Edição 358
A Trígono Capital, gestora criada em 2018 com foco em estratégias de small capps, tem hoje R$ 2,5 bilhões sob gestão, um volume que se manteve constante nos últimos dois anos apesar dos resgates generalizados ocorridos na indústria dos fundos de ações. Impulsionados por uma Selic em alta desde o início de 2021, os fundos de renda fixa canibalizaram recursos não só dos fundos de ações mas também dos multimercados. “A gente perdeu muitas pessoas físicas no período, mas compensamos com a entrada de vários institucionais”, afirma o sócio e CEO, Frederico Mesnik.
Os institucionais, e nesse caso Mesnik se refere especificamente aos fundos de pensão, representam hoje cerca de R$ 500 milhões do total sob gestão. Nesse momento, em que há uma mudança no ciclo de juros e a tendência é declinante, os institucionais devem ser os primeiros a carrearem os recursos novamente para os fundos de ações. “O institucional é um dos primeiros segmentos a voltar para o risco”, diz Mesnik. “Nosso objetivo é captar essa tendência da volta dos institucionais ao risco, esperamos que no médio prazo os institucionais venham a representar metade do nosso volume sob gestão”.
Ele conta, para isso, com a ajuda do acordo que a gestora firmou no final de junho com o a BB Asset, pelo qual terá seus fundos distribuídos na rede de varejo do BB, assim como nos canais do wealthy management e de seguridade. A marca BB deve funcionar como uma chancela para aproximar os institucionais da gestora, não apenas os fundos de pensão mas também os Regimes Próprios de Previdência (RPPS).
Os termos do acordo não foram divulgados, mas contemplam uma potencial participação acionária do banco público na Trígono. Na nota em que foi divulgada a parceria, é também informado que ela envolve uma nota conversível a ser exercida sob determinadas condições, que não foram informadas. “O acordo é uma parceria estratégica com várias cláusulas, como por exemplo a da nota conversível que foi tornada pública, mas não podemos divulgar as condições para ela ser exercida nem os valores ou as participações”, explica Mesnik.
Segundo ele, a Trígono ganha nesse acordo conquistando um parceiro de peso, com uma grande rede de varejo e canais que falam com o wealth management e a área de seguridade. Isso viabilizará a colocação dos atuais fundos da gestora junto aos investidores, além de alavancar novos fundos que estão no pipeline, não só de renda variável mas também de renda fixa.
Não é inédita a vontade da gestora de entrar na renda fixa. Depois de quatro anos operando com fundos de ações, a Trígono tentou em meados do ano passado entrar nessa classe, através de fundos de crédito, mas segundo Mesnik escolheu uma época errada. “Tivemos a falta de sorte de montar um fundo de crédito numa época muito ruim de mercado, então ele não teve tanta evidencia”, reconhece.
Enquanto seus fundos de ações acumulam resultados que vão muito além de seus benchmarks, seu primeiro, e por enquanto único, fundo de crédito, o Pulsar Blend, teve um retorno de 11,11% em 12 meses, até a última semana de julho, abaixo do seu benchmark de 13,58%. Situação muito diferente da exibida pelo Flagship Small Caps, fundo lançado pela gestora em abril de 2018, que acumula um retorno de 139% em 48 meses, contra 3,16% do seu benchmark (SMLL). O Delphos Income, outro fundo lançado pela gestora logo nos seus primeiros meses de vida, tem um desempenho semelhante, com um retorno acumulado de 191,14% em 48 meses, contra 39,65% do seu benchmark (IDIV).
Mesnik aposta que, com a parceria da BB Asset, um novo esforço na área de renda fixa trará melhores resultados. A Trígono deve lançar ainda em agosto dois novos produtos de renda fixa, o primeiro com foco em debêntures incentivadas e o segundo com 100% de Latam Bonds, em dólares. Além desses dois novos fundos que já estão no forno, a Trígono quer ampliar também sua prateleira de renda variável. “Os detalhes desses novos produtos estão sendo desenhados à quatro mãos, junto com a BB Asset. Precisamos avaliar se tem demanda por parte dos clientes do BB, se tem apelo na rede do banco”, explica.
Além de apostar nos canais do BB para ampliar a visibilidade da sua prateleira de fundos, tanto dos atuais quanto dos que estão no pipeline, a gestora também está ampliando sua equipe comercial. Está trazendo duas novas pessoas, o que dobra o tamanho da equipe, para fazer o relacionamento com empresas de assessoria de investimento, com plataformas como a XP, BTG Pactual e Easynvest, e com os segmentos de institucionais, incluindo fundos de pensão e RPPS. Também estão trazendo um diretor de marketing, com vinte anos de experiência no mercado, para ajudar na apresentação dos produtos e na sua divulgação.
A gestora tem atualmente um time de 27 pessoas, incluindo as três novas contratações, divididas em três áreas: a área de gestão, comandada por Werner Roger, que junto com Mesnik montou a Trígono em 2018, tem um diretor de crédito, cinco analistas e um trader; a área de operações tem um gerente operacional, um gerente de compliance, um gestor de risco e três pessoas do administrativo; e a área do CEO, que responde também pelo operacional, tem o pilar de inteligência de mercado, com duas pessoas, o pilar do marketing, com um diretor, um gerente e três analistas, e o pilar do comercial, com um diretor, um gerente e três analistas.
Se a parceria com a BB Asset traz vantagens para a Trígono, traz vantagens também para o outro lado. Na prática, a BB Asset ganha um braço especializado em renda variável sem ter que dispender esforços para isso, tanto financeiros quanto de contratação de profissionais e de desenvolvimento de produtos. “Nós passamos a ser o braço de renda variável da BB Asset”, diz Mesnik. “O banco ganha uma área pronta, com produtos com retornos muito consistentes, para oferecer à base dele”.
Além de oferecer essa base já montada à BB Asset, a Trígono colocou sobre a mesa uma segunda vantagem estratégica. Sua governança sobre empresas investidas, algo que tende a ser cada vez mais importante para o parceiro. “Nós somos uma gestora com uma estrutura de governança bastante sofisticada. Já temos, nas nossas investidas, 23 Conselhos indicados por nós, que representam os interesses dos nossos investidores”, explica Mesnik. “A asset do BB quer usar a nossa experiência, a nossa expertise, para se aprofundar nesse aspecto. Com a força que tem, pode fazer mais Conselhos e ter mais impacto sobre as empresas investidas por eles”.
Além disso, as duas casas vão passar a trocar experiências regularmente na área de gestão. Foi criado um comitê dessa área que se reunirá uma vez por mês para apresentar situações vividas por cada um e discutir as experiências, de forma a buscar soluções conjuntas e ter ganhos de performance na área. “O objetivo é aperfeiçoar as estruturas dos dois lados”.
A Trígono olha com alguma preocupação o que Mesnik chama de “oba-oba” do mercado de bolsa, que deve trazer uma valorização imediata para muitos fundos de ações posicionados em “papéis cíclicos”, vistos como beneficiados pela perspectiva da queda da taxa de juros. “São papéis que sobem no curto prazo, como shoppings, construção civil, tecnologia, além de empresas alavancadas que se beneficiam de juros mais baixos. Mas essas empresas não vão entregar bons resultados no próximo trimestre, porque a taxa de juros demora a chegar à economia real”, explica.
Segundo ele, uma empresa de shopping não vai vender mais produtos porque os juros caíram 0,5%. Da mesma forma uma construtora não venderá mais apartamentos por causa de uma queda dos juros dessa magnitude, ou uma empresa alavancada melhorará seus balanços por causa de juros 0,5% mais baixos. “Tem que haver uma queda estrutural e estabilizada no longo prazo para que os efeitos cheguem aos balanços dessas empresas”.
A consequência é que as cotas de muitos fundos que estão surfando na alta devem apresentar uma correção quando essas empresas apresentarem seus próximos lucros, que devem vir abaixo do esperado. “Tem papel sendo negociado a 100 vezes o lucro, mas no primeiro lucro que ele soltar o mercado corrige, no segundo lucro vai corrigir ainda mais”, afirma Mesnik. “Eles acabam devolvendo a esticada inicial que deram”.
Ele garante que a Trígono não tem esses papéis em carteira. “A gente zerou esses papéis na carteira no começo da pandemia”, afirma. Segundo ele, os fundos da gestora, que prioriza métodos fundamentalistas de análise de empresas, não possuem esses “papéis cíclicos” nas carteiras. “Olhamos o bottom-up. Para nós, a publicação dos balanços sempre foi muito benéfico, ainda mais num cenário positivo de queda dos juros”, afirma. “A gente tem tudo para performar muito bem nesse segundo semestre, mesmo sem contar com o oba-oba dos “papéis cíclicos”.
Entre os papéis que ele acha que devem performar bem no segundo semestre estão os da empresa de autopeças MetalLeve, beneficiada com o avanço do setor automotivo pesado de caminhões e máquinas agrícolas, a empresa de commodities Ferbasa, que deve se beneficiar da retomada das atividades na China, e a empresa de compressores Schulz.