O crescimento da área de investimentos digitais tem levado os grandes bancos a desenvolver áreas específicas para lidar com uma nova classe de investidores, formada geralmente por pessoas jovens que através de seus tablets e celulares querem ter acesso mais direto, mais fácil e mais barato às plataformas de alocação de recursos. Fintechs com diferentes focos, que vão de empréstimos diretos ao consumidor a investimentos no mercado de capitais, são lançadas quase que diariamente para disputar espaço com as tradicionais plataformas de negociação nesses mercados. “A dependência dos investidores em relação aos grandes bancos está diminuindo os poucos”, explica o novo executivo do BNP Paribas, Aquiles Mosca, contratado para coordenar a área de parcerias do banco com distribuidores não tradicionais.
Para Mosca, que deixou a gestão de recursos de terceiros do Santander há dois meses, o convite do BNP para coordenar essa área caiu como uma luva. Além de professor de finanças comportamentais na Fundação Getúlio Vargas (FGV) ele é também o responsável pelo Comitê de Educação do Investidor da Anbima, a associação que reúne os bancos de investimento e as empresas de gestão de recursos de terceiros. “Quando sai do Santander, há dois meses, tinha planejado me dedicar um pouco mais à área acadêmica, me dedicar a estudar os novos perfis de investidores”, diz. “O convite do BNP permite conciliar essas duas atividades, a acadêmica e a profissional”.
Segundo ele, que começa suas atividades no BNP ao final de julho, as novas funções na gestora de origem francesa estarão fortemente ligadas à área de educação financeira, que ele pesquisa academicamente há anos. “Nesse momento, uma forte revolução digital está acontecendo no mundo dos investimentos”, analisa. “Os bancos estão tentando entender essas mudanças para estabelecer novas formas de parcerias, novas formas de distribuição para seus produtos”.
De acordo com Mosca, essas novas formas de distribuição passam por parcerias com os canais de investimento que estão sendo criados no mundo digital, embora nem todos disponham de serviços de assessoria e de educação financeira adequados. “Não existe investimento sem orientação, sem assessoria, e é isso que a nova área do BNP quer disponibilizar a esses parceiros de distribuição não tradicionais”. Isso deve ser feito através de sistemas digitais que serão colocados à disposição desses parceiros, explica.
Ele dá um exemplo para mostrar como a área de orientação financeira ainda é precária e necessita de formas inovadoras para avaliar o perfil dos investidores. Nos questionários que são oferecidos aos investidores, entre as dezenas de perguntas que são feitas nunca existe uma resposta com a alternativa “não sei”, pondera Mosca. “Se existisse, tenho a certeza de que a maioria escolheria essa alternativa”, diz. “Na verdade, poucos entendem o conteúdo implícito das alternativas”.
A nova área de assessoramento à parcerias de distribuição não tradicionais, que já foi implementada pelo BNP Paribas em países europeus, chega agora no Brasil. “Não se trata de uma nova plataforma de distribuição, mas de sistemas de assessoria para que nossos parceiros de distribuição não tradicionais possam orientar mais facilmente os investidores”, explica Mosca. “E isso abrangerá tanto a área de investimentos quanto a área de previdência”.
Segundo ele, a negociação para sua ida para o BNP Paribas foi “relativamente rápida”. Entre as primeiras conversas e a decisão de aceitar o convite do banco francês se passaram pouco mais de 30 dias. “A área de educação financeira está no meu DNA, a proposta realmente veio de encontro aos meus interesses”, explica. Formado em economia pela Universidade de São Paulo (USP) e atuando no mercado financeiro há mais de 20 anos, ele começou sua vida profissional no ABN Amro em 1997, banco que foi comprado pelo Santander em 2007. Durante esses últimos 20 anos ele desenvolveu atividades nos times de produtos, análise econômica, gestão de fundos e comercial desse banco. Ao deixar o Santander, em maio passado, ele ocupava o cargo de head da área comercial do Santander Asset Management.