Edição 249
Enquanto o interesse dos fundos de pensão em investimentos no exterior vai aumentando, as dúvidas também vão se ampliando. Um evento organizado pelo BNP Paribas em São Paulo contou com a presença de cerca de 250 participantes (entre mais de 300 inscritos), a maioria profissionais de fundações e consultores. “Foi o maior número de inscritos que tivemos em eventos nos últimos anos”, diz Marcelo Giufrida, diretor presidente da BNP Paribas Asset Management. Para o executivo, a forte participação no evento é uma demonstração do interesse crescente dos fundos de pensão em aplicar recursos no exterior.
Mas se o interesse é crescente, ainda pairam muitas dúvidas sobre a melhor forma de realizar as primeiras aplicações em ativos e fundos internacionais. Uma delas é a utilização do recurso de hedge cambial. É melhor fazer ou não fazer o hedge para proteção do câmbio? Outra questão é a forma de diversificação dos recursos, quais os mercados e empresas mais adequados para promover a desconcentração dos riscos. Vale mais a pena investir em mercados emergentes ou nos EUA? E o risco de ruptura na Zona do Euro já passou ou ainda persiste? As dúvidas não são poucas, e uma das saídas dos especialistas para tentar minimizá-las foi apresentar experiências e informações de mercados em que os fundos de pensão já investem no exterior.
A maioria dos países que possui uma indústria de fundos de pensão desenvolvida já investe parte dos recursos no exterior. É o caso dos fundos de pensão do Chile, que mesmo com uma alta taxa de juros reais oferecida pelos títulos públicos do país, tem uma parte importante do portfólio investido no exterior. “O caso do Chile é de um país com um mercado de capitais pequeno. Então, apesar das taxas de juros altas, os fundos de pensão investem no exterior há mais de 15 anos”, diz Marko van Waveren, diretor global de relações com consultores do BNP Paribas. O tamanho da indústria de fundos de pensão é maior que o próprio mercado de capitais do país.
Situação semelhante é da Holanda, outro país com um mercado de fundos de pensão muito desenvolvido e de uma bolsa de valores limitada. O mercado holandês tem um agravante que é a taxa de juros real negativa, uma das menores do mundo. Mesmo em países com um mercado de capitais e de renda variável bem desenvolvido, como é o caso do Reino Unido (UK), os fundos de pensão não deixam de diversificar o risco para fora do país. “O caso do Reino Unido é interessante porque apesar de contar com um mercado de capitais grande, cerca de 25% do patrimônio dos fundos de pensão está aplicado em ações de empresas no exterior, contra 14% de ações de empresas domésticas”, diz van Waveren. Neste país não são apenas os grandes fundos de pensão que investem no exterior, mas também os pequenos e médios.
O caso do Canadá também é interessante porque passou por um processo de redução das taxas de juros reais. Em 1998 as taxas reais partiram de 8% até chegar a 1% em 2010. Os fundos tiveram que gradualmente diversificar as aplicações em direção a assumir maior risco, com opção de investir no exterior. A regulamentação dos fundos canadenses também foi ampliando os limites para os investimentos no exterior.
Hedge cambial – Atualmente quase 100% dos fundos de pensão canadenses possuem parte da carteira investida em ativos estrangeiros. E cerca de um terço desses fundos realizam hedge cambial. “É um número alto importante de fundos canadenses que utilizam hedge cambial, mas olhando mais atentamente, apenas 5% utilizam o hedge para toda a carteira no exterior”, diz François Racicot, diretor e consultor da Mercer no Brasil. Ele diz que em média, os fundos de pensão protegem 30% da carteira do exterior, deixando o restante sem hedge de moeda. “Deixar a carteira sem proteção cambial também faz sentido como fonte de retorno adicional. Faz parte da diversificação do risco”, diz Racicot.
A utilização do hedge cambial depende de outros fatores, como por exemplo, o custo. “Em países emergentes não costumamos recorrer ao hedge cambial pois o custo é muito alto”, diz Joost van Leenders, especialista em estratégia e alocação de investimentos do BNP Paribas.
As opiniões são diversas. O consultor chefe de investimentos da Towers Watson, Luiz Mário Monteiro de Farias, defende que faz sentido para os fundos de pensão brasileiros utilizar o hedge cambial para as aplicações no exterior. “Faz sentido proteger as aplicações pois o passivo das fundações é calculada em reais”, diz o consultor. Ele recomenda ainda que a seleção de ativos no exterior leve em conta a diversificação de ações de empresas de setores da economia com baixa representação na bolsa local. A diversificação é um dos atrativos para a aplicação em fundos no exterior.
Matriz de riscos – A experiência de fundos de pensão de outros países também foi apresentada no evento do BNP Paribas. Marko van Waveren disse que alguns grandes fundos de pensão dos EUA, da Europa e da Austrália estão utilizando uma nova matriz de riscos para classificar as carteiras de investimentos. “É uma divisão que não considera apenas as classes de ativos, mas que as aglutina de acordo aos riscos associados a cada uma delas”, diz o executivo.
É o caso do gigante CalPERS, dos servidores públicos da Califórnia, que vem utilizando a nova matriz para classificar suas carteiras e tomar decisões de investimentos. Por exemplo, o fundo de pensão considera a renda variável e os fundos private equity em uma mesma categoria de “crescimento”. Outros exemplos de fundos de pensão que utilizam a matriz de risco são o ATP (Dinamarca), o Alask Fund (EUA), o Qsuper (Austrália) e CalsTRS (EUA). Ele acredita que o modelo da nova matriz de riscos é uma tendência mundial entre os fundos de pensão mais adequada para a diversificação de risco nos mercados globais.
Alternativas – O BNP Paribas foi o primeiro gestor de recursos que atua no Brasil a lançar em 2009 uma linha de fundos de investimentos no exterior – Família Access. São três fundos de investimentos em ações: um deles que investe em ações de empresas dos EUA, outro em ações de mercados emergentes e um terceiro, em ativos de globais de baixa volatilidade.
Os fundos de pensão brasileiros ainda não estão aplicando recursos nestes fundos. “As fundações adiaram a entrada no segmento de investimentos no exterior de 2012 para este ano. Acho que de agora em diante devem começar a entrar”, diz Marcelo Giufrida. Ele acredita que algumas entidades devem entrar nos fundos de investimentos da asset já lançados, mas também diz que pode ser constituído um novo fundo voltado especificamente para um grupo definido de fundações.
Recentemente um grupo de 14 fundos de pensão liderados pela Previ (Banco do Brasil), Petros, Funcef (Caixa Econômica) e Valia começou a se reunir para estudar e selecionar algumas assets para estruturar fundos de investimentos no exterior. Nos últimos encontros foram chamados alguns gestores para apresentar propostas de gestão de fundos com ativos no exterior. Recentemente foram selecionadas três fundos no exterior (ver matéria pag. 43). Outra novidade recente é que a asset do HSBC também lançou uma família de produtos de investimentos no exterior (ver nota Marcação a Mercado). Assim como a família do BNP Paribas, os fundos do HSBC não são exclusivos para investidores institucionais.