Edição 303
Uma série de assets têm lançado recentemente novos fundos de investimento no exterior para o público institucional, motivadas pelas mudanças regulatórias promovidas no início de 2018 pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e por uma Selic que, em sua mínima histórica, força os investidores a buscar ativos de maior risco. Aberdeen Standard Investments, BNP Paribas Asset Management e Apex Capital já adicionaram à prateleira novos produtos que investem em ativos internacionais, enquanto Santander Asset Management, Claritas, Franklin Templeton e BlackRock se preparam para ampliar a oferta de fundos globais em suas grades.
No entanto, diferentemente da primeira leva de cinco anos atrás, que priorizou fundos globais de renda variável sem o hedge do câmbio, desta vez os novos veículos são em sua maioria multimercados que contam com a proteção contra as oscilações do dólar.
Aberdeen e BNP Paribas são exemplos de gestoras que ampliaram a grade com multimercados globais com hedge cambial nos últimos meses. A Aberdeen lançou seu fundo em março, em parceria com a XP Gestão, casa que fica responsável por comprar até 95% das cotas do fundo da gestora britânica domiciliado no exterior e também responde pela distribuição do produto por meio de sua plataforma.
“Quando a Selic se aproximou dos 7%, a regulação ainda era muito restritiva e as fundações não conseguiram fazer um movimento expressivo para o exterior, mas agora estamos vendo um alinhamento perfeito das estrelas, com a queda dos juros e as mudanças regulatórias”, afirma o diretor da Aberdeen no Brasil, George Kerr.
Ele explica que, entre as alternativas no portfólio do fundo, estão estratégias consideradas ilíquidas no Brasil, mas de alta liquidez em mercados desenvolvidos, como ativos de infraestrutura. Entre as principais posições do fundo atualmente, cerca de 20% estão em ações globais, 20% em renda fixa de emergentes, 14% em ativos de infraestrutura, 5% em ativos imobiliários, 10% em produtos de securitização e 10% no segmento chamado ‘special opportunities’, que inclui investimentos pouco tradicionais como leasing da área de aviação.
Foco diversificado – Já a BNP Paribas Asset Management lançou, em maio deste ano, seu novo fundo multimercado de investimento no exterior para institucionais. A gestora tem em sua grade três produtos globais, todos de renda variável que não fazem o hedge cambial, mas analisando a demanda dos investidores lançou o novo produto com proteção contra a oscilação da moeda e sem foco em uma única classe de ativo, explica o head para institucionais, Eduardo Loverro.
O novo fundo da BNP Paribas segue uma estratégia que combina gestão quantitativa e fundamentalista e faz alocações dinâmicas nos mercados de ações, via índices, e de títulos públicos e privados dos Estados Unidos, Europa e Ásia, além de commodities. “Temos notado uma procura dos investidores por estratégias internacionais diferenciadas”, afirma Loverro.
Ele pondera, no entanto, que a despeito da combinação de juros em baixa e melhorias na legislação, ainda existem barreiras que precisam ser transpostas para que o investimento no exterior ganhe mais espaço. “Apesar de já ter subido bastante a Bovespa ainda segue com uma perspectiva positiva, e mesmo na renda fixa os juros ainda são muito elevados se comparados com os níveis dos países desenvolvidos, o que faz com que o exterior não se apresente como uma alternativa tão óbvia para os fundos de pensão”, diz.
No forno – Claritas e Franklin Templeton são outras duas casas que também planejam lançar nos próximos meses fundos de investimento no exterior da classe multimercados com hedge cambial. “Enxergamos a estratégia internacional que vamos trazer como concorrente dos multimercados locais”, comenta o diretor da Franklin Templeton, Luiz Pedrinha, que prefere não dar maiores detalhes sobre o novo produto.
No caso da Claritas, serão dois fundos geridos globalmente pelo Principal Financial Group, controlador da asset brasileira. O diretor comercial da gestora, Ernesto Leme, explica que um dos fundos é um híbrido entre renda fixa e renda variável, enquanto o outro tem liberdade para operar entre as diversas classes de ativos disponíveis no mercado global. “Estamos vendo com otimismo o desenvolvimento do mercado internacional no Brasil”, afirma Leme, acrescentando que os dois novos fundos devem ter o hedge do câmbio. Segundo o executivo, fundos no exterior sem o hedge cambial são vistos pelos investidores mais como uma oportunidade de operar o câmbio do que se expôr à ativos globais propriamente.
Por sua vez, o diretor da BlackRock, Rodrigo Araújo, conta que a gestora tem “interesse em ampliar cada vez mais sua plataforma de produtos, tanto com fundos que ofereçam a proteção cambial como com fundos que deem exposição ao câmbio aos investidores”.
Crédito – Também em busca de uma opção que fuja das mais tradicionais, a Santander Asset Management deve lançar até o início do segundo semestre de 2018 um novo fundo de investimento no exterior voltado para institucionais, com hedge cambial, que tem como estratégia alocar recursos em títulos privados de empresas da América Latina. “Para obter mais retorno não existe milagre, os investidores terão de tomar mais risco”, diz o CEO da gestora do Santander, Miguel Ferreira.
O executivo destaca o crescimento recente do mercado de crédito privado na América Latina, que passou de um estoque de US$ 165 bilhões em 2009 para os atuais US$ 585 bilhões. “Do total de bonds de mercados emergentes, 1/3 está na América Latina”, afirma Ferreira. Segundo ele, a média diária de negociação de títulos privados no Brasil é de US$ 57 milhões, e sobe para US$ 2,6 bilhões na América Latina, o que facilita as transações no mercado secundário em função da melhor liquidez.
Por conta da queda da Selic e da alta demanda dos investidores, os prêmios nos ativos de crédito do mercado local tiveram uma queda expressiva, diz o executivo, que ressalta a importância da diversificação para ativos em outras regiões. Segundo dados da Anbima apresentados por Ferreira, o retorno médio de títulos privados brasileiros de cinco anos com rating triplo A, que em dezembro de 2016 era de 1,08%, cairam para 0,38% em maio de 2018. Para títulos com ratings duplo A, a queda no período foi de 1,68% para 0,85%, e para títulos com rating A o recuo foi de 2,63% para 1,05%.
Parceria – Já a Apex Capital optou por fechar em abril uma parceria com a gestora americana Baron Capital, pela qual a asset brasileira vai distribuir localmente um feeder que vai comprar cotas do fundo de ações que segue a estratégia de ‘stock picking’ gerido em Nova York pelo CEO e fundador da empresa, Ron Baron.
“A intenção ao adicionar o fundo da Baron é oferecer uma prateleira mais completa de investimentos em ações que ajude os clientes a maximizar o retorno do portfólio com redução do risco”, diz o CEO da Apex, Diney Vargas.
Entre as posições do fundo da Baron se destacam nomes como a rede de hotéis Hyatt, a empresa tecnológica Tesla e o time de futebol Manchester United. “A princípio o fundo não terá o hedge do câmbio, mas se notarmos mudanças na preferência dos investidores poderemos fazer a proteção contra a oscilação da moeda”, afirma Vargas.