Edição 233
Inflação acima do centro da meta, taxa básica de juros de um dígito e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na casa dos 3%. Esse é, em geral, o prognóstico de economistas e analistas para 2012, segundo pesquisa realizada por Investidor Institucional junto a 46 gestoras de recursos. Pela média, o mercado prevê ainda um Ibovespa no patamar dos 70 mil pontos ao fim do novo ano, o que já leva à conclusão de que a visão não pode ser chamada de otimista.
Um estudo recente feito pela equipe de economistas do Itaú, chefiada por Ilan Goldfajn, aponta que alguns fatores devem contribuir para um crescimento do PIB brasileiro de 3,5% em 2012. Entre eles está, além da redução contínua da Selic, uma série de incentivos que o governo vem anunciando – como a redução do IPI para produtos de linha branca, os impostos mais baixos no crédito ao consumidor e a eliminação do IOF de 2% sobre investimentos estrangeiros em bolsa e de 6% sobre aplicações em debêntures por investidores externos. No relatório, do fim do ano passado, a área macro do Itaú lembra que o Banco Central do Brasil também reduziu as exigências de capital sobre empréstimos ao consumo e desistiu de elevar o pagamento mínimo nos cartões de crédito.
“[Uma grande contribuição ao crescimento do PIB] virá do estímulo ao crédito (IOF mais baixo nos empréstimos e menos exigência de capital). As reduções de IPI também vão ajudar – mais ainda se, como em 2008, sua vigência for prorrogada. Em princípio, a janela se fecha em março de 2012”, afirma o estudo. Para os economistas do Itaú, todas essas iniciativas mostram um governo “preocupado com o crescimento e disposto a fazer mais se necessário”. “Proteger o crescimento em meio a uma desaceleração global significa manter a inflação no patamar atual, e perder uma oportunidade de levar a inflação para 4,5% – o centro da meta – em 2012”, indica o relatório.
Inflação – O estudo ressalva, porém, que a nova ponderação do IPCA, que já vale a partir de janeiro, levou à redução da projeção do índice para este ano. A equipe macro do Itaú explica que os novos pesos refletem o hábito de consumo capturado pela Pesquisa de Orçamento
Familiar (POF) de 2008-09. “Os resultados mostram, por um lado, que os consumidores agora gastam mais com produtos eletrônicos e automóveis. Ou seja, aumentou a participação de produtos manufaturados na cesta de consumo. Por outro lado, o peso de serviços caiu, principalmente devido ao menor gasto com educação e serviços de saúde”, detalha o relatório. Assim, os novos pesos fizeram com que o Itaú reduzisse sua projeção de IPCA para 2012 em 0,50 ponto percentual, para 5,25%. “Inflação mais baixa aumenta o conforto no uso dos instrumentos de política econômica para preservar o crescimento”, afirma o estudo.
Felipe Tâmega, sócio responsável pela área de pesquisa macroeconômica da Modal Asset, concorda que a mudança da POF vai ajudar para que a inflação venha mais baixa em 2012. “O peso dos itens que devem puxar o índice para baixo, como os industriais, aumentou. Além disso, a participação dos serviços na composição diminuiu. O efeito de alguns itens administrados também será reduzido, como no caso de educação, que costuma puxar a inflação para cima no começo do ano. Em 2012 essa pressão será menor, o que vai auxiliar a inflação a ser mais baixa no primeiro trimestre. Assim, vemos um índice de 5,5% no fim do ano”, afirma ele. Tâmega acrescenta outro fator que deve contribuir para uma inflação menor em 2012: a baixa atividade econômica mundial nos primeiros meses do ano.
“Ao contrário do que costuma acontecer, as commodities não devem dar um susto grande nesse primeiro trimestre, ajudando a manter o índice em patamares inferiores. Em 2012 as commodities não devem pressionar muito a inflação”, estima.
Tâmega ressalva, porém, que é preciso tomar cuidado com a inflação, principalmente de olho já no ano que vem. “No segundo semestre a economia deve registrar um bom crescimento, e a inflação nesse período já vai começar a influenciar o índice de 2013. Na nossa opinião, inflação será um problema no ano que vem. Partindo do princípio de que o mundo estará em um movimento de melhora no segundo semestre, a inflação será alimentada”, alerta.
Cenário global – Em relação ao mercado internacional, Tâmega aponta para uma desaceleração na China, que não chega a ser tão preocupante. “Mas ainda há uma possibilidade de a desaceleração ser mais forte do que o mercado está imaginando hoje, e inclusive esse é o nosso cenário para o primeiro trimestre. Achamos que, como o ritmo vai sofrer uma ruptura mais forte na Europa, os dados chineses de setor externo tendem a surpreender para baixo no primeiro trimestre”, justifica.
Ele ressalva, no entanto, que “o governo chinês já vem empreendendo uma política expansionista no sentido monetário, afrouxando algumas áreas de crédito e baixando compulsórios”, e esse movimento deve não só continuar, como se aprofundar daqui para a frente. “A inflação já vem caindo bem na China. Nós vemos que a margem de manobra do governo chinês continua relativamente grande. Por isso, apesar de enxergarmos um primeiro trimestre complicado, a China não vai ser um problema, mas sim continua sendo um ponto positivo no cenário externo”, aponta.
A parte do relatório da equipe macro do Itaú que trata do tema segue na mesma linha. “Continuamos a crer que a China está fazendo um pouso suave. Parte da desaceleração resulta de medidas adotadas pelo governo, especiamente no setor de construção. A inflação está cedendo. O governo pode acionar mais as políticas fiscal e monetária, se necessário. A posição externa do país continua sólida, a dívida das famílias é baixa, e o consumo tem potencial para crescer”, enumera o estudo. O relatório completa que a equipe rediziu um pouco sua projeção de crescimento para a China em 2012, de 8% para 7,8%, por conta da demanda mais fraca vinda da zona do euro. “Dados recentes mostram uma desaceleração mais intensa, puxada por exportações e construção. Dando sequência à política de ajuste fino da economia, o Banco Popular da China reduziu os compulsórios bancários. Embora Pequim pudesse até fazer mais para estimular o crescimento, em nossa visão optará por um crescimento menor, porém mais equilibrado. A resposta a uma crise externa visará apenas mitigar seu efeitos, e não anulá-los”, estima a equipe do Itaú responsável pelo relatório.
Para os Estados Unidos, Tâmega, da Modal Asset, também tem uma posição relativamente otimista. “Os resultados do quarto trimestre de 2011 estão vindo positivos, e esse é mais um sinal do ciclo de ‘restocagem’ que está acontecendo na economia norte-americana. Não ficamos tão otimistas com o primeiro trimestre de 2012, quando os dados devem ficar um pouco piores na margem de atividade, mas ainda em terreno positivo. De qualquer forma, não vemos nada de terror e pânico, com o segundo semestre um pouco melhor para Estados Unidos do que o primeiro trimestre estaria indicando”, afirma.
Tâmega também projeta um primeiro trimestre desfavorável para a Europa. “Os dados de atividade vieram fracos e a tendência é que continuem piorando. Não há no momento um catalisador de melhora. A tendência é que o cenário melhore apenas com uma possível desvalorização do euro frente às demais moedas”, estima ele.
Tâmega acrescenta que, dada a solução que está sendo proposta para a crise – de aumentar a integração fiscal e não relaxar o lado monetário -, só se consegue ver uma saída ou um catalisador de melhora por meio da moeda. “O euro deveria se depreciar frente às outras moedas e, com isso, trazer algum alívio para a atividade europeia via setor externo. Isso deve demorar para acontecer, porque o euro tem se mostrado resiliente e há muitos movimentos contraditórios”, pondera.
Resumidamente, Tâmega diz que o cenário com que trabalha é de um primeiro trimestre com eventos negativos de EUA e China, mas não com uma tendência ruim no médio prazo. “Em um prazo maior, o cenário é construtivo para os Estados Unidos e construtivo para China. No caso, da Europa, o primeiro trimestre é bem ruim, mas começa a melhorar devagar via setor externo ao longo do tempo, além de o lado financeiro também tender a apresentar paulatinamente uma melhora”, observa.
Para o Itaú, a projeção é de um dólar em R$ 1,75 para o final de 2012. “A tendência do euro é enfraquecer-se contra o dólar e, portanto, também em relação ao real”, afirma pesquisa macroeconômica da instituição do início deste ano.
O Itaú reduziu sua estimativa para o sado da balança comercial de US$ 15 bilhões para US$ 11 bilhões em 2012. Em 2011, o superávit foi de US$ 29,7bilhões. “O investimento estrangeiro direto provavelmente atingiu o elevado nível de US$ 65 bilhões em 2011; nossa expectativa é de um volume semelhante em 2012, permitindo financiar um déficit em conta corrente que esperamos em torno de 3,2% do PIB”, aponta o levantamento.
Salário mínimo – Na pesquisa mais recente, o Itaú lembra outro fator que deve contribuir para o crescimento da economia brasileira em 2012: o aumento do salário mínimo. “O novo salário mínimo de R$ 622 começa já a valer a partir de janeiro. O IPI mais baixo para linha branca deve vigorar até março. Ambos são parte fundamental do crescimento do primeiro trimestre. Depois disso, o salário mínimo terá efeito residual, enquanto o efeito do IPI deve se tornar negativo (seu efeito é quase todo de antecipação das vendas)”, aponta o texto.
As estimativas da instituição apontam que o aumento do salário mínimo (mais precisamente o aumento além do concedido no ano passado) vai adicionar 0,4 ponto percentual ao crescimento do primeiro trimestre e 0,6 ponto percentual no total em 2012. “Parte disso vem do efeito direto sobre aposentadorias, e parte do papel do salário mínimo como referência salarial na economia. Cerca de um quarto dos brasileiros – incluindo trabalhadores e pensionistas – tem renda igual a um salário mínimo, e muitos outros têm rendimentos de alguma forma vinculados a ele”, informa a pesquisa. No que se refere à redução do IPI, a estimativa é de um impacto em torno de 0,3 ponto percentual no primeiro trimestre – e descontada a redução de consumo após o fim da vigência do benefício, resta um impacto final de menos de 0,1 ponto percentual no crescimento de 2012. “Por outro lado, a desaceleração global ainda não foi inteiramente sentida no Brasil. Ela aparece na queda dos índices de confiança e no aumento dos estoques indesejados, mas ainda não nas exportações – de fato, o volume de exportações continua a subir. Estimamos crescimento de 0,8% para o PIB no primeiro trimestre de 2012”, diz a instituição.