Partners.
Outros desinvestimentos do Pátria incluem a Odata, do setor de data centers; a Entrevias, do setor de rodovias; a Smart Fit, maior rede de academias do mundo desinvestida via follow-on; a PareBem, de gestão de estacionamentos, numa fusão com a Indigo; a Atis Group, do setor de infraestrutura de telecomunicações; e a Arke, em uma recapitalização do setor de energia.
A soma desses desinvestimentos originou uma Taxa Interna de Retorno (TIR) de 34% e um retorno de 3,2 vezes sobre o capital investido, ambas em reais. Ao longo de sua história o Pátria já atingiu cerca de R$ 30 bilhões em desinvestimentos, com TIR de 23%.
América Latina – Embora o foco do Pátria esteja atualmente voltado principalmente aos investidores brasileiros, seguem de vento em popa as suas operações na América Latina, onde lidera a área de investimentos alternativos. Em julho, firmou uma joint venture com o Bancolombia, uma das principais instituições financeiras da Colômbia e da América Latina, para distribuir produtos a investidores colombianos. A nova empresa deve começar a operar já no segundo semestre deste ano. No acordo, o Pátria detém 51% de participação e aportará recursos financeiros ao longo do tempo para desenvolver o projeto, enquanto o Bancolombia mantém participação de 49%. No início, a joint venture administrará um fundo de real estate de aproximadamente US$ 1 bilhão, o segundo maior da Colômbia.
A operação faz parte das metas expressas pela gestora em 2021, no seu IPO na Nasdaq, de ampliar sua capacidade geográfica sobretudo na América Latina e de aprimorar sua área de distribuição. Ainda no final de 2021, poucos meses após seu IPO, o Pátria anunciou uma grande transação com a Moneda Asset Management, gestora de ativos com sede no Chile, que incorporou ao seu domínio uma plataforma de crédito na região, com expertise em public equities e capilaridade de distribuição no país.
“Fomos capazes de atrair muitos investidores internacionais, e por quê? Não foi com uma lâmina, um powerpoint, foi com retorno e escala. A gente costuma dizer ao investidor institucional brasileiro que um dos benefícios de investir no Pátria é investir em uma gestora já listada, sujeita a um escrutínio regulatório super intenso, o que poucas ou quase nenhuma gestora brasileira tem”, afirma Teixeira. “A gente criou a maior empresa de educação do mundo e várias das maiores em saúde”, diz citando especificamente a Anhanguera Educacional (Cogna) e a Dasa, de educação e saúde, respectivamente.