Partnership é tudo de bom | Acompanhado de doze executivos, José ...

Após 16 anos à frente da Arx, gestora que montou em 2001 e vendeu para o BNY Mellon em 2008, o executivo José Alberto Tovar decidiu em maio último deixar a casa para montar uma nova asset, a Truxt Investimentos, depois de ter tentado sem sucesso convencer o controlador a adotar um modelo de relacionamento baseado no conceito de “partnership”, pelo qual a remuneração dos principais executivos é definida pela sua performance. Junto com ele, deixaram a gestora outros doze profissionais , incluindo nomes das áreas de gestão, análise, compliance e distribuição.

Além disso, vieram também quatro importantes fundos que eram geridos por esses profissionais. Bruno Garcia está cuidando dos fundos ‘long and short’ e ‘long biased’, Marcel Guetta toca o fundo de ações e Rafael Vasconcelos e Mariana Dreux fazem a gestão do fundo macro. Em pouco mais de três meses de atuação, a casa já atingiu R$ 2,6 bilhões em ativos sob gestão, aportados em grande parte pelos antigos clientes dos fundos que foram migrados para a nova casa. “Vieram conosco uma série de clientes que já estavam acostumados com a nossa gestão desde 2001. Esse foi o ‘seed’ inicial da empresa, e agora nosso desafio é gerar boas rentabilidades”, afirma Tovar. Segundo ele, a expectativa é alcançar R$ 5 bilhões a R$ 7 bilhões num período de um ano e meio a dois anos.
Como não poderia deixar de ser, a Truxt nasceu adotando o conceito de “partnership” e meritocracia, que segundo Tovar possui uma maior capacidade de atração e retenção de talentos. Grandes gestoras e bancos de investimento que tornaram-se ícones para os executivos brasileiros da área de investimentos, como o Garantia e o Pactual no passado, assim como a Verde e a Adam atualmente, adotaram e adotam esses conceitos. “Trata-se de um conceito que admiro muito e almejava isso ao montar a Truxt”, diz Tovar.
Segundo ele, embora mantenha relacionamento amigável com os profissionais da antiga casa, isso não significa alinhamento automático em nenhuma linha de negócios. “Fazemos negócio com quem nos dá as melhores condições, não temos uma escolha pré-determinada ou prioritária por ninguém”. Ainda de acordo com ele, “continuamos próximos dos profissionais da antiga casa e tenho tomado muito cuidado em não dizer nada que possa ser sensível a esse relacionamento”.

 

Saídas repostas – Com a saída de Tovar da Arx, a gestora promoveu Rogério Poppe ao cargo de diretor executivo, que passou a acumular com a gestão dos fundos de renda variável. Segundo ele, a saída do grupo de Tovar representou a perda de 30% da equipe de análise e gestão da Arx, mas que foram rapidamente repostas. Foram trazidos de volta Roberto Benisti, que já havia trabalhado na Arx entre 2005 e 2010, respondendo pela estratégia macro/renda fixa, além de Guilherme Abry, que trabalhou no BNY Mellon entre 2005 e 2011 e na ARX entre 2011 e 2016, e Eduardo Bacvynsky, que teve passagem pelo BNY Mellon no início de sua carreira. Também foi recontratado Alexandre Sant´Anna, que esteve na gestora por uma década até 2014. Abry assumiu o cargo de COO, Benisti está cuidando da estratégia macro e Sant´Anna está na equipe de renda variável. “São profissionais não só experientes, como também possuem um bom entrosamento com a cultura da Arx, e entendemos que isso faz muita diferença”, pondera Poppe.
De acordo com ele, a volta de profissionais que já passaram pela casa é saudável para o desempenho dos fundos. “Muitos dos produtos que temos hoje foram lançados pelo próprio Benisti em sua primeira passagem pela Arx. Inclusive ele era o responsável por essa área no momento em que os fundos multimercados e de renda fixa tiveram o maior volume sob gestão”, observa. Ainda de acordo com ele, além dessas recontratações também houve contratações de gente nova e remanejamento de algumas posições. César Santos, que está há mais de nove anos na Arx, passou a ser o gestor dos fundos ‘long and short’ e ‘long only’, observa.
Poppe afirma que a Arx está conversando com o grupo controlador para implementar um programa de ‘partnership’, como forma de aumentar os incentivos aos profissionais. Segundo ele, essa conversa está sendo bem recebida pelo controlador. “A Arx sempre foi bastante competitiva na remuneração aos seus executivos”, diz. “E pretendemos continuar sendo”.
Com R$ 13,5 bilhões sob gestão em dezembro de 2016 segundo o ranking Top Asset, a Arx perdeu 20,9% de recursos de terceiros no período de seis meses, fechando com R$ 10,7 bilhões na posição de 30 de junho. Apesar da sangria com a saída dos fundos que migraram para a Truxt, a gestora garante que houve captação líquida em outros fundos, principalmente de renda variável diante da queda da taxa de juros. “Se não houvesse, nossa perda seria maior”.
Poppe afirma que não houve e nem deve haver mudanças na grade de produtos da gestora, à exceção dos fundos que foram para a Truxt e da reabertura de dois fundos que estavam fechados para captação, um multimercado e um que segue a estratégia ‘long and short’. “Para nós é uma continuidade do trabalho que já fazíamos”. Ele afirma que a governança da asset foi reforçada, com a criação de um comitê responsável pela gestão da empresa, além do comitê de investimentos que já existia e discute os produtos da casa. “Com o comitê gestor da asset queremos descentralizar e agilizar as tomadas de decisões, que ficarão sob a responsabilidade dos heads de cada área”, afirma o diretor. O comitê será composto por Poppe, head de ações, Abry, que é o COO, e Benisti, que comanda a estratégia macro.

Timing – Segundo o consultor da Aditus, Guilherme Benites, o momento é propício para o surgimento de novas gestoras independentes, à medida que, com a redução da taxa básica de juros, os investidores começam a se movimentar em busca de produtos mais sofisticados. “Existem muitos multimercados fechados e acho que o timing para a chegada da nova gestora foi muito bom”, analisa.
Segundo Tovar, a capacidade de gerir grandes volumes de recursos, tendo em vista a liquidez restrita de boa parte dos ativos do mercado brasileiro, sempre esteve entre suas preocupações. “Ao longo dos anos à frente da ARX sempre fechamos os produtos quando entendia que o volume poderia começar a incomodar a gestão, e continuaremos a fazer isso na Truxt”. Ele ressalta o desejo de manter uma grade simples de produtos, basicamente com a oferta dos mesmos fundos trazidos da antiga casa.
Além dos profissionais que vieram da Arx, outros já foram contratados e a Truxt conta hoje com um time de 25 nomes e a expectativa é agregar mais dez pessoas em todas as áreas. “Estamos sempre procurando talentos para serem incorporados”, diz Tovar. Segundo ele, a estratégia de crescimento visa alcançar uma base diversificada de clientes, com investidores do segmento private, atraídos por meio dos grandes distribuidores, e também os institucionais, tanto nacionais quanto estrangeiros.

Rating – Com a saída de Tovar e dos outros profissionais, a Arx teve seu rating de qualidade de gestão de investimento, considerado ‘forte’ pela Fitch, o segundo mais alto em uma escala com cinco níveis, colocado em observação negativa. De acordo com a agência, a observação negativa reflete o risco de que a saída dos executivos possa impactar os negócios da gestora, incluindo a performance dos fundos e o volume de ativos sob gestão. No entanto, Pedro Gomes, diretor da Fitch Ratings, aponta como ponto positivo o “importante suporte” que seu controlador tem fornecido para que a gestora contrate profissionais para recompor sua equipe”. De acordo com ele, “se a Arx não tivesse o apoio do BNY Mellon o impacto da saída dos profissionais seria bem maior”, diz.
Mas ainda é cedo para dizer se isso será suficiente para manter a performance dos fundos no mesmo padrão anterior, analisa Gomes. A Fitch deve seguir a evolução da situação da gestora até novembro para então decidir se retira a observação negativa ou rebaixa o rating da asset. “Eles trouxeram as pessoas certas e, ao menos em teoria, elas deveriam dar mais certo do que outras”, pondera. “Estamos acompanhando para ver se isso se confirma”.